postado em 02/05/2010 10:01
A região em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se encontrar com o colega paraguaio, Fernando Lugo, é uma das que mais requer atenção das autoridades brasileiras. É de Pedro Juan Caballero que sai parte das drogas e das armas que chegam ao Brasil. A cidade fica próxima a vários pequenos municípios de Mato Grosso do Sul, área muitas vezes usada para o escoamento do narcotráfico. Nas imediações da capital do estado paraguaio de Amambay residem muitos brasiguaios ; o centro das atenções na crise vivida pelo país vizinho, que resultou na decretação de estado de exceção e no atentado ao senador governista Robert Acevedo, no qual morreram o motorista e um segurança do político.A fronteira entre o Brasil e o Paraguai foi uma das mais procuradas por traficantes brasileiros, há vários anos. Não apenas pela facilidade de movimentação da droga, mas também pela facilidade de se esconder. A produção da maconha abastecia 80% do consumo brasileiro. A cocaína vinha principalmente da Bolívia, que também faz fronteira com o Paraguai. O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, chegou a ter terras na região de Capitão Bado, próxima à propriedade de uma família de criminosos de Mato Grosso do Sul, que foi quase toda dizimada devido à concorrência com grupos rivais.
Com a fuga de Beira-Mar para a Colômbia, onde se aliou às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o tráfico passou a ser dominado por grupos locais ; alguns deles ligados a movimentos contrários ao governo, como o Exército do Povo Paraguaio (EPP). O atentado a Acevedo, antes atribuído a uma facção criminosa que age a partir das cadeias brasileiras, segundo autoridades da área de inteligência do Brasil, foi um exemplo de domínio do narcotráfico da região. ;Em nossas investigações, não encontramos histórico de atuação da facção criminosa fora do Brasil;, afirma um assessor do governo brasileiro. ;O máximo que observamos foi a ida de criminosos negociar droga do outro lado da fronteira;, acrescenta a fonte.
Novos sem-terra
Segundo a PF, os resultados dos acordos entre os dois países têm sido positivos, com o crime organizado migrando para outras regiões, como a Bolívia. A PF ofereceu à Secretaria Nacional Antidrogas paraguaia financiamento de ações de erradicação da maconha, apoio logístico e observadores. Mais recentemente, foi montada a Operação Sentinela, para fiscalizar toda a fronteira brasileira, inclusive nas áreas tensas próximas a Pedro Juan Caballero.
Do lado brasileiro, além da tensão com a crise paraguaia e as retaliações com os brasiguaios, persistem o problema do narcotráfico e questões sociais. Às margens das rodovias, centenas de pessoas despejadas de suas terras no Paraguai juntam-se a acampamentos de sem-terra. O mesmo requerem os índios guarani, que há décadas habitam casebres espremidos pelas grandes lavouras ou por usinas de cana-de-açucar. A consequência disso foi o crescimento da pobreza na região e, há alguns anos, o suicídio contínuo de jovens indígenas, além do aumento de conflitos fundiários.