postado em 09/05/2010 08:53
Enquanto na Europa o continente se divide para discutir o uso de véus islâmicos, a comunidade muçulmana no Brasil ainda se sente livre para ir e vir, sob véus ou não. ;O Brasil é um país bom, aberto e cada um segue a sua religião;, diz o xeque egípcio Muhammad Zidane, líder religioso da mesquita de Brasília na 912 Norte. Hoje, ele deve celebrar o dia das mães com a comunidade que dirige há 19 anos. Na última sexta-feira (07/05), dia das orações dos muçulmanos, Muhammad lembrou as palavras do profeta Maomé para preparar a data festiva: ;Deus ordena-nos que tratemos as mulheres de uma forma nobre, pois elas são nossas mães, filhas e tias;.Regina Schwartz, 55 anos, dona de casa, orgulha-se de levar o hijab, vestimenta que cobre cabelos e pescoço e não deixa a silhueta à mostra. ;Meus vizinhos acham lindo;, conta, acrescentando que não pode tirá-lo em público, porque fez votos. Apesar de ter nascido numa família católica, Regina relata que queria ser muçulmana desde jovem. ;Eu só consegui vir para o Islã depois que meu pai, minha mãe e meu marido americano morreram. Fui muito tolhida pela família;, afirma.
Apesar da liberdade de culto e expressão nem sempre a decisão de usar o véu no Brasil é fácil. Cálida Ghazaleh, 36 anos, não teve tanta sorte com seus vizinhos em Brasília, quando decidiu adotar o hijab, há cerca de um ano. ;Na minha quadra senti um pouquinho de dificuldade. Algumas pessoas não falam comigo, mas eu não ligo. O que importa é o coração, e que nós somos felizes usando o hijab;, diz. Filha de árabes, Cálida foi criada próxima ao Islã, mas nunca foi obrigada a frequentar uma mesquita ou a usar o véu. Ela explica que a decisão cabe à mulher muçulmana. ;Foi uma necessidade espiritual que eu senti quando eu comecei a praticar (o Islã), para estar mais perto de Deus. Foi uma coisa maravilhosa que aconteceu;, ressalta a dona de casa, mãe de três filhos. Cálida revela ainda uma dica de beleza, que atribui ao uso frequente do hijab. ;Meu cabelo agora vive sedoso, não queima mais por causa do sol;, brinca.
A origem do hijab, que em árabe significa recato e proteção, está no Corão ; livro sagrado dos muçulmanos. ;Ó profeta, dizei a tuas esposas, tuas filhas e às mulheres dos crentes que quando saírem que se cubram com as suas mantas; isso é mais conveniente, para que se distingam das demais e não sejam molestadas; sabei que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo;, diz o versículo 59 da 33; Surata do livro. Já na Surata 24:31, a recomendação é que as mulheres ;cubram o peito com seus khimar;. Segundo a estudiosa Maria C. Moreira, ;a maioria dos teólogos e tradutores do Corão concorda que essa palavra se refere a um lenço usado pelas mulheres na época de Maomé que cobria a cabeça, o pescoço e talvez os ombros;, o que explicaria o costume adotado por muitas muçulmanas.
No entanto, segundo a escola de pensamento islâmica e da cultura local do país ou da região, o hijab pode se traduzir na prática da obrigatoriedade de uso da burca, caso dos talibãs afegãos. Outra possibilidade é uma recomendação para o uso do véu, como acontece na Turquia. Já na Arábia Saudita, na República Islâmica do Irã e na província indonésia de Achém, o uso do hijab é obrigatório a todas as mulheres, que o utilizam em diferentes estilos (ver quadro).
A indonésia Firdawati Yannes, 50 anos, vive há 24 em Brasília e por enquanto só usa o hijab para ir à mesquita. ;Tenho vontade de usar sempre, mas tenho de limpar o coração primeiro. Há mulheres que tampam a cabeça, mas não o coração, e não são verdadeiramente puras e honestas;, explica. ;Quando a gente decide usar o hijab, faz isso para Deus e não para as outras pessoas;, completa ela. Letícia Melo, 30 anos, também diz que só vai usar o hijab de forma definitiva para sair na rua depois que tiver aprendido muito sobre o Islã. Já a advogada Maria do Carmo Abu Hamra, 57 anos, casou-se com um comerciante palestino e usa o véu islâmico há 25 anos. Nascida em Teresina, Carminha, como é mais conhecida na mesquita, diz que o hijab é sinônimo de recato. ;A gente cobre as coisas bonitas e só mostra ao marido;, brinca.