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Candidatura de Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, conquista votos

postado em 26/04/2010 08:14
As eleições presidenciais na Colômbia se aproximam, e as últimas pesquisas de opinião dão uma má notícia para o presidente Álvaro Uribe: Antanas Mockus, do Partido Verde (PV), pode empatar tecnicamente com Juan Manuel Santos, do governista Partido Social da Unidade Nacional (conhecido como Partido da U). O primeiro turno está marcado para 30 de maio, mas, de acordo com o Centro Nacional de Consultoria (CNC), hoje Santos levaria 35% dos votos, enquanto Mockus ficaria com 34%. No fim da lista apareceram a ex-chanceler Noemi Sanín, do Partido Conservador (PCC), com 12%; Rafael Pardo, do Partido Liberal, com 5%; Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo (PDA), 5%; e Germán Vargas Lleras, da Mudança Radical, com 4%.

Se nenhum dos candidatos obtiver 50% dos votos mais um, haverá segundo turno em 20 de junho. De acordo com o mesmo estudo do CNC, Mockus venceria o tira-teima com 50% dos votos, contra 44% de Santos. O avanço da posição do ex-prefeito de Bogotá sobre o ex-ministro da Defesa também aparece em um estudo da Universidade de Medellín, divulgado na quinta-feira passada. Em fevereiro, Mockus tinha apenas 5% das intenções de votos, o que demonstra, para os analistas, que o candidato do Partido Verde soube aproveitar as redes sociais e a internet na campanha eleitoral.

O debate realizado pela TV Caracol e pelo jornal El Espectador em 11 de abril também serviu para diferenciar os principais candidatos à Presidência. Os seis concorrentes tiveram de marcar posições sobre o combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os elevados índices de corrupção estatal e as relações diplomáticas e comerciais com os países vizinhos, especialmente com a Venezuela. Santos prometeu continuar com o projeto de Uribe, de repressão à guerrilha e uma política econômica favorável ao livre- comércio. Mockus garantiu sua alta popularidade pela boa gestão à frente da capital, e enfatizou seus valores de ética e honestidade.

Venezuela
Em Caracas, o presidente Hugo Chávez considerou que Santos como presidente seria uma ameaça ao Equador, à Nicarágua e à própria Venezuela. ;Creio que o povo colombiano não deve gostar do presidente venezuelano interferindo nas eleições;, respondeu Santos, na terça-feira, em declarações a uma emissora de rádio do sul do país. Mockus, por sua vez, prometeu ter ;muita paciência; com a Venezuela e anunciou que pretende ;insistir o tempo todo na diplomacia clássica, que é a do texto escrito;.

O ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos (D) com o presidente Álvaro Uribe: promessa de continuidade não alavanca campanha de governistaOntem, Chávez voltou a atacar o ex-ministro. Em seu programa dominical, Alô, presidente, transmitido pela emissora oficial VTV, o venezuelano disse ontem que se Santos for eleito, poderá ;gerar uma guerra; e o instou a pedir ;desculpas; pelos ataques do Exército colombiano a um acampamento da guerrilha no Equador, em 2008.

O cientista político Germán Ayala Osorio, da Universidade Autônoma do Ocidente, em Cali, opina que Santos soube explorar sua posição de membro da família detentora de um dos maiores jornais colombianos, El Tiempo, ;um jornal que se diz liberal, mas que na verdade demonstrou ser de direita, conservador, apegado aos interesses do grande capital nacional e internacional;. ;A candidatura de Santos foi amadurecida com a edição de informação adiantada pelo El Tiempo;, destaca Osorio. O analista considera ainda que Santos ;é hábil para o mimetismo e se especializou com Uribe em armadilhas, tramoias e no uso da política para delinquir sem violar a lei;.

