Agência France-Presse
postado em 14/05/2010 13:41
O Papa Bento XVI encerrou nesta sexta-feira (14/5) a peregrinação a Portugal com uma última grande missa celebrada no Porto onde, como em Lisboa, mas principalmente em Fátima, uma multidão de fiéis entusiastas lhe manifestaram apoio, apesar da crise vivida pela Igreja, permeada de escândalos.Como na véspera, em Fátima, Bento XVI foi recebido no Porto por uma explosão de alegria e exuberância, que contratava com a reputação de austeridade deste bastião católico e conservador do norte do país.
"É um dia de grande alegria. Esperei por este momento durante toda a semana. Rezei muito, aguardando este dia excepcional", confiou Rosa Cunha, enrolada numa bandeira portuguesa para se proteger do frio e da chuva intermitente que caía na praça da Avenida dos Aliados.
Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, entre 120.000 a 150.000 fiéis foram à Avenida dos Aliados, que tem capacidade para 200.000 pessoas.
[SAIBAMAIS]Durante a missa, celebrada num clima de profundo recolhimento e grande solenidade, o papa, que usava um casulo vermelho - a vestimenta sacerdotal que se sobrepõe à alva e à estola -, insistiu sobre a importância para os católicos de "ir ao encontro de outros" para partilhar a fé, sob pena de "morte" da "presença da Igreja no mundo".
Na véspera, segundo estimativa oficial da Igreja, 500.000 peregrinos haviam assistido à missa papal na esplanada do Santuário de Fátima.
Bento XVI "viveu a experiência desta viagem a Portugal e a participação em Fátima como uma confirmação de que Deus acompanha sua Igreja hoje e na História, apesar das dificuldades externas e internas", comentou o porta-voz, padre Federico Lombardi.
Há semanas, Fátima vinha sendo apresentada pelo Vaticano e pelo próprio papa como o "principal destino" de sua peregrinação, em meio a celebrações para marcar o aniversário da primeira aparição da Virgem, no dia 13 de maio de 1917 a três pastorinhos, aos quais revelou três segredos.
No primeiro dia da viagem a Portugal, Bento XVI havia ampliado a "interpretação" do terceiro "segredo" à luz da crise atual da Igreja, afirmando que "além da grande visão do sofrimento de um papa (a bala que atingiu João Paulo II num dia 13 de maio de 1981, no Vaticano)", a Virgem de Fátima havia anunciado "sofrimentos da Igreja".
Mas, principalmente, ele reconheceu sem ambiguidades a responsabilidade da Igreja no escândalo de pedofilia, afirmando que "a maior perseguição da Igreja" não vinha de "inimigos externos" mas de seu próprio "pecado".
Bento XVI também aproveitou a permanência em Portugal para mostrar-se, mais uma vez, como defensor dos valores cristãos da família, num momento em que o país muito católico, mas com maioria de esquerda, prepara-se para autorizar o casamento homossexual, três anos após a legalização do aborto.
Ante representantes de obras sociais, o papa afirmou que o aborto e o casamento homossexual estavam entre os "desafios mais insidiosos e mais perigosos" de hoje.