postado em 28/04/2010 08:00
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, aproveitou o canal aberto com Teerã para pedir a Mahmud Ahmadinejad que seja flexível em uma negociação com o Ocidente e apresente garantias de que seu programa nuclear não tem fins militares. Após o encontro com o presidente iraniano, ele se disse ;otimista;, por ter percebido em Ahmadinejad um ;interesse em dialogar;. Amorim criticou mais uma vez a adoção de sanções, que, segundo ele, seriam ;estéreis;. Em Brasília, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, revelou que o governo está de olho no desenrolar das ações tomadas pelo Ocidente em relação a Teerã, para que não se repita o que aconteceu no Iraque, com efeitos ;muitíssimo superiores;.;O Irã deve poder ter atividades nucleares pacíficas, mas a comunidade internacional deve receber garantias de que não ocorrerão violações e desvio (da tecnologia) para fins militares;, disse o chanceler brasileiro em uma entrevista coletiva, no segundo dia de visita ao Irã. Segundo ele, ;às vezes existem dúvidas;, e é preciso que todas as ;ambiguidades; sejam eliminadas. Para ele, no entanto, não só o regime islâmico tem de se empenhar para que as conversas avancem. ;Como qualquer outra negociação deve haver flexibilidade dos dois lados. Não podemos chegar a um ponto se não houver negociação, se uma das partes só ameaçar com sanções e a outra simplesmente disser ;não quero;;, declarou Amorim.
O ministro brasileiro, contudo, disse ter percebido boa vontade de ambos os lados. ;As conversas em Teerã foram profundas, complexas, não definitivas, mas saio daqui mais otimista;, relatou. Mais tarde, ele disse que os Estados Unidos ainda não esboçaram nenhuma posição que induza o governo brasileiro a ;abandonar os esforços;. ;Ao contrário, (os americanos) acham que é útil;, assegurou. Segundo a agência France Presse, Amorim também disse, em entrevista à agência iraniana Irna, que o governo Lula está disposto a estudar a possibilidade de uma troca de urânio no território brasileiro, mas que isso ainda não foi pedido ao país.
[SAIBAMAIS]O governo brasileiro sustenta que um dos maiores problemas na negociação entre o Irã e o Ocidente é a falta de confiança entre as partes, o que poderia ser resolvido com o envolvimento de um terceiro país no processo de troca de urânio. O mais indicado, tanto pela proximidade física quanto política com o Irã, seria a Turquia. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, contudo, não demonstrou até aqui muito interesse pela opção.
Pasta de dente
Em audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo está advogando em prol de uma solução negociada com Teerã para impedir um resultado desastroso. ;Um ataque ao Irã teria efeitos muitíssimo superiores a da ação contra o Iraque nos anos 1990 e 2000. O Irã não é o Iraque. O Irã tem uma enorme irradiação na sua região;, observou Garcia. Para ele, o problema é que, quando se começa ;um determinado movimento; em relação a um país, às vezes é difícil pará-lo. ;Você não consegue pôr de volta a pasta de dente para dentro do tubo. Empurrar para fora é muito fácil;, comparou o assessor, afirmando que, no caso do Irã, ;a tampinha; do tubo já foi aberta.