Osorio também defende que Mockus representa a decência na política, mas admite que o candidato do PV poderia ;resultar autoritário e até intolerante em momentos de grande pressão;. ;Se for eleito, o mais previsível é que as finas redes clientelistas deixadas por Uribe em oito anos, as máfias do narcoparamilitarismo e a ação direta de Uribe e Santos tentem criar condições de ingovernabilidade, com as quais assegurariam a vitória do uribismo no mandato seguinte;. Uribe sairá do cargo em 7 de agosto, depois de oito anos de governo e de o Tribunal Constitucional ter vetado a realização de um referendo que poderia ter permitido sua candidatura a um terceiro mandato.

Tragédia em cerco às Farc

Silvio Queiroz


Começou com um revés trágico e embaraçoso, festejado com ironia pelos inimigos, a megaoperação de caça determinada pelo presidente Álvaro Uribe na expectativa de capturar ou matar ainda em seu mandato o comandante máximo das Farc, Alfonso Cano ; nome de guerra do antropólogo Guillermo León Sáenz, que sucedeu em 2008 ao legendário camponês Manuel Marulanda, o Tirofijo. Na última terça-feira, um estranho choque entre dois helicópteros causou a morte de oito militares, entre eles o general Fernando Joya, que acabava de assumir o comando da Força Tarefa do Sul de Tolima, recém-criada justamente com a missão de encontrar o acampamento de Cano.

;A caçada começou mal para eles;, debochou o site da agência de notícias Anncol, tido como simpático à guerrilha. Além do general Joya, morreram na colisão dois coronéis, um deles designado chefe de operações da Força Tarefa, o outro comandante de uma brigada móvel contraguerrilha. O acidente ocorreu na localidade de Chaparral, em uma base que a Anncol aponta como ;gringa; ; referência às instalações cedidas por acordo para tropas americanas ;, e nas imediações da área onde cerca de 40 camponeses, liderados por Marulanda, fundaram as Farc em 1964.

A presença de Cano no sul do departamento de Tolima, a sudoeste de Bogotá, soa por si como afronta a Uribe e ao Exército. Há cerca de dois anos, com pompa e cobertura da mídia, as tropas oficiais entraram em Planadas, sede do município onde ficava o mítico povoado de Marquetália, em que Tirofijo comandou a resistência ao primeiro destacamento militar enviado pelo governo. Em 2008, confiante com uma sucessão de reveses impostos às Farc ; e com a morte de Marulanda ;, o presidente anunciou a ;reconquista; da região. A captura ou morte de Cano, que teria escapado por pouco, seria questão de tempo. Em março passado, porém, o chefe guerrilheiro teria sido avistado novamente na zona rural de Planadas.

Especulações
;Como é possível que o helicóptero do Exército tenha arremetido contra o outro em que viajava o general?;, questionou a Anncol, sugerindo que a versão oficial estaria encobrindo ;outros motivos; para a colisão, ocorrida em seguida à decolagem de ambos os aparelhos, em condições atmosféricas normais. A insinuação de que o descontrole possa ter sido consequência de uma sabotagem ou outro tipo de ataque somou-se a outro questionamento: por que o comandante da nova unidade militar viajava no helicóptero de uma companhia privada, em companhia dos dois principais oficiais sob seu comando?

Em meios da oposição de esquerda, a mera criação da Força Tarefa do Sul de Tolima ; com jurisdição para operar também nos vizinhos departamentos de Cauca e Vale do Cauca ; seria a confissão velada de que o Exército enfrenta uma resistência inesperada. Nessa área se registraram, em 2009 e início de 2010, numerosas ações de combate de iniciativa da guerrilha, inclusive ataques a guarnições e incursões em áreas urbanas, em alguns casos com a mobilização de colunas com duas centenas de rebeldes (ou mais). A aparente ressurgência das Farc na região sob comando direto de Cano explicaria a concentração de reforços militares na reta final para a eleição.

