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Petróleo que vazou de plataforma no Golfo do México se aproxima do Mississippi e ameaça cinco estados

Barack Obama promete não medir esforços e suspende licenças para novas áreas de exploração

postado em 01/05/2010 07:00
Considerado o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, o vazamento de petróleo no Golfo do México atingiu na noite de quinta-feira o estado da Louisiana e ontem se aproximava da foz do Rio Mississippi, com risco de danos inestimáveis para a flora e a fauna da região. O governo (1) norte-americano ampliou os esforços para evitar que a mancha de petróleo afete praias e refúgios de vida selvagem no litoral. Além da Louisiana, que já entrou em situação de emergência, podem ser prejudicados os estados do Mississippi, do Alabama, do Texas e da Flórida ; onde algumas áreas já estão em alerta. A ;maré negra;, provocada pela explosão em uma plataforma de petróleo, pode contaminar as praias e zonas pesqueiras, essenciais para a economia local. Segundo a agência de notícias Reuters, o presidente Barack Obama prometeu ;usar todo e qualquer recurso disponível;, além dos militares já mobilizados, para conter o vazamento.

O governador da Louisiana, Bobby Jindal, pediu ao Departamento de Defesa que forneça dinheiro suficiente para mobilizar até 6 mil soldados da Guarda Nacional, que ajudarão em um eventual trabalho de limpeza das áreas afetadas. Charlie Crist, governador da Flórida, seguiu a decisão de Jindal e declarou estado de emergência nos condados de Escambia, Santa Rosa, Okaloosa, Walton, Bay e Golfo, que ficam no noroeste do estado e são os mais expostos. Desse modo, a Flórida também vai receber ajuda do governo federal para combater uma eventual catástrofe, considerada ;de importância nacional; pela secretária federal de Segurança Interna, Janet Napolitano.

A British Petroleum, que opera a plataforma onde ocorreu a explosão de uma sonda de perfuração, no último dia 20, assumiu ;plena responsabilidade pela maré negra;, em declaração de seu porta-voz à agência de notícias France Presse. A mancha de óleo alcançou rapidamente a foz do Mississippi, apesar dos esforços da empresa petrolífera e da Guarda Costeira. Navios conseguiram cercar com barreiras flutuantes parte da camada de petróleo, para atear fogo e evitar que alcance outras áreas da costa. No entanto, incendiar a mancha traz novos problemas ambientais, já que provoca grandes nuvens de fumaça negra tóxica e deixa resíduos oleosos no mar. A Marinha afirmou que fornecerá à guarda botes infláveis e sete sistemas de ;escumadeiras; para tentar conter outras partes do óleo derramado. Serviços de proteção ambiental vêm tentando proteger as espécies animais ameaçadas, como peixes e aves.

[SAIBAMAIS]O Departamento de Saúde de Hospitais da Louisiana alertou aos habitantes do litoral de que ;poderão detectar um cheiro forte, possivelmente por causa do vazamento;. As autoridades garantiram que estão preparadas para ;tomar qualquer ação medida apropriada para proteger a saúde e a segurança públicas;.

De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa, na sigla em inglês), o poço sob a plataforma que explodiu está vertendo no mar mais de cinco mil barris (800 mil litros) de petróleo por dia. Essa quantidade é cinco vezes maior do que a estimada anteriormente pela organização. A BP admitiu enfrentar dificuldades para conter o vazamento, uma vez que o poço está mais de 1,5km abaixo da superfície do mar, destacou a agência Reuters. A empresa pediu ao Pentágono para usar imagens militares e veículos teleguiados a fim de tentar estancar o vazamento.

Deepwater Horizon
A plataforma que originou a catástrofe, chamada Deepwater Horizon, tinha 2,6 milhões de litros de petróleo armazenados quando explodiu. Operada pela BP, mas pertencente à companhia suíça Transocean, a plataforma ; que extraía cerca de 1,27 milhão de litros por dia ; afundou em 22 de abril, após ficar dois dias em chamas.

O desastre causou a morte de 11 trabalhadores e é considerado o mais grave do tipo em quase 10 anos. Ações da companhia britânica e de outras empresas que atuam no mesmo poço despencaram.

