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Ladrão deixa museu com cinco telas, incluindo Picasso, avaliadas em 100 milhões de euros

postado em 21/05/2010 07:00
A 200 metros da Torre Eiffel, junto ao Rio Sena, um único homem mascarado, vestido de preto, invadiu o Museu de Arte Moderna de Paris. Na madrugada de ontem, ele escolheu cinco telas de pintores famosos, cortou-as cuidadosamente com estilete e deixou o prédio com as obras avaliadas em 100 milhões de euros (cerca de R$ 234 milhões). A polícia tenta hoje descobrir onde estarão O pombo e as ervilhas, de Picasso; A Pastoral, de Henri Matisse; A Oliveira próxima a Estaque, de Georges Braque; A Mulher com leque, de Modigliani; e Natureza morta com candelabros, de Fernand Léger (veja o quadro nesta página).

Inicialmente, a polícia afirmou que as obras custavam 500 milhões de euros. Horas depois, o museu francês corrigiu a informação e anunciou que elas somariam 100 milhões de euros. O ;rebaixamento; no preço das telas não diminui a tristeza de parisienses e de turistas com o terceiro roubo de obras de arte na França em apenas seis meses. Quem tentou visitar ontem o Museu de Arte Moderna de Paris encontrou as portas fechadas, enquanto peritos trabalhavam no local.

Para Mônica Xexéo, diretora do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) do Rio de Janeiro, o valor das obras é imaterial. ;É uma lástima um roubo desses. Quem perde é toda a sociedade, de poder apreciar essas obras. Perde-se toda uma memória. É uma lástima para nós, pesquisadores e historiadores, e para o público em geral;, afirma ao Correio, por telefone. Mônica também destaca que é muito difícil comercializar essas grandes coleções. ;Não dá para sair por aí e colocar no mercado. É um material super-registrado e catalogado. Os museus da França têm anos de experiência nesta questão da catalogação do inventário e os acervos estão bem mapeados;, afirma.

Quem tentou visitar ontem o Museu de Arte Moderna de Paris encontrou as portas fechadas, enquanto peritos trabalhavam no localA historiadora de arte Elizabeth Pereira Gibson afirma que esse tipo de roubo costuma ser encomendado por ;gente riquíssima;. ;As obras roubadas acabam em grandes mansões, só para o prazer do colecionador;, conta à reportagem. Elizabeth reconhece que existe uma rede ;altamente especializada;. Segundo ela, na maioria das vezes, o roubo costuma ser ;encomendado; pelo gosto do colecionador ou pela raridade da peça. Mônica prefere não traçar um perfil do ladrão, mas alerta que a obra pode se perder ou acabar com ;um louco que a guarda em casa;.

Câmeras

O furto foi descoberto às 7h de ontem, registrado pelas imagens das câmeras de segurança. Funcionários do Museu de Arte Moderna de Paris descobriram que um vidro tinha sido quebrado na parte de trás da ala leste do Palais de Tokyo, construído durante a Exposição Mundial de 1937. A janela por onde teria entrado o ladrão ficava no nível do solo e dava acesso direto à sala de exposição. Três guardas faziam a segurança na madrugada de ontem.

O museu conta com alarmes sofisticados e televisão de circuito fechado. ;Temos que deixar que a polícia descubra como o sistema de segurança foi burlado, especialmente porque os três guardas nada viram e não reagiram;, disse o representante cultural da prefeitura de Paris, Christophe Girard.

;É um museu de primeiro mundo, em um país que tem anos de tradição e exporta metodologia de procedimentos de museus;, afirma Mônica Xexéo, ao reconhecer que a manutenção da segurança nos museus é uma tarefa de aprendizado contínuo. ;É sempre uma preocupação. A questão da segurança é permanente e ocorre em vários níveis ; treinamento de funcionários, segurança eletrônica e vários procedimentos dentro da instituição, como a revisão dos acervos;, explica. Por outro lado, a investigação desse tipo de crime também exige policiais preparados. ;Os roubos de obra de arte são muito camuflados, mas a polícia se especializa para fazer frente a esse pessoal e realiza cursos para reconhecer as obras e analisar os roubos;, diz Elizabeth.

; Principais roubos de obras de arte
Conheça os roubos mais ousados registrados em museus e casas de leilão ao redor do mundo neste século:

AGOSTO DE 1911
A obra de arte mais famosa da história, a Mona Lisa -- de Leonardo da Vinci --, foi furtada do Museu do Louvre, em Paris. O autor do crime é um empregado que escondeu a tela sob o casado. O quadro foi resgatado dois anos depois, quando o criminoso tentava vendê-lo para diretores da Galeria Uffizi, em Florença.

SETEMBRO DE 1972
Ladrões armados carregaram 18 peças do Museu de Belas Artes de Montreal. Entre as telas roubadas, um raro quadro de Rembrandt, cujo valor foi estimado em US$ 1 milhão. As obras jamais foram recuperadas.

MAIO DE 1986
Estimadas em US$ 40 milhões, 18 pinturas foram levadas da casa de leilões Russborough House, na Irlanda. Entre elas, está o Senhora Escrevendo Cartas com Criada, de Johannes Vermeer. A maioria das obras jamais foi recuperada.

DEZEMBRO DE 1988
O pintor holandês Vincent Van Gogh foi a "vítima" dos ladrões, no museu Koeller-Mueller, na Holanda. Três obras, estimadas em até US$ 90 milhões, foram subtraídas, mas recuperadas depois.

MARÇO DE 1990
Treze peças do Museu Isabella Stewart Gardener, em Boston (EUA), foram roubadas. Entre elas, estão Vermeer, Rembrandt, Manet e Degas. O prejuízo chegou a US$ 500 milhões e as obras nunca foram recuperadas.

ABRIL DE 1991
US$ 500 milhões também foi o prejuízo do Museu Vang Gogh, em Amsterdã, após o roubo de 20 quadros. Por sorte, as obras foram recuperadas depois, dentro de um carro abandonado.

AGOSTO DE 2004
Em um dos crimes mais ousados da história, três ladrões entraram no Museu Munch, em Oslo (Noruega), e saíram com os quadros Madonna e O Grito, de Edward Much. Os quadros foram encontrados dois anos depois.

FEVEREIRO DE 2006
Um dos roubos mais fantásticos do Brasil ocorreu no Museu Cháraca do Céu, em Santa Tereza (RJ). Os obras Os Dois Balcões (Salvador Dalí), A Dança (Pablo Picasso), Marine (Claude Monet) e Jardim de Luxemburgo (Henri Matisse), avaliadas em US$ 50 milhões, desapareceram.

DEZEMBRO DE 2007
Mais um crime no Brasil, dessa vez no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Ladrões carregaram as obras Retrato de Suzanne Bloch (Picasso), estimado em US$ 50 milhões, e O Lavrador de Café (Cândido Portinari), de US$ 5,5 milhões. Ambas foram recuperadas em uma casa, também em São Paulo, um mês depois.

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