No fim do ano passado, o presidente ordenou a transferência para Popayán, capital do Cauca, da sede da Terceira Divisão do Exército, com o deslocamento de mais 2.500 efetivos. No fim de março passado, em meio a uma campanha de bombardeios sobre o norte do Cauca, sul de Tolima e sudoeste do Vale do Cauca, Uribe liderou um conselho de segurança em Ibagué, capital de Tolima, depois que as Farc promoveram uma sequência de ataques à força pública. Explicitamente, ele ordenou aos oficiais que multiplicassem os esforços para localizar Cano antes da passagem de poder, prevista para agosto. ;Restam 139 dias e 139 noites, meus prezados generais. Vamos dar duro para encontrá-lo! Espero que antes do fim deste governo a operação dê melhores resultados;, assinalou.

Perfis
Juan Manuel Santos, Partido da U


O jornalista e economista de 59 anos, formado nos Estados Unidos e no Reino Unido, já foi ministro de três presidentes. Respondeu pela pasta do Comércio Exterior durante o mandato de César Gaviria, em 1991; ocupou a da Fazenda no governo de Andrés Pastrana, em 2000; e foi ministro da Defesa no governo de Álvaro Uribe, de julho de 2006 a maio de 2009. Pertence a uma família influente: o jornalista Enrique Santos, seu avô; e Eduardo Santos, tio-avô, eram donos do jornal El Tiempo, até hoje sob controle da família. É primo do candidato em primeiro grau do atual vice-presidente, Francisco Santos Calderón.

À frente das Forças Militares e com a colaboração das agências americanas de segurança, Santos provocou baixas significativas nas Farc, com a morte de comandantes guerrilheiros como Negro Acacio e Martín Caballero, sem falar no ;chanceler; Raúl Reyes e em outro integrante do alto comando, Iván Ríos, ambos abatidos em 2008. No mesmo ano, o então ministro da Defesa colheu os louros da libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, de três americanos e 11 militares e policiais que estavam em poder da guerrilha, em uma ação militar chamada de Operação Xeque, com forte apelo na mídia.

Os escândalos em torno da política de Segurança Democrática de Uribe, batizado de ;falsos positivos;, respingaram em sua imagem. Foram encontrados em valas comuns os corpos de desaparecidos que os militares contabilizaram como baixas das Farc, uma irregularidade que se repetiu em diferentes regiões do país, estimulada pelo pagamento de recompensas e atribuição de ;pontos; em uma escala de mérito. Mais recentemente, Santos se viu, como Uribe, às voltas com denúncias sobre espionagem contra adversários políticos e magistrados das cortes superiores.


Antanas Mockus, Partido Verde (PV)

O filósofo e matemático de 58 anos, filho de imigrantes lituanos, foi eleito duas vezes prefeito de Bogotá, nos períodos de 1995 a 1998 e de 2001 a 2004. Em sua gestão, Mockus criou ;o dia sem carros; e ;a noite sem homens;. O primeiro projeto, voltado para o meio ambiente e aplicado até hoje, incentiva os moradores a deixarem o automóvel na garagem e se deslocarem a pé, de táxi ou de bicicleta. O segundo comemorou em 2001 o Dia Internacional da Mulher de maneira inusitada. Das 19h30 à meia-noite, os homens foram ;proibidos; de acompanhar namoradas, esposas ou amigas nas ruas. A ideia era mostrar como as mulheres se comportam melhor que os homens. É de Mockus também a implantação do Transmilênio, sistema integrado de transporte coletivo que facilita o trânsito dos ônibus, inspirado no modelo de Curitiba (PR).

Em campanha para presidente, Mockus afirmou que, se os eleitores lhe garantirem a vitória no primeiro turno, poderia ;economizar o segundo turno e com isso daria para instalar 20 colégios nos lugares mais necessitados do país;. Ele também revelou ter sido diagnosticado com o mal de Parkinson, mas destacou que, segundo seus médicos, terá 12 anos de saúde física e mental, o bastante para cumprir até dois mandatos como presidente.

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