postado em 28/04/2010 07:59
Em meio a uma crise energética e a mais um embate com a Colômbia, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, chega hoje a Brasília para reunir-se com o companheiro Lula. O visitante deve pedir ajuda para enfrentar os problemas de fornecimento de eletricidade, além de revisar assuntos bilaterais e regionais. Nos últimos dias, no entanto, o atrito com o presidente Álvaro Uribe, que acusa o vizinho de tentar interferir na eleição presidencial de maio ; Chávez falou em perigo de guerra, caso vença o preferido de Uribe, o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos ;, tem roubado a atenção dos problemas internos da Venezuela.;É uma ofensa ao povo colombiano que um governo estrangeiro tente coagir sua livre vontade política para eleger o próximo presidente da República, com intimidações de guerra;, protestou Uribe, em declaração divulgada por seu gabinete. A chancelaria de Bogotá reforçou o contra-ataque: ;O governo da Colômbia considera inaceitáveis os comentários do governo da Venezuela sobre a campanha eleitoral colombiana, que violam o princípio básico universal de não intervenção nos assuntos internos de outros países;.
;Santos, se for presidente, poderá gerar uma guerra nesta parte do mundo;, disparou Chávez no domingo, em seu programa semanal de TV, o Alô, presidente. Na noite de segunda, o presidente venezuelano negou ter preferências na sucessão de Uribe, mas alertou que, se Santos vencer, será ainda mais complicado retomar as relações bilaterais. Contatos diplomáticos e comerciais estão congeladas desde meados de 2009, quando Uribe fechou acordo para que os Estados Unidos possam operar em sete bases militares colombianas. Porém, o ex-ministro da Defesa garantiu que, se eleito, procurará Chávez para ;aparar arestas;.
O líder venezuelano provocou o candidato, no último domingo, a pedir desculpas pelo bombardeio contra um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Equador, em março de 2008 ; incidente que levou também ao rompimento com Quito. ;O senhor Santos é um lobo que mandou atacar e invadir o Equador (...) e diz que está orgulhoso;, criticou. ;Se quer ser presidente, tem que começar dizendo ;me enganei; e pedindo desculpas;, ressaltou o presidente.
Reunião
No encontro de hoje, que faz parte das reuniões trimestrais mantidas desde 2007, Lula e Chávez devem abordar a evolução dos programas de cooperação nas áreas de indústria, agricultura, desenvolvimento urbano, serviços bancários e integração das fronteiras. Segundo comunicado do Itamaraty, os dois presidentes também pretendem estimular o intercâmbio de experiências sobre programas sociais.
Os líderes devem ainda conversar sobre a próxima cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), prevista para 4 de maio, na Argentina. A agenda do encontro prevê a escolha de um secretário-geral permanente, cargo para o qual se candidata o ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Lula e Chávez tinham dito, no ano passado, que apoiariam o marido da atual presidenta, Cristina Kirchner.
Onda verde na Colômbia
Em apenas dois meses, um salto de 33 pontos nas pesquisas. Ex-prefeito de Bogotá, o matemático e filósofo Antanas Mockus, candidato do Partido Verde (PV), já lidera a corrida presidencial na Colômbia. Com 38% dos votos, Mockus, que promete ;decência; ao país, abriu larga vantagem em relação ao candidato da situação, o ex-ministro Juan Manuel Santos, seu principal adversário, que ficou com 29% na sondagem feita pela empresa Ipsos-Napoleón Franco.
;Está funcionando e ganha força própria;, reagiu Mockus. Em fevereiro, ele contabilizava 5% das intenções de votos para o primeiro turno das eleições de 30 de maio. Há duas semanas, detinha 20% contra 30% de Santos. Se nenhum candidato obtiver a metade mais um dos votos, o segundo turno será realizado em 20 de junho. Nesse cenário, a pesquisa ; com margem de erro de 4,5% ; dá a vitória a Mockus com 58% dos votos. Santos tem ficaria com 37%.
A força da onda verde é enorme e impressiona analistas. ;Isto nunca havia acontecido, ainda estamos tentando entender esse fenômeno;, disse León Valencia, diretor da Corporação Novo Arco-íris. A partir de agora, tudo vai depender da estratégia de Santos, avaliam os especialistas.