Agência France-Presse
postado em 19/05/2010 17:42
Os Estados Unidos continuaram impulsionando nesta quarta-feira (19/5) na ONU um novo pacote de sanções contra o Irã por seu programa nuclear, apesar da resistência de Brasil e Turquia, favoráveis ao diálogo.As potências nucleares temem que o Irã utilize seu programa nuclear para obter a bomba atômica. Teerã sempre negou essas suspeitas, defendendo seu direito de desenvolver energia para fins pacíficos.
Uma iniciativa diplomática, impulsionada pessoalmente nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela Turquia buscou abrir uma saída negociada à controvérsia.
A proposta é que o Irã deposite 1.200 kg de urânio levemente enriquecido na Turquia em troca de combustível para seu reator nuclear em Teerã, enriquecido a 20%.
No entanto, os Estados Unidos disseram que o acordo representou uma manobra de Teerã para ganhar tempo, e jogaram rapidamente um balde de água fria na gestão brasileira, apresentando na terça-feira um projeto de resolução com mais sanções contra o Irã.
As negociações sobre o projeto de resolução continuaram nesta quarta-feira no nível de especialistas. O texto foi apoiado por membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã Bretanha).
O projeto impede que o Irã invista no exterior em certas atividades nucleares e permite a inspeção de navios iranianos em alto-mar.
A proposta proíbe também a venda ao Irã de tanques, veículos blindados, aviões e navios de guerra, assim como outras armas pesadas.
Lula, cuja gestão marcou uma inusitada intervenção da potência emergente em um terreno até então reservado ao clube das potências nucleares, advertiu nesta quarta-feira sobre um retrocesso nas negociações caso o Conselho de Segurança não mostre "disposição" para negociar.
"Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar-se com disposição de negociar, porque se não quiser negociar, será um passo atrás", advertiu Lula durante conferência sobre a economia brasileira em Madri.
Lula disse também que Brasil e Turquia, no acordo ao qual chegaram com o Irã, fizeram "exatamente o que os Estados Unidos queriam fazer há cinco ou seis meses".
"Qual era o grande problema do Irã? Que ninguém podia fazer com que o país se sentasse para negociar. A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que deveria assumir o compromisso com a Agência (Internacional de Energia Atômica, AIEA) e negociar, depositar seu urânio na Turquia. Isso foi feito", disse.
"Brasil e Turquia estão convencidos de que se pode dar uma chance às negociações e evitar medidas que criem obstáculos a uma solução pacífica", afirmaram os chanceleres de ambos os países em uma carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU.
Teerã reagiu, por sua vez, assegurando que as grandes potências serão desacreditadas ao insistir na via das sanções apesar da oferta iraniana facilitada por Brasil e Turquia.
"A questão das sanções está superada", afirmou Alí Akbar Salehi, chefe da Organização de Energia Atômica iraniana e um dos vice-presidentes do país.
Segundo Salehi, "as grandes potências estão desacreditadas diante da opinião pública" ao ignorar a iniciativa dos três países.
"Pela primeira vez, os países emergentes podem defender seus direitos no cenário internacional sem precisar das grandes potências, e é duro para elas aceitar isso", afirmou o responsável pelo programa nuclear iraniano.
A iniciativa de Brasil e Turquia suscitou particular preocupação em Israel, apontado pela comunidade internacional como detentor de arsenal nuclear, apesar de o país negar essa informação.
O Irã "manipulou" Turquia e Brasil "simulando aceitar" um acordo sobre o enriquecimento de uma parte de seu urânio na Turquia, segundo um alto funcionário israelense.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, confirmou na quarta-feira em Moscou que seu país, também dono de um poderoso arsenal nuclear, apoia o projeto de resoluções americano.