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Brasil e Turquia deixaram potências ocidentais em posição delicada frente ao Irã

Agência France-Presse
postado em 18/05/2010 16:01
O acordo para a troca de urânio que foi anunciado na segunda-feira pelo governo iraniano, deixou os ocidentais em uma posição delicada para rejeitar um acordo negociado por Brasil e Turquia, consideraram vários especialistas.

Céticos em relação à sinceridade dos iranianos, os europeus receberam com reservas o anúncio desse acordo que foi concluído no momento em que os Estados Unidos querem impor na ONU uma resolução que prevê novas sanções contra o Irã, suspeito de querer obter a arma atômica.

[SAIBAMAIS]Mas nesta terça-feira (18/5), o presidente francês Nicolas Sarkozy manifestou seu "pleno apoio" ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pelos "esforços realizados" com Teerã, deixando evidente uma mudança de estratégia por parte da França.

A China expressou o seu "apoio" ao acordo ao qual conferiu "importância", de acordo com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu.

Segundo especialistas consultados pela AFP, a participação do Brasil e da Turquia, dois dos dez membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU e membros do G20, além de democracias e potências emergentes, torna delicada qualquer reação mais forte.

"Seguir como se nada tivesse acontecido, seria o mesmo que isolar os ocidentais, não frente a Rússia e China, e sim em relação aos países emergentes do sul", considerou Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), em Paris.

Este acordo mostra "que os países ocidentais membros do Conselho de Segurança já não podem solucionar seus problemas entre eles e devem levar em consideração os países emergentes", considerou Olivier Meier, do Instituto de Pesquisas sobre a Paz e a Política de Segurança da Universidade de Hamburgo.

"É o reflexo do papel econômico cada vez maior desempenhado por esses países", afirmou, antes de ressaltar que, por exemplo, "o Brasil, desenvolve seu próprio programa nuclear e não quer que os países que tradicionalmente possuem essa tecnologia ditem as regras" a serem seguidas.

François Heisbourg, da Fundação de Pesquisas Estratégicas (FRS), ressaltou que os principais pontos do acordo se parecem com a proposta formulada em outubro pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

"Se os detalhes do acordo forem satisfatórios -prazo de troca e forma do combustível que será fornecido- não poderão rejeitá-lo. Seria rejeitar o que a AIEA e os ocidentais" propuseram, considerou.

As grandes potências "estão diante de algo muito difícil de rejeitar", indicou, referindo-se aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, China, Rússia, França e Grã-Bretanha) e Alemanha, que participam das negociações sobre o programa nuclear iraniano.

"Os países emergentes têm cada vez mais peso na diplomacia internacional", destacou Mehdi Mekdour, especialista em assuntos iranianos do Grupo de Pesquisas e Informações sobre Paz e Segurança em Bruxelas.

"Brasileiros e turcos fizeram mais em dois dias do que França e Estados Unidos em quase um ano", considerou Mekdour.

O acordo estipula que o Irã envie para a Turquia 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido (em 3,5%) para ser trocado em um ano por 120 quilos de combustível enriquecido em 20% para seu reator de pesquisas nucleares em Teerã, segundo o Irã.

Outros especialistas se mantêm céticos.

"Sou muito cético em relação ao acordo, pois não se trata somente do reator científico. O restante do programa nuclear continuará", considerou Svenja Sinjen, especialista da Fundação Alemã para Política Exterior (DGAP).

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