1 - Obama joga duro

Martelado durante a campanha pelos republicanos, que o acusaram de dificultar a exploração de petróleo por razões ambientais, o presidente Barack Obama disse ontem que a exploração de petróleo é crucial para a estratégia energética dos Estados Unidos, mas ponderou que o manejo deve ser sempre responsável. ;Continuo pensando que a produção petroleira desempenha um papel importante na nossa estratégia de segurança energética, mas sempre deveria ser responsável pela segurança dos funcionários (do setor) e pela proteção do meio ambiente;, disse Obama, em discurso nos jardins da Casa Branca. ;A economia local e a vida das pessoas na costa do Golfo, assim como todo o ecossistema da região, estão em jogo;, advertiu Obama. O presidente confirmou na ocasião uma informação do porta-voz Ben LaBolt sobre a suspensão de novas autorizações para exploração de óleo no país até que o acidente com a British Petroleum seja completamente esclarecido. ;Vamos assegurar que nenhuma licença seja expedida sem conter as precauções de segurança exigidas.;

Contra a maré negra

Autoridades norte-americanas e a companhia petrolífera BP (British Petroleum) tomaram diversas medidas para combater a mancha de óleo

BLOQUEIO DOS VAZAMENTOS

A prioridade dos trabalhos de socorro é deter o vazamento nos poços de petróleo, fechando a fonte do bloco obturador (válvula de segurança destinada a controlar a pressão), situada no fundo do mar, a cerca de 1.500m de profundidade. Quatro dispositivos submarinos robóticos vêm sendo usados na tentativa de fechar a válvula, sem sucesso. No total, foram detectados três vazamentos no nível do poço e ao longo do tubo que o une à plataforma Deepwater Horizon, e que deixam escapar até 800 mil litros de petróleo por dia.

REDOMA NO FUNDO DO MAR
Uma enorme ;tampa; em forma de cúpula está em construção para bloquear os vazamentos. O dispositivo será colocado no fundo do mar para recuperar o petróleo que vazar, antes de retirá-lo através de um tubo para os barcos. A construção pode levar entre duas e quatro semanas.

PERFURAÇÃO DE POÇOS DE APOIO
A companhia petrolífera BP, que explorava a plataforma acidentada, considera perfurar poços de apoio para reduzir a pressão no duto existente. Isso também permitiria injetar um reboco especial para tampar definitivamente o poço. A operação pode durar de dois a três meses.

BARCOS NA SUPERFÍCIE
Setenta e seis barcos recuperaram, até agora, 3,2 milhões de litros de uma mistura de petróleo e água do mar. As embarcações lançaram 370 mil litros de produtos químicos dispersantes

QUEIMAS CONTROLADAS
Equipes de socorro incendiaram, na quarta-feira, uma mancha de petróleo contida por diques para impedir que se aproximasse da costa. As autoridades esperam que a maré se acalmasse para fazer outros incêndios controlados

DIQUES FLUTUANTES
Estão espalhados por 50km para proteger as zonas costeiras mais frágeis. Outros150 km podem ser dispostos, mas a circunferência da mancha ontem era de 960km

PESSOAL EM TERRA
Segundo a Casa Branca, 1.178 pessoas foram mobilizadas para proteger as zonas costeiras

MEIOS AÉREOS
A Força Aérea norte-americana destinou dois aviões de transporte militar C-130, equipados com sistemas para espalhar a mancha

Fontes: Guarda Costeira, Força Aérea, Casa Branca e BP.

; Desastres históricos
Confira os maiores acidentes com petróleo

1967
O Torrey Canyon, um dos primeiros supertanques (ou superpetroleiros) do mundo, bate em um recife e despeja 117,3 milhões de litros na costa sudoeste do Reino Unido

1978
A embarcação Amoco Cadiz encalha na costa da França, derramando 261,2 milhões de litros de petróleo no Oceano Atlântico

1979
O Ixtoc I, um poço exploratório de petróleo na Baía de Campeche (porção sul do Golfo do México), sofre uma explosão e despeja 530 milhões de litros no Golfo

1979
Um navio petroleiro grego bate em outro navio durante uma tempestade. O acidente ocasiona um derramamento de 340 milhões de litros de petróleo próximo a Trinidad e Tobago

1983
Um cargueiro atinge uma plataforma de petróleo na costa iraniana. A estrutura afunda no mar e 302,8 milhões de litros se espalham pelo Golfo Pérsico

1983
Um incêndio no navio Castillo de Bellver queima a sua carga de quase 300 mil litros de petróleo na costa da África do Sul

1989
O navio petroleiro Exxon Valdez naufraga no Estreito de Prince William, causando o maior derramamento da história dos Estados Unidos: 40,9 milhões de litros de petróleo. A mancha se espalha rapidamente por 28 mil quilômetros quadrados

1991
Uma ataque das forças iraquianas a instalações no Kuwait, durante a Guerra do Golfo, causa o maior derramamento de petróleo da história: 1.968,4 milhões de litros

Barack Obama promete não medir esforços e suspende licenças para novas áreas de exploração

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