postado em 02/05/2010 09:50
Há uma semana, o consulado do Brasil em Los Angeles levou seu posto itinerante para Phoenix, capital do Arizona, como regularmente faz nas áreas que estão sob a sua jurisdição. Entretanto, dessa vez, o que chamou a atenção dos funcionários da representação foi a quantidade de brasileiros que manifestaram a vontade ou mesmo confirmaram a decisão de voltar ao Brasil. O motivo é a aprovação, no estado, da Lei n; 1.070, que torna criminosos os imigrantes que estejam em situação irregular no país. Apesar de só entrar em vigor dentro de três meses, a severa lei, assinada há uma semana pela governadora Jan Brewer, já conquistou opositores em todo o país, motivou pedidos de boicote ao estado e gerou reações de vários governos, como os do México e do Equador.O Arizona é o quinto maior estado com imigrantes ilegais dos Estados Unidos: cerca de 500 mil dos quase 12 milhões estimados em todo o território americano. Segundo o instituto Pew Hispanic Center, nove em cada 10 pessoas em situação irregular no estado que faz fronteira com o México têm origem nesse país. Os brasileiros ; entre os que têm e não têm documentação legal ; no Arizona somam entre 5 mil e 7 mil, segundo o Itamaraty. A maioria deles vive na chamada Grande Phoenix, em cidades como Chandler, que possui 240 mil habitantes.
É o caso do pastor Paulo*, que mora há dois anos em um subúrbio. Mesmo em situação regular no país, o religioso relata como o clima na região ficou mais tenso desde a aprovação da lei, no último dia 23. ;Conheço pessoas que têm e que não têm documento. Estão todas com muito medo dessas novas regras, porque já há uma forte represália por parte da polícia, mesmo com o pessoal que está legal;, conta. Ele relata que conhece pelo menos três famílias que já decidiram deixar o Arizona rumo a outros estados desde que a lei foi aprovada. ;Uma família, inclusive, ficou dividida, porque um dos cônjuges, que estava regular, quis ficar, e o outro, não;, afirma.
A nova legislação torna crime estadual a presença de um imigrante ilegal no Arizona e permite que qualquer pessoa seja abordada na rua por policiais comuns, se eles suspeitarem de que ela não tem permissão para estar no país. A temida SB1070 também prevê sanções para quem empregar ou facilitar a vida de imigrantes sem documentação. ;Já tem um tempo que não se empregam ilegais, porque todo empresário exige a apresentação do seguro social. Quem está aqui ilegal trabalha por conta própria. Mas essa lei vai prejudicar até mesmo os brasileiros que querem ajudar os que ainda esperam a documentação;, explica Carla*, que mora há 10 anos nos EUA e possui cidadania.
A paulista de 35 anos, que trabalha em um asilo no subúrbio de Phoenix, prevê um quadro caótico no estado quando a lei, de fato, entrar em vigor. ;Eu conheço gente que nem está saindo de casa, com medo de já ser abordada nas ruas, no supermercado. Hoje, quem não tem documentos fica com medo de bater o carro ou precisar parar na estrada e ser abordado pela polícia. Imagina quando a lei começar a valer?;
Abuso potencial
Na última sexta-feira, o cônsul-geral do Brasil em Los Angeles, José Alfredo Graça Lima, se reuniu com representantes de outros países latino-americanos que possuem população expressiva no Arizona para discutir a nova lei. Apesar de afirmar que as comunidades brasileiras ;têm consciência de que as leis locais devem ser respeitadas;, Graça Lima disse que as novas regras geram preocupação pela ;capacidade de infringir direitos humanos e civis, além de implicar potencial abuso de poder;. ;Causa estranheza também que um tema de natureza federal possa ser abordado por legislação estadual;, disse o diplomata, completando que acredita na aplicação de uma ação federal para que a lei ;não prospere;.
Os brasileiros que vivem no resto do país também se manifestaram. O Grupo Mulher Brasileira (GMB), com base em Massachusetts, foi um dos que encamparam a ideia da marcha ;Todos Somos Arizona;, realizada ontem em diversas cidades. ;Marche pelos direitos dos trabalhadores e por uma reforma da lei de imigração justa e abrangente. Nunca antes seu apoio foi tão necessário;, conclamava o site do grupo. Até o fechamento desta edição, a marcha não havia sido concluída.