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Brasil e Turquia fazem ofensiva diplomática por apoio a acordo com Irã

Agência France-Presse
postado em 18/05/2010 15:46

Brasil e Turquia buscaram nesta terça-feira (18/5) apoio ao acordo nuclear que obtiveram junto ao Irã e pediram o reconhecimento de seu papel como mediadores neste tema, tratado até agora somente pelas grandes potências.

Os esforços diplomáticos de ambos os países que na segunda-feira fecharam um acordo com a República Islâmica para uma troca de urânio enriquecido com o exterior foram considerados positivos por França, China, Rússia e pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O acordo "pode ser um passo positivo" se for seguido de um "compromisso mais amplo" de Teerã, disse Ban, poucas horas antes de uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que discutirá a questão iraniana.

[SAIBAMAIS]O presidente francês, Nicolas Sarkozy, deu seu "pleno apoio" a seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelas negociações, depois de um encontro entre os dois governantes feito paralelamente à cúpula entre Europa e América Latina em Madri.

A mediação de Brasil e Turquia permitiu que o Irã aceitasse a troca em território turco de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido (a 3,5%) por 120 kg de combustível enriquecido a 20%, destinado ao reator de pesquisas nuleares de Teerã.

Para Lula e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, ambos presentes na segunda-feira em Teerã e na terça-feira em Madri, esse acordo é a prova de que a diplomacia, e não as sanções, podem resolver as divergências originadas nas suspeitas das grandes potências de que os iranianos pretendem obter a bomba atômica. "Peço que a comunidade internacional apoie" esse acordo, que terá um impacto "muito positivo na paz mundial", disse Erdogan em coletiva de imprensa na capital espanhola.

Ele assegurou entender a "cautela" com a qual potências como Estados Unidos e a União Europeia receberam o anúncio do acordo, mas se mostrou confiante de seu êxito. A "única maneira de resolver esse problema é através da diplomacia, devemos deixar de falar em sanções" contra o Irã, afirmou o presidente, cujo país faz parte da Otan.

Para o Brasil, o êxito das negociações em Teerã fazem com que seja "normal e desejável" que os dois países mediadores participem das negociações do grupo 5 1 das grandes potências, ou seja, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã Bretanha) e Alemanha.

"Acho que seria normal que pelo menos uma boa parte das negociações se abram (para o Brasil e a Turquia). Seria normal e desejável", afirmou Marco Aurélio García, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República.

Marco Aurélio precisou que não se trata de formalizar um novo grupo "porque, inclusive, eses grupo (o 5 1) é informal. "A verdade é que antes não havia interlocução, havia ameaças. E com ameaças muitas vezes não há ação."

Apesar disso, os Estados Unidos parecem determinados a avançar rumo a uma nova rodada de sanções contra o Irã por seu programa nuclear.

A chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, afirmou nesta terça-feira que seu país chegou, junto com Rússia e China, a um consenso sobre um "duro" projeto de resolução da ONU com novas sanções contra o Irã, um anúncio que coincidiu com a convocação de uma reunião do Conselho de Segurança para as 20h GMT (17h de Brasília), destinada a abordar o tema.

Erdogan criticou na segunda-feira os cinco membros permanentes do Conselho, que possuem armas nucleares. "Aqueles países que ameaçam o Irã com sanções são os que ainda possuem a bomba atômica. Estamos falando da lei dos supremos ou da supremacia da lei?", declarou.

O primeiro-ministro referiu-se também a Israel, o único país que, segundo especialistas, dispõe de armamento nuclear na região. Israel está "muito perto da Turquia. Estamos muito preocupados, mas quem age? É hora de a humanidade fazer a eleição correta" e "erradicar" as armas nucleares", disse.

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