Agência France-Presse
postado em 04/05/2010 15:34
Os governantes da União Sul-Americana de Nações (Unasul) consagraram nesta terça-feira o ex-presidente argentino Néstor Kirchner como seu líder político, em uma reunião de cúpula que também condenou a política migratória no Arizona."Estou convencido de que é necessário uma pessoa em tempo integral e de muito alto nível para realizar a integração de nossa América", disse o presidente do Equador, Rafael Correa, no auditório do hotel onde ocorre a cúpula e onde Kirchner prestou juramento, a 70 km ao norte de Buenos Aires.
Ao novo titular da Unasul, marido da presidente Cristina Kirchner, deputado e líder do partido peronista, foi dada a primeira tarefa, a de coordenar com os ministros de Fazenda a ajuda prometida ao Haiti, de 100 milhões de dólares.
"O bom seria que cada presidente voltasse a seu país e pedise ao ministro de Economia para regularizar o envio de dinheiro ao Haiti", afirmou o presidente brasileiro, Luiz Inacio Lula da Silva, sobre o país caribenho devastado por um terremoto que deixou mais de 220 mil mortos.
No início de uma nova etapa de consolidação do bloco de 12 nações do Cone Sul, os pres0identes e chanceleres rejeitaram a criminalização dos imigrantes no estado americano do Arizona por incitar o ódio racial, onde vivem cerca de 460 mil imigrantes ilegais, segundo números oficiais.
A cúpula reprovou em uma declaração a lei "que permite a possibilidade de detenção de pessoas, sem restrições raciais, étnicas, de língua e status migratório, mediante o conceito questionável de ;dúvida razoável;", o que causa "a criminalização dos migrantes".
Mas os presidentes reconheceram "a importância das expressões de reprovação manifestadas pelo próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de outros países, assim como do Secretário-Geral da OEA, José Miguel Insulza".
A designação de Nestor Kirchner caiu como uma luva para potencializar uma eventual candidatura presidencial em 2011.
Várias pesquisas recentes mostraram que Kirchner subiu na escolha da população e figura no topo das preferências para 2011, favorecido por uma oposição dispersa, que não soube aproveitar a dura derrota do governo nas eleições legislativas de 2009.
O ex-chefe de Estado argentino é pouco afeito à diplomacia e entrou em confronto por diversas vezes outros presidentes, entre eles o então líder paraguaio Tabaré Vázquez (2005-2010), que vetou sua nomeação ao bloco em 2008, infeliz com um conflito bilateral ambiental.
Desta vez, o novo secretário-geral da Unasul conseguiu ultrapassar a resistência uruguaia, embora não sem dificuldade.
O presidente do Uruguai, José Mujica, admitiu no debate que era difícil para ele dar o sinal verde a Kirchner, mas afirmou ter decidido "acompanhar o consenso dos presidentes da América Latina porque queremos progredir no conjunto dos povos do continente".
Já o líder boliviano, Evo Morales, considerou-o um "primeiro presidente da América do Sul" e advertiu que "depois de 200 anos nos demos conta fr que era importante nos unir".
Em outro sinal de apoio, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou que a eleição de Kirchner é uma garantia de unidade e exortou a "revitalizar nossas democracias, derrotar o subdesenvolvimento e superar a pobreza".
Mas a total aprovação foi dada pelo presidente Lula, ao afirmar que Kirchner representa "mais uma etapa de consolidação da Unasul, tem experiência e conhece as diferenças políticas e ideológicas que temos no continente".
Entre os pronunciamentos mais fortes da Cúpula, figurou o apoio aos direitos argentinos na disputa de soberania com o Reino Unido sobre as Ilhas Malvinas, além da reprovação das explorações petrolíferas britânicas no Atlântico sul.
Em outra declaração, manifestaram solidariedade ao governo do Paraguai em sua luta contra a violência criminal em cinco departamentos do norte do país, "dentro do respeito pelos direitos humanos e valores democráticos", ante ações do narcotráfico e de um suposto grupo insurgente.