postado em 03/05/2010 09:26
A sede das Nações Unidas em Nova York será palco, a partir de hoje, da sequência dos embates que se arrastam há anos sobre a proliferação de armas nucleares no mundo. Os países árabes, aliados à Turquia e ao Irã, deverão colocar os EUA contra a parede durante a conferência para a revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad ; o único líder de governo presente na reunião ;, pretende questionar a posição dos EUA e de seus aliados de tentar privar países em desenvolvimento da tecnologia nuclear, mas, ao mesmo tempo, fazer vista grossa para a capacidade nuclear de Israel. A delegação norte-americana será chefiada pela secretária de Estado, Hillary Clinton.O bloco de países do Oriente Médio defende que, se os americanos estão realmente interessados em promover a paz na região, devem apoiar o fim das armas nucleares e defender o desarmamento de todos os países. O Egito enviou à conferência um documento de trabalho pedindo uma reunião internacional que conte com a participação de Israel. A proposta é trabalhar por um tratado para estabelecer no Oriente Médio uma zona de congelamento de armas nucleares.
O embaixador egípcio na ONU, Maged Abdelaziz, elogiou as últimas iniciativas tomadas pelo presidente norte-americano, Barack Obama, contra as armas nucleares, mas defendeu que seria importante não focar a reunião exclusivamente na ameaça atômica representada pelo Irã. Mesmo assim, a questão do programa iraniano deve ocupar lugar de destaque na reunião de hoje. Diplomatas do chamado grupo 5 1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha) se reuniram diariamente na semana passada, em Manhattan, para tentar redigir uma resolução para impor uma quarta rodada de sanções contra Teerã. A tarefa não foi finalizada, uma vez que Rússia e China continuam relutantes em optar pelas sanções contra o Irã. Ontem, cerca de 10 mil manifestantes contra as armas nucleares fizeram uma marcha perto do prédio da ONU, pedindo a abolição total dos dispositivos.
Em 2005, fracasso
A cada cinco anos, os 189 países que assinaram o tratado para controle de armas em 1970 se reúnem para tentar impedir a proliferação dos dispositivos nucleares e pedir às potências nucleares que destruam suas ogivas atômicas. A última conferência de revisão do TNP, em 2005, foi vista, porém, como desastrosa. Após semanas de discussões lideradas pelo presidente americano George W. Bush e pelos representantes do Egito e do Irã, a conferência terminou sem uma declaração final. Desta vez, os diplomatas têm até 28 de maio para chegar à revisão do acordo. ;Até agora, a retórica e a encenação foram perfeitas, mas os limites e as contradições dessa nova proposta de desarmamento do presidente Obama são muito visíveis;, considera José Luís Fiori, professor de economia política internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em artigo intitulado Política de desarmamento do governo Obama.
Fiori lista algumas razões para o fracasso da revisão do TNP até hoje. Ele destaca que o acordo entre Obama e o presidente russo, Dmitri Medvedev, envolve uma redução ;insignificante; dos arsenais atômicos, além de não incluir uma discussão a respeito dos gastos militares americanos, nem sobre o aperfeiçoamento de novos vetores X-51 da Boeing, com capacidade nuclear e preparados para alcançar qualquer país em menos de uma hora. ;Tampouco se falou dos novos submarinos russos Iassen, que têm capacidade de transportar 24 mísseis, cada um com seis bombas atômicas;, relata. O professor também indica que nenhuma das reuniões mencionou ;o armamento atômico da Otan, localizado na Alemanha, na Itália, na Bélgica, na Holanda e na Turquia;.
AMERICANOS AO ESTILO CHÁVEZ
Os jornalistas iranianos selecionados para cobrir a conferência de revisão do TNP em Nova York tiveram seus vistos negados pelo governo norte-americano e não puderam acompanhar o presidente Mahmud Ahmadinejad. Segundo a agência de notícias Mehr News, apenas o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, e três assessores do presidente receberam o documento de entrada nos EUA. A medida ocorre justamente em um momento no qual o governo americano aumenta o tom das críticas à falta de liberdade de imprensa em outros países. Em março, por exemplo, o governo americano pediu à Venezuela de Hugo Chávez para respeitar os direitos humanos dos cidadãos e a liberdade de expressão, um dia depois do fechamento do canal Globovisión.