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Kirchner é eleito para dirigir bloco

Surpresa foi o apoio do Uruguai, que permitiu escolha do secretário-geral por unanimidade

Reunidos em um luxuoso resort de golfe em Campana, a 60km de Buenos Aires, os presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) decidiram ontem que o primeiro secretário-geral do bloco será o ex-presidente e deputado argentino Néstor Kirchner. A escolha não foi surpreendente, pois nenhum país apresentou candidatos para concorrer com o escolhido. A surpresa ficou por conta do presidente uruguaio, José Mujica, que deixou o caminho da ;abstenção;, como vinha sinalizando anteriormente, e optou por apoiar Kirchner, para que fosse eleito por unanimidade.

;Sem pedir condições e sem que ninguém nos tenha imposto condições, acompanhamos o consenso pela unidade da América Latina e, com esse gesto, vamos continuar apostando na boa-fé do povo argentino;, declarou Mujica na hora do voto. Seu antecessor imediato, Tabaré Vázquez, vetou Kirchner em 2008 por causa de um conflito entre os dois países sobre a construção de uma fábrica de celulose na fronteira. A presidenta Cristina Kirchner, mulher do eleito, foi a única que se absteve ; por ;razões óbvias;, segundo explicou.

Apesar de Néstor Kirchner não exibir um histórico de destaque em reuniões de cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se declarou ;100%; de acordo com a escolha. ;A designação (do secretário-geral) é uma etapa mais de consolidação da Unasul. Kirchner tem experiência, conhece o continente, as diferenças políticas e ideológicas que temos no continente;, afirmou Lula, que viajou na companhia de seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia.

O ex-presidente argentino dirigirá a Unasul por dois anos, mas terá de encarar investigações na Argentina, como suspeito de participar de um esquema de subornos nas exportações para a Venezuela, durante seu mandato (2003 a 2007). O presidente venezuelano, Hugo Chávez(1), não comentou o caso e confirmou o apoio a Kirchner, dizendo que o argentino ;move em todos o ânimo da cooperação;. Mesmo que seja inocentado, analistas políticos acreditam que Kirchner deve ficar somente um ano à frente da Unasul, pois deve ser novamente candidato à Presidência da Argentina em 2011.

Outros temas ocuparam a reunião dos 10 presidentes da Unasul ; os mandatários do Peru, Alan García, e da Colômbia, Álvaro Uribe, não compareceram. Todos os países aprovaram a continuidade da ajuda ao Haiti e ao Chile, afetados por terremotos no início do ano. A respeito do Paraguai, o estado de exceção em cinco estados do norte do país e a atuação do narcotráfico na fronteira com o Brasil dominaram a pauta. A Argentina conseguiu mais uma vez o apoio do bloco a sua reivindicação de soberania sobre as ilhas Malvinas, contra o Reino Unido.

Quanto a Honduras, os presidentes não chegaram a consenso sobre o reconhecimento do presidente Porfírio Lobo. Lula liderou a oposição à legitimação de Lobo, argumentando que ele venceu uma eleição organizada por um governo golpista. Os chanceleres do Peru, José Antonio García Belaúnde, e da Colômbia, Jaime Bermúdez, defenderam o reconhecimento. Lula sugeriu ainda a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, a Honduras.

Os países-membros da Unasul também decidiram rechaçar a nova legislação do estado americano do Arizona que criminaliza imigrantes irregulares mediante o conceito de ;dúvida razoável;. O bloco afirmou que a lei poderia significar a ;legitimação de atitudes racistas na sociedade de destino e um risco latente de violência movida por ódio racial;.

1 - Olho no vizinho
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, confessa que não vê a hora de assistir à mudança de governo na vizinha Colômbia, que escolherá seu novo presidente em 30 de maio. Nos últimos anos, Chávez viveu às turras com o colega Álvaro Uribe, que o acusa de apoiar a guerrilha das Farc. ;Estou ansioso, porque estou disposto; Não devemos alimentar entre nós o menor conflito, ao contrário, (devemos) discutir nossas diferenças;, disse Chávez. O governante venezuelano fez a afirmação na ausência de Uribe, que faltou ao encontro em nome da proximidade das eleições. O candidato preferido do presidente colombiano, o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, vem perdendo pontos nas pesquisas e aparece com 26,7% das intenções de voto, atrás do candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, que tem 38,7%. Mockus é favorito para vencer também o segundo turno.