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Garoto holandês sobrevive a desastre aéreo que matou 103 pessoas em Trípoli

Autoridades investigam causa da queda do Airbus A330-200

postado em 13/05/2010 07:00
É das grandes tragédias que surgem os milagres. Foi assim ontem na Líbia. O Airbus A330-200 que fazia o voo 8U771 da Afriqiyah Airways já havia completado os 6.752km que separam Johannesburgo, na África do Sul, de Trípoli. O pouso estava previsto para as 6h15 (1h15 em Brasília) de ontem. No entanto, cerca de 15 minutos antes, o avião misteriosamente explodiu e desintegrou-se, matando 92 passageiros e 11 tripulantes. Apenas um menino holandês de 10 anos sobreviveu.

Com fraturas nas pernas e lesões na cabeça, o garoto foi submetido a uma cirurgia de quatro horas e seu estado é considerado grave. ;Morreram todos, menos uma criança;, declarou Mohamed Zidan, ministro líbio dos Transportes, durante entrevista coletiva no Aeroporto Internacional de Trípoli ; em Ghaser Bengashir, cidade a 25km da capital. O menino, cuja identidade não havia sido revelada até o fechamento desta edição, será repatriado para Amsterdã assim que possível. ;Dado esse trágico evento, é verdadeiramente um milagre;, afirmou Jerzy Buzek, presidente do Parlamento Europeu.

Em entrevista ao Correio, por e-mail, o especialista em desastres aéreos William D. Waldock ; professor da Universidade Aeronáutica Embry Riddle (Arizona) ; explicou que as crianças são mais leves e menores do que o sistema de assento da aeronave, desenhado especialmente para adultos. ;Em 1987, um avião MD-82, da Northwest Airlines, caiu ao decolar de Detroit. O avião rompeu-se durante mais de um quilômetro, 155 pessoas morreram e uma garota de 4 anos sobreviveu;, exemplifica. ;Ela permaneceu presa ao assento, e corpos de adultos caíram sobre ela, protegendo-a do fogo;, acrescenta.

No caso da tragédia de ontem, no entanto, Waldock suspeita que o menino estivesse sentado na parte traseira do A330-200. O investigador de acidentes lembra que a força do impacto geralmente é maior na frente da aeronave. ;Ao analisarmos os dados sobre acidentes dos últimos 50 anos, vemos que a metade de trás do avião tem uma possibilidade levemente maior de sobrevivência às forças de impacto. Por isso, as caixas-pretas ficam na cauda;, comenta Waldock.

Segundo o jornal The Tripoli Post, o garoto holandês foi retirado da fuselagem do A330-200 inconsciente. Uma fonte revelou ao mesmo diário que o menino piscou e mexeu uma das mãos depois da cirurgia. Por sua vez, o cirurgião Sideq Ben Dalla disse ao mesmo jornal que o pequeno paciente sofreu esquimose cerebral e era incapaz de mover todas as partes de seu corpo. Um representante da Embaixada da Holanda em Tripoli esteve no hospital durante a operação.

Choque
Em comunicado publicado na internet, a Afriqiyah Airways confirmou, às 17h30 de ontem (hora de Brasília), a nacionalidade das vítimas. Entre os mortos, estão 58 holandeses, 13 líbios, seis sul-africanos, dois britânicos, dois austríacos, um alemão, um zimbabuano e um francês. Outras 19 pessoas ainda não haviam sido identificadas. O Ministério das Relações Exteriores da Holanda montou um gabinete de crise. O premiê Jan Peter Balkenende reagiu dizendo-se ;em choque;, enquanto a assessoria de imprensa da Rainha Beatriz anunciou que ela estava ;horrorizada;. Durante todo o dia de ontem, representantes da União Europeia ofereceram seu pesar à Líbia e à Holanda. ;Eu expresso nossas condolências (1) e nossas mais profundas simpatias e solidariedade às famílias e a todas as vítimas;, declarou o português José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

As autoridades líbias descartam um atentado terrorista. ;O avião explodiu ao aterrissar e se desintegrou por completo;, disse à agência France-Presse um oficial de segurança líbio, sob a condição de anonimato. As caixas-pretas do A330-200 foram recuperadas e podem ajudar a solucionar a causa da queda. Waldock acredita que os tanques de combustível localizados nas asas podem ter explodido ao se romperem, durante o impacto com o solo.

A 3km do aeroporto, também em Ghaser Bengashir, o engenheiro Ashraf Madi, 32 anos, soube do desastre assim que chegou ao escritório, na manhã de ontem. ;O acidente ocorreu perto da rodovia que leva ao terminal aéreo. É uma área cheia de árvores. A estrada estava repleta de ambulâncias;, contou à reportagem, por meio da internet. Um colega de Madi telefonou para o cunhado, que trabalha como segurança no aeroporto, e encontrou-o chorando. ;Ele soube que perdera um amigo na tragédia;, comentou. ;Tenho dois amigos funcionários da Afriqiyah Airways. Descobri que estavam vivos, mas choravam ao telefone. As notícias são muito ruins;, concluiu.

1 - Reação brasileira

O Ministério das Relações Exteriores divulgou, na tarde de ontem, uma nota de imprensa sobre o acidente aéreo na Líbia. Segundo o breve comunicado, ;o governo brasileiro tomou conhecimento, com pesar, da notícia;. ;O governo brasileiro transmite aos familiares das vítimas, ao povo líbio e às demais nações que tiveram cidadãos vitimados pelo acidente sua solidariedade e as mais sentidas condolências;, afirma o texto.

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