Em uma conversa telefônica anteontem, os presidentes Mahmud Ahmadinejad (Irã) e Hugo Chávez (Venezuela) destacaram o protagonismo do Brasil na tentativa de encontrar uma saída para a crise nuclear que envolve o regime islâmico. ;O essencial das conversações foi a aprovação por parte do presidente iraniano das bases da proposta brasileira;, destaca a página virtual, que não deu detalhes. Segundo o site, ;Ahmadinejad anunciou sua aceitação, a princípio;, da oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, o Itamaraty garantiu à reportagem que até o momento ;não foram tramitadas propostas; pelo governo. ;O Brasil espera e busca uma solução negociada e pacífica para a questão;, declarou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, que afirmou não saber a origem da informação.
Uma mediação do Brasil representaria uma nova esperança de acordo. As potências ocidentais e o Irã não conseguiram chegar a um consenso sobre o envio de combustível nuclear do Ocidente a Teerã, em troca do urânio levemente enriquecido de Ahamadinejad. O Irã exige que os materiais devem ser trocados simultaneamento e dentro de suas fronteiras. Diretor do Centro de Estudos de Não Proliferação James Martin do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, o norte-americano Leonard Spector alertou: ;O Brasil tem muito pouco a ganhar ao se aproximar do Irã e precisa ser cauteloso, antes de morder a isca;. Por e-mail, o especialista disse ao Correio que qualquer passo em falso do governo Lula arruinaria o desejo do presidente Barack Obama de fortalecer os laços com Brasília.
Tempo
Segundo Spector, predomina em Washington a percepção de que o regime iraniano busca ganhar tempo, ao utilizar o pretexto de solidariedade e amizade com o Brasil para promover conversações infrutíferas. ;A intenção é avançar no potencial de fabricar armas nucleares, antes que a Organização das Nações Unidas (ONU) imponha sanções;, observa o analista. Ele defende que o processo de negociação seja rápido e não atrapalhe o cronograma de punições. ;Qualquer acordo precisa resultar em uma restrição importante do programa nuclear iraniano;, afirma Spector. Em visita a Teerã, no mês passado, o chanceler Celso Amorim chegou a admitir que o Brasil ;poderia examinar; a possibilidade de ser sede da troca de material nuclear, caso houvesse uma solicitação oficial.
Spector questiona a aproximação do Brasil com o Irã. ;Que interesses os dois países compartilham? Promover o islã radical? Ganhar influência na política do Oriente Médio? Isolar-se do Ocidente? Promover a violação dos direitos humanos? O Brasil tem sido tratado com grande respeito pela comunidade internacional, enquanto o Irã é um pária;, lembra. Ele prevê que, caso o Brasil alcance em duas semanas um acordo que reprima o programa nuclear iraniano, ;a comunidade internacional ficará agradecida;.
De acordo com o plano da ONU, as potências ocidentais enviariam barras de combustível nuclear a um reator de Teerã e o Irã se comprometeria a estocar urânio enriquecido a baixo nível. Spector considera a proposta vantajosa. ;O Irã exportaria a maior parte de seu urânio enriquecido a 5%. Se deixado no país, poderia chegar a 90% de purificação e ser usado em armas.;