Agência France-Presse
postado em 07/05/2010 17:47
A Justiça argentina negou o pedido de liberdade feito pela defesa do ideólogo e ex-ministro de Economia da ditadura (1976-1983) José Alfredo Martínez de Hoz, preso na terça-feira (4/5) e internado em uma clínica particular por motivos de saúde, informou nesta sexta-feira (7/5) uma fonte judicial.O ex-ditador de 85 anos foi preso por conta de um processo que investiga o sequestro do empresário Federico Gutheim e seu filho, Miguel, em novembro de 1976.
O juiz federal Norberto Oyarbide espera agora o resultado dos relatórios médicos sobre a saúde de Martínez de Hoz para definir se lhe dará o benefício da prisão domiciliar pelo fato de ter mais de 70 anos ou se cumprirá pena em penitenciária comum.
Ao rejeitar a libertação, o magistrado argumentou que os fatos atribuídos ao ex-ministro foram considerados pela Corte Suprema de Justiça "crime hediondo, cometido durante a última ditadura militar".
"Acredito que não apenas é legítimo, mas fundamentado, temer que um indivíduo processado por tamanho crime possa tentar atrapalhar a ação da Justiça ou obstruir a investigação", afirmou Oyarbide.
A defesa de Martínez de Hoz já solicitou prisão domiciliar e afirmou que o ex-ministro é hipertenso e padece de dores lombares.
Martínez de Hoz foi beneficiado com um indulto em 1990, concedido pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), mas sua prisão foi possível depois que a Corte Suprema de Justiça declarou esse benefício inconstitucional em 27 de abril passado.
Federico Gutheim, dono de uma empresa dedicada à exportação de fibra de algodão, e seu filho, Miguel Ernesto, foram sequestrados e obrigados a realizar operações comerciais com uma empresa em Hong Kong, favorecida pelo então ministro da Economia.
O ministro da Justiça, Julio Alak, manifestou satisfação com o cancelamento do indulto e afirmou que o processo de Martínez de Hoz abre portas para julgar os cúmplices civis do regime militar.
Martínez de Hoz foi o ideólogo de um rígido plano de mercado que impulsionou uma ampla abertura econômica do país e representou um duro golpe contra a indústria argentina.
Em torno de 1.500 pessoas estão sendo processadas na Argentina por crimes de lesa-humanidade, a maioria delas militares e integrantes das forças de segurança. No total, são 320 ações judiciais abertas na Argentina desde a anulação, em 2003, da lei da anistia.