postado em 19/05/2010 09:24
A reunião de cúpula entre os líderes da União Europeia (UE) e da América Latina e Caribe (ALC), realizada ontem em Madri, não teve resultados concretos para os dois grandes grupos regionais. Mas o encontro serviu de pano de fundo para que o Mercosul reabrisse as negociações com a UE e para que a ALC e países sul-americanos ; como Colômbia e Peru ; fechassem acordos de livre comércio com os europeus. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a decisão da UE e do Mercosul de retomarem as negociações ;pode ser um estímulo; para reabilitar a Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC). ;Ali, o desafio é ainda maior e mais importante. Com um acordo bem sucedido e equilibrado, teremos uma ferramenta importante para combater a desigualdade;, disse Lula.O brasileiro celebrou a retomada das negociações com a UE. ;Espero que prevaleça o interesse maior e compartilhado de construir riqueza e prosperidade, de gerar mais comércio e investimentos, mais trabalho para os europeus e para cidadãos do Mercosul;, declarou. As negociações para um acordo de livre comércio entre os blocos começaram há 10 anos e estavam paradas há seis.
Franklin Trein, coordenador do Programa de Estudos Europeus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), crê que a reunião UE-ALC foi importante, ;uma vez que Lula estava voltando de uma iniciativa de altíssimo risco político e da qual, mesmo não tendo colhido todos os frutos esperados, saiu-se bem;. ;A oportunidade do encontro com líderes europeus e com nossos vizinhos permitiu-lhe transmitir detalhes do encontro em Teerã e passar o sentimento de que houve um avanço;, comentou Trein, em entrevista ao Correio, por e-mail. ;O Brasil marcou pontos importantes com sua política de diálogo, de não intervenção, de respeito à soberania.;
Assinatura
Os centro-americanos assinaram com os europeus o primeiro acordo de livre comércio extra-regional da UE. No entanto, a próxima rodada de negociações com o Mercosul ficou para julho. ;A dificuldade de se chegar a um acordo com o Mercosul se deve ao fato de que há conflitos de interesse muito maiores entre a UE e os países da parte sul das Américas. Nós concorremos com os europeus na produção agrícola, uma vez que nossos preços são inferiores e nossa capacidade de produção já chegou a volumes consideráveis;, destaca Trein.
Rodrigo Lima, gerente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), concorda. ;O acordo do Mercosul é mais denso. Envolve propriedade intelectual e preocupação com o meio ambiente.; Para ele, europeus e sul-americanos devem convencer os setores nacionais relutantes. ;É uma relação que pode se tornar ganha-ganha, mas precisa ser debatida a fundo.;
Em defesa dos direitos dos imigrantes
Um dos pontos mais difíceis da reunião UE-ALC foi o pedido dos presidentes latino-americanos aos colegas europeus para reconhecer os direitos dos imigrantes. ;Vemos com muita preocupação o tratamento discriminatório aos imigrantes nos países desenvolvidos;, disse a presidenta argentina, Cristina Kirchner, que pediu ao bloco europeu para evitar ;as leis discriminatórias; em relação à imigração.
A líder argentina ressaltou a tentação de culpar os trabalhadores estrangeiros pela crise econômica e lembrou que a maioria dos imigrantes ocupa postos de trabalho rejeitados pelos nacionais. Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também pediu aos países da União Europeia (UE) que ;deem um exemplo; na gestão da migração, com soluções justas e solidárias. ;Como sociedades de imigrantes e emigrantes, muitos países que estão aqui precisam dar exemplo, encontrar soluções que atendam aos requisitos de justiça e solidariedade;, disse Lula, ao receber em Madri o prêmio Nova Economia Forum, em reconhecimento ao desenvolvimento econômico e à coesão social. O brasileiro destacou que a imigração é ;um teste para a construção de nossas sociedades; e ;um desafio para todos aqueles que acreditam no conceito da coesão social;.
Por sua vez, o premiê espanhol e presidente rotativo da UE, José Luis Rodríguez Zapatero, respondeu que ;leva em conta; o impacto da crise sobre os imigrantes latino-americanos na Europa e disse que se ;responsabiliza;. A Espanha conta com 12% de população estrangeira e um quarto dela é formada por latino-americanos. O desemprego atinge 20% dos habitantes e 30% dos imigrantes.