Agência France-Presse
postado em 19/05/2010 14:46
Um ano depois da tragédia do Airbus AF447 Rio-Paris (228 mortos), um livro escrito por um repórter do jornal Le Figaro, que questiona a segurança nos voos da Air France chega às livrarias nesta quarta-feira (19/5), no mesmo dia em que a companhia aérea francesa deve anunciar um prejuízo operacional recorde no ano fiscal 2009/2010."A Air France tem que fazer uma verdadeira revolução cultural se deseja evitar um novo acidente", afirma o jornalista Fabrice Amedeo em "La face cachée de Air France" (A face oculta da Air France), no qual denuncia "estatísticas de segurança indignas" para o nível da empresa.
O lançamento do livro coincide com o anúncio pela Air France - após o fechamento da Bolsa de Paris, de um prejuízo operacional que deve alcançar 1,3 bilhão de euros no exercício 2009/2010, encerrado em março, o que representa o pior resultado desde a fusão com a holandesa KLM em 2004.
"A Air France tem uma frota de aviões ultramoderna, pilotos que estão entre os melhores do mundo, mas as estatísticas de segurança de uma companhia de segunda categoria", destaca o jornalista.
Os números são uma consequência de duas grandes catástrofes na década, o acidente do Concorde em 25 de julho del 2000 (113 mortos) e a queda do voo Rio-Paris, em 1; de junho de 2009 (228 mortos), segundo Amedeo.
"O problema não é, ao que parece, técnico, e sim cultural: a gestão social praticada durante uma década e um certo relaxamento têm uma parte de responsabilidade nesta realidade", explica.
Segundo uma classificação citada no livro, mesmo antes da tragédia Rio-Paris, a Air France estava no 21; lugar na Europa e 65; do mundo na lista do nível de segurança, bem atrás das principais concorrentes europeias, British Airways e Lufthansa, que ocupam o sprimeiros lugares.
A Air France rebateu em um comunicado que "a segurança da companhia responde aos parâmetros mais exigentes da indústria aeronáutica internacional".
"É certo que a Air France registrou três acidentes em 19 anos, mas uma estatística baseada em três episódios em uma década não é uma estatística", destacou Pierre Sparaco, da Academia do Ar e do Espaço.
Ele também fazia referência ao acidente com um Airbus A340 em Toronto em 2005, que deixou 40 feridos.
A respeito das sondas Pitot (sensores de velocidade) defeituosas, consideradas uma das causas da catástrofe do voo Rio-Paris, Amedeo não hesita em destacar uma "falha coletiva", já que leva em consideração os incidentes já apontados nos instrumentos de medição da velocidade.
O jornalista afirma que o acidente poderia ter sido evitado se a companhia tivesse equipado as aeronaves com um sistema de pilotagem de auxílio chamado "BUSS", como a Lufthansa fez a partir de 2008.
"A direção de material da Air France se negou a instalar estes equipamentos, solicitados por muitos pilotos, ao argumentar que não eram confiáveis"", conta.
Para o autor, vários fatores pesam no quadro geral: "gestão deficiente, ausência de uma cultura de sanção, pilotos intocáveis".
"A Air France é uma companhia onde o questionamento é estruturalmente impossível e onde, às vezes, não são adotadas decisões de senso comum".