Mundo

Lula fala de incremento comercial com Irã, mas não toca na questão nuclear

postado em 16/05/2010 14:39
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega iraniano Mahmud Ahmadinejad, em coletiva de imprensa conjunta, falaram de seu mútuo interesse de incrementar as relações comerciais entre seus países, mas não tocara na questão nuclear, ponto central do encontro, como já havia acontecido mais cedo, na nota oficial divulgada no site do governo iraniano.

Como única alusão ao tema, Ahmadinejad "agradeceu ao presidente brasileiro seu apoio aos direitos da nação iraniana e suas posições para reformar a ordem mundial", conforme indica o texto publicado no site da presidência iraniana.

De acordo com um membro da delegação que acompanha o chefe de Estado brasileiro em Teerã, Lula continua otimista quanto à evolução das conversações em curso para se chegar a um acordo sobre o dossiê nuclear iraniano.

"Atualmente são realizadas negociações e é necessários esperar até o fim das discussões nesta segunda-feira" antes de poder fazer um balanço da mediação empreendida pelo Brasil entre o Irã e as grandes potências, acrescentou.

Na coletiva, Lula centrou-se no desejo do Brasil em desenvolver suas relações econômicas com o Irã dentro de uma reequilíbrio em relação aos países emergentes.

"O Brasil quer se orientar mais na direção dos países emergentes (...) entre os quais o Irã é um dos nossos princiapis sócios", declarou.

"A crise financeira mundial, que mostrou a necessidade de um novo sistema comercial multilateral, incrementou nosso interesse pelo Irã, que é um dos três principais mercados do Brasil" (entre os países em desenvolvimento), acrescentou o chefe de Estado brasileiro.

Lula indicou que o exportará por um bilhão de dólares produtos alimentícios para o Irã nos próximos cinco anos.

Ahmadinejad declarou, por sua parte, que o desenvolvimento ds relações econômicas entre ambos países faz parte de "uma relação estratégica a longo prazo".

"Esta relação não é dirigida contra ninguém", afirmou o presidente iraniano e diz respeito apenas a "dois países que buscam se transformar rapidamente em polos econômicos de suas regiões".

Na nota divulgada por seu governo, o presidente iraniano foi mais enfático em suas críticas veladas.

"A realidade é que alguns países que controlam os centros políticos, econômicos e midiáticos do mundo não querem que os outros países progridam", declarou.

"Juntos podemos mudar essas condições e proporcionar as transformações necessárias", acrescentou.

"Esta visita marca o início de uma cooperação entre duas grandes nações", concluiu Ahmadinejad.

Lula também se reuniu com o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, indicou a televisão estatal.

Khamenei denunciou os Estados Unidos pelo "barulho" feito a respeito da visita do presidente brasileiro ao Irã. "As potências dominantes, em particular os Estados Unidos, estão descontentes com o desenvolvimento das relações entre os países indepententes e influentes", indicou ainda.

Diante da falta de progressos quanto ao tema nuclear, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan anunciou neste domingo que adiará até segunda-feira uma visita ao Azerbaijão para poder ir a Teerã.

Esta decisão foi tomada depois que o premiê turco indicou que não iria ao Irã, pois o Erdogan considera insuficientes as respostas do Irã aos esforços turcos e brasileiros para tentar resolver a crise nuclear iraniana.

Lula chegou no sábado a Teerã com uma delegação de 300 membros para uma visita de dois dias e foi recebido no aeroporto pelo chefe da diplomacia iraniana, Manuchehr Mottaki. Seu missão é conversar com as autoridades iranianas sobre a questão nuclear.

As possibilidades de êxito desta mediação são consideradas escassas pelos Estados Unidos e Rússia. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que estava associado à mediação brasileira, desistiu no sábado de viajar a Teerã por falta de propostas iranianas para uma solução.

Em compensação, o chanceler turco Ahmet Davutoglu chegou a Teerã neste domingo a convite de seu colega iraniano Manuchehr Mottaki para participar nas negociações.

O enriquecimento de urânio por parte do Irã está no centro do conflito com a comunidade internacional, que teme que Teerã esteja tentando obter a bomba atômica, o que é negado pelo governo do país.

As grandes potências propuseram ao Irã que enviasse 70% de seu urânio levemente enriquecido para transformá-lo em combustível altamente enriquecido que o país precisa para seu reator de pesquisas científicas.

Invocando um problema de "confiança", o Irã rejeitou a proposta e disse que prefere uma troca simultânea ou por etapas em pequenas quantidades, feita em seu território, o que foi rejeitado pelas grandes potências.

Frente a essa negativa, o Irã lançou em fevereiro a produção de urânio enriquecido a 20%, o que acelerou a mobilização ocidental para adotar novas sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU.

O Irã afirmou neste sábado que houve um acordo sobre a quantidade e o momento da troca de urânio, e se mostrou disposto a discutir o lugar onde a transação ocorreria, mas com garantias concretas, segundo as emissoras de televisão.

Assegurou também que receberá o combustível necessário para seu reator de pesquisa de Teerã, sem dar detalhes sobre como o país chegou a esse acordo.

A declaração foi divulgada horas antes da chegada do presidente Lula a Teerã.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação