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Ultimato vence e trégua é esperança

Em meio ao conflito entre manifestantes e tropas, a Embaixada do Brasil fecha as portas

postado em 18/05/2010 07:00
;Antes que você pense que todos os vermelhos são covardes, saiba que sou mulher e tenho uma filha pequena para cuidar;, afirma ao Correio a tailandesa R. (ela não quis se identificar). Aos 33 anos, essa camisa vermelha conta que a situação em Bangcoc é ;cruel;. ;Estamos esperando outra onda de disparos pesados ou uma mortandade;, admitiu, por volta das 16h de ontem (2h de hoje, em Brasília). A repressão ordenada pelo governo do primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva já ganha contornos de chacina. Desde a última quinta-feira, 35 pessoas morreram. Na manhã de ontem (hora local), o major-general Khattiya Sawadispol ; um militar renegado mais conhecido como Seh Daeng (1) não resistiu aos ferimentos provocados à bala, na semana passada.

A morte foi anunciada seis horas antes da expiração de um ultimato apresentado pelas autoridades da Tailândia para que os manifestantes abandonassem a Ratchaprasong, a área conflagrada, no centro da capital. Quem descumprisse o aviso seria preso pelo Centro para as Resoluções de Situações de Emergência (CRES) e condenado a dois anos de cadeia. Por falta de segurança, a Embaixada do Brasil decidiu fechar suas portas até amanhã. Na sexta-feira, uma pessoa morreu a apenas 100m do prédio.

Ao mesmo tempo, Nattawut Saikar, um dos principais líderes dos vermelhos, telefonou para um aliado de Vejjajiva. Ele prometeu que, caso os soldados parassem de atirar, pediria a seus seguidores que se desmobilizassem. Mas a proposta parece ter sido vista com reservas. ;O cessar-fogo tornou-se sem sentido. Muitos de nós não consideram abandonar a Ratchaprasong. Nossa agenda consiste em armar uma arapuca para as autoridades que ordenaram os disparos de armas de fogo e levá-las ao tribunal. Já a agenda do CRES visa nos expulsar e deter nossos líderes;, afirmou R.

Ela relata que ninguém pode sair ou entrar da Ratchaprasong. ;A área foi isolada por soldados. Eu tenho amigos lá e estou muito preocupada. No entanto, se os militares decidirem esmagar os nossos colegas, acharemos um meio de ajudá-los;, promete.

Guerra civil
Exilado em Dubai, o ex-premiê Thaksin Shinawatra demonstrou ontem solidariedade aos camisas vermelhas, seus aliados. Ele pediu flexibilidade a Vejjajiva e aos manifestantes, para evitar uma guerra civil. ;Estou ao lado de meus compatriotas nestas horas terríveis de nossa história;, declarou. Para o alemão Michael Nelson, cientista político da Universidade de Chulalongkorn, é pouco provável que o conflito evolua para esse cenário. Ele lembra, no entanto, que os camisas vermelhas possuem bases em várias regiões da Tailândia, fato que preocupa Vejjajiva. ;A reação dos manifestantes depende de como eles vão encarar a repressão. Uma parte deles pode, inclusive, usar táticas de guerrilha;, explica.

Nelson também descarta um novo golpe militar no país, que já teve o poder tomado pelo Exército 18 vezes desde 1932. ;Alguns militares querem o controle do governo, mas outros lembram que o golpe de 2006 deu errado. Essa ação só serviu para colocar a Frente Nacional Unida da Democracia contra a Ditadura (UDD, pela sigla em tailandês);, acrescenta.

1 - O trágico fim do general rebelde
Quase mil pessoas compareceram ontem ao funeral de Khattiya Sawadispol (foto) ; ou Seh Daeng ;, em um templo budista de Bangcoc. Aos 58 anos, Daeng era o responsável por supervisionar a ;zona vermelha;, como é conhecida a região de Ratchaprasong. ;Seh Daeng era um general, mas combateu pela democracia, ao nosso lado;, elogiou Jatuporn Prompan, um dos líderes dos camisas vermelhas. O rebelde foi ferido com um tiro na cabeça, na última quinta-feira, quando concedia uma entrevista. As autoridades tailandesas negam envolvimento na morte.

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