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Negociações com o Irã estão piores do que antes

Vice-presidente do Parlamento do Irã ameaça cancelar o acordo fechado com o Brasil e a Turquia, caso o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprove novas sanções. Nos bastidores da ONU, a França assegura a existência de votos suficientes para punir o país de Mahmud Ahmadinejad

postado em 21/05/2010 07:13
A ameaça de retrocesso nas negociações com o Irã já anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reforçada ontem pelo vice-presidente do Parlamento iraniano, Mohammadreza Bahonar. Segundo Bahonar, um dos principais nomes da maioria governista na Assembleia Consultiva Islâmica, se as novas sanções forem aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, Teerã cancelará o acordo firmado nesta semana para a troca de urânio. Se depender das contas feitas pelo governo francês, Brasil e Turquia podem começar a lamentar o esforço em vão. O chanceler francês, Bernard Kouchner, assegurou que o projeto apresentado por Washington já conseguiu 12 dos 15 votos do Conselho ; três a mais do que o necessário para sua aprovação.

;Existem três países que vão apresentar algumas reticências. Mas o texto não é definitivo, será debatido pelos membros não permanentes do Conselho de Segurança;, disse Kouchner, após se reunir, na capital francesa, com a colega dinamarquesa, Lene Espersen. Os três seriam Brasil e Turquia ; eles defendem que o avanço conseguido com o acordo sobre a troca deve ser considerado antes de falar em mais embargos ;, e o Líbano, sobre o qual o Irã mantém bastante influência por apoiar o Hezbollah. Na conta feita por Paris, entram os aparentemente indecisos Bósnia, Uganda e Nigéria, além de Áustria, Japão, Gabão e México, que devem, de fato, votar a favor das sