Agência France-Presse
postado em 19/05/2010 13:15
TEERÃ- Teerã reagiu nesta quarta-feira à ameaça de um endurecimento das sanções da ONU contra a República Islâmica, acusando as grandes potências de se desacreditarem ao seguirem por esta via, apesar da oferta iraniana de trocar combustível nuclear no exterior.O Conselho de Segurança da ONU examinou na terça-feira um novo projeto de sanções punindo o Irã por seu programa nuclear, principalmente sua política de enriquecimento de urânio.
Esse exame foi efetuado no dia seguinte ao anúncio feito por Teerã de uma proposta de depositar combustível nuclear na Turquia sob os auspícios de Brasil e Turquia e apresentada como uma primeira etapa para uma solução para a crise nuclear iraniana.
"A questão das sanções está ultrapassada", afirmou Ali Akbar Salehi, diretor da Organização de Energia Atômica iraniana e vice-presidente, acrescentando que "as grandes potências se desacreditam com a opinião pública" ao ignorar a iniciativa de iranianos, turcos e brasileiros.
"Elas sentem que pela primeira vez os países emergentes podem defender seus direitos no cenário internacional sem precisarem das grandes potências, e isso é duro de aceitar para elas", considerou o chefe do programa nuclear iraniano.
"Devemos ser pacientes porque elas (...) não atingirão seus objetivos", acrescentou, esperando que esta nova resolução não seja adotada pelo Conselho de Segurança graças a "pessoas racionais (....) que impedirão uma decisão como esta".
O mesmo discurso foi adotado pelo chefe da diplomacia, Manuchehr Mottaki, para quem "não há chance alguma de que esta resolução seja adotada". "Não levamos estas medidas a sério, as nações que tentam impor sanções eram minoritárias", disse à rede iraniana Al-Alam.
Um alto conselheiro do presidente Mahmud Ahmadinejad considerou que "o que se disse sobre a imposição de sanções ao Irã é ilegal". "Esperamos que decidam ter uma abordagem razoável em direção a um acordo", declarou Mokhtaba Samareh Hachémi.
O projeto de novas sanções contra o Irã, suspeito de tentar obter a arma nuclear, recebeu na terça-feira o apoio dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, inclusive da China, que era a principal defensora e parceira econômica de Teerã.
A proposta de iranianos, turcos e brasileiros prevê a troca na Turquia de 1.200 quilos de urânio iraniano levemente enriquecido (3,5%) por 120 quilos de combustível enriquecido a 20% fornecido pelas grandes potências e destinado ao reator de pesquisas nucleares para fins médicos de Teerã.
Mas Teerã anunciou ao mesmo tempo a sua intenção de continuar a produzir urânio enriquecido a 20%, o que, segundo Washington, foi um elemento essencial para convencer os membros do Conselho a apoiar uma nova resolução.
Salehi indicou que Teerã "prepara a carta" confirmando sua proposta oficialmente à Agência Internacional de Energia Nuclear. Ela será "transmitida no prazo" anunciado de sete dias, indicou.
Três membros permanentes do Conselho de Segurança --China, Rússia e França-- consideraram a oferta iraniana "positiva", mas a secretária de Estado americana Hillary Clinton julgou que se trata apenas de uma simples tentativa de "diminuir a pressão" contra Teerã.
O projeto examinado pela ONU é "a melhor resposta que podíamos dar aos esforços feitos em Teerã nos últimos dias", considerou.
O Irã já está submetido a cinco resoluções da ONU condenando sua política nuclear, sendo três acompanhadas de sanções.
O novo projeto visa sobretudo a restringir as vendas de armas ao Irã e os investimentos iranianos no exterior, fornecendo meios de controle mais apurados à comunidade internacional.