Mundo

Diplomacia brasileira reforça presença internacional com acordo no Irã

Agência France-Presse
postado em 17/05/2010 15:01
A diplomacia do Brasil reforçou nesta segunda-feira (17/5) sua presença no cenário internacional ao alcançar um acordo com Turquia e Irã para a troca de material nuclear iraniano, estimaram analistas consultados pela AFP.

"Se for confirmado que o Irã acatará esse acordo, o Brasil terá marcado um golaço de sua diplomacia", disse à AFP o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marcelo Coutinho.

"Se o acordo é o que foi dito, é uma vitória sem igual e o Brasil pela primeira vez se impõe no centro da diplomacia internacional. O problema é o Irã cumprir o que assina, já que em outras vezes não o fez", explicou Rubens Figueiredo, da Universidade de São Paulo (USP).

Nos oito anos de governo de Luiz Inacio Lula da Silva, o Brasil conseguiu uma inserção internacional que nunca antes teve e as portas do palácio presidencial e da chancelaria receberam os grandes líderes da política mundial.

Com sua defesa das relações Sul-Sul e de mais espaço para o mundo em desenvolvimento frente a preponderância da Europa e Estados Unidos, Lula começou sendo convidado para as reuniões do G8 de países mais poderosos do planeta e acabou consolidando um G20, hoje um dos principais grupos internacionais de debate que agrupa as grandes nações ricas e as emergentes.

Após a visita ao Brasil no fim de 2009 do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, como também do israelense Shimon Peres e do palestino Mahmud Abbas (a quem Lula visitou em março), o governo do presidente do PT mostrou disposição para servir de mediador nessa região do planeta, argumentando que um país não envolvido historicamente no conflito poderia ter sucesso.

Ainda que não tenha conquistado seu objetivo no conflito entre palestinos e israelenses, para a questão iraniana se aliou à Turquia, também com uma cadeira não permanente no Conselho de Segurança da ONU, para um resultado melhor.

Nesta segunda-feira, Irã, Turquia e Brasil, com a presença de seus presidentes, assinaram um acordo para a troca de urânio iraniano por combustível nuclear enriquecido a 20% em território turco.

O acordo, recebido com cautela pela comunidade internacional, tem como objetivo superar a crise aberta pela política nuclear do Irã e busca evitar que Teerã produza combustível para fins bélicos.

Um artigo da revista Foreign Policy no fim de 2009 considerou Lula como "uma estrela do rock no cenário internacional" e seu chanceler Celso Amorim como "o melhor ministro de Relações Exteriores do mundo".

Os analistas também destacam "derrotas" nessa diplomacia, uma vez que o Brasil não conseguiu seus grandes objetivos de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, fechar as negociações para um acordo mundial na Organização Mundial do Comércio (OMC), nas quais foi protagonista, e um Mercosul mais unido e ativo.

Também se questiona que não tenha sido mais crítico nas questões sobre os direitos humanos, especialmente com Cuba e Irã.

A diplomacia brasileira demonstrou "mais demagocia que pragmatismo de resultados", disse à AFP Christian Lohbauer, membro do Grupo de Conjuntura Internacional da USP.

Se o acordo com o Irã for confirmado, Lula "termina seu mandato com um enorme saldo positivo em sua diplomacia e ninguém se lembrará de suas derrotas. Caso contrário, será a maior fraude das relações internacionais, só superada pela guerra do Iraque", disse Coutinho.

Com 80% de popularidade, a lei brasileira impede que Lula busque um terceiro mandato presidencial consecutivo e seu sucessor assumirá no dia 1 de janeiro de 2011.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação