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Pobreza, analfabetismo e desemprego impulsionam jovens do Paquistão ao extremismo suicida

postado em 09/05/2010 08:48
Paquistão, 180 milhões de habitantes, boa parte deles vivendo com uma renda diária de apenas 3 dólares. A alta taxa de analfabetismo e a pobreza são alguns dos chamarizes para o recrutamento de mujahedine, soldados do islã aptos a matar e morrer por uma interpretação distorcida do Corão. O fenômeno é abastecido pelo antiamericanismo, um sentimento de raízes históricas e políticas. No último dia 1;, Faisal Shahzad, 30 anos, tentou explodir um carro-bomba na Times Square, no centro de Manhattan. O FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos) assegura ter pistas que ligariam o acusado ao grupo extremista paquistanês Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP), ainda que Faisal não se encaixe no perfil de recrutados pela jihad (guerra santa). Comandado por Hakimullah Mehsud, um fundamentalista nascido no vilarejo de Kotkai ; na província de Waziristão do Sul ; e formado por uma madrassa (escola do Corão), o TTP reúne cerca de 8 mil militantes e vem se especializando em atentados suicidas.

O jornalista paquistanês Zulfiqar Ahmad, 29 anos, nasceu em Chitral, na Província da Fronteira Noroeste (NWFP, pela sigla em inglês) ; uma região de influência dos talibãs. ;Eles enganam pessoas. Em nome do islã, encorajam-nas a tomarem parte no que chamam de luta contra os infiéis;, afirmou ao Correio, pela internet. ;Algumas vezes, subornam o povo a integrar sua organização, para realizarem ataques suicidas dentro do Paquistão;, acrescentou. Segundo ele, os alvos principais são os jovens, que perambulam pelas ruas em busca de emprego, após completarem seus estudos. ;Muitos deles pertencem ao NWFP e ao sul da província de Punjab, o bastião dos linhas-duras sunitas;, comentou o jornalista.

A guerra a que Ahmad se refere tem início nas madrassas. Em todo o território paquistanês, são cerca de 11 mil, onde milhares de crianças e jovens de 6 a 16 anos aprendem árabe, antes de serem obrigados a recitar o Corão (livro sagrado do islã) ;com todo o coração;. Segundo o belga naturalizado norte-americano Arnaud de Borchgrave, diretor de Ameaças Transnacionais do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (em Washington), os clérigos radicais impõem um rígido controle sobre essas instituições. ;Os imãs que ministram as aulas também usam mensagens de ódio em relação aos Estados Unidos, a Israel e à Índia. Aos 16 anos, alguns dos 10 mil jovens se transformam em jihadistas a cada ano;, afirma. Arnaud explica que boa parte deles se torna imãs, com a orientação de recrutarem mais homens para a jihad. ;Eles se convencem de que uma morte heróica leva a todo tipo de recompensa encantadora no paraísmo;, lembra. Essa certeza se soma aos sentimentos anti-americanistas, propagados pela imprensa paquistanesa e por 50 canais de TV.

Recrutamento
Analista de defesa e autor de Fata: a most dangerous place (Fata: um lugar mais que perigoso, pela tradução literal), o também paquistanês Shuja Nawaz acredita que poucas madrassas na região da fronteira com o Afeganistão ainda fornecem recrutas. ;O governo de Asif Ali Zardari tem tentado manter essas madrassas sob seu controle, mas vem enfrentando uma forte resistência;, comenta, em entrevista por e-mail. De acordo com ele, a maior parte dos campos de treinamento terrorista do país são pequenos e podem ser operados em qualquer lugar. ;Eles envolvem aulas de fabricação de explosivos e de cinturões-bomba;, admite. Para Nawaz, a única forma de combatê-los é realizando operações de isolamento de áreas para rastreamento. ;Os aviões não tripulados dos Estados Unidos também alvejam casas alugadas por guerrilheiros estrangeiros ou pessoas suspeitas no cinturão tribal que margeia o Afeganistão;, acrescenta Nawaz.

Muitos desses campos estão situados em áreas tribais onde o governo do Paquistão não consegue exercer um controle efetivo. ;O Exército do país desalojou o Talibã do Vale do Swat, de Malakand e do Waziristão do Sul, destruindo a infra-estrutura do terror. Os soldados agora se engajam em operações nas regiões de Orakzai, Kurram e Bajaur;, afirma o paquistanês Hasan-Askari Rizvi, professor emérito da Universidade de Punjab, em Lahore, e também estrategista militar.

Rizvi reconhece que as madrassas criaram um estado de intolerância, tornando as crianças vulneráveis ao apelo dos militantes. ;Algumas organizações radicais mantêm suas próprias madrassas, onde crianças são expostas à ideologia. Essas escolas apoiam um estado mental pró-militância e servem como terreno para o recrutamento;, comenta. ;Sua principal contribuição com o terrorismo é uma mentalidade tacanha, intolerante e ortodoxa do islã.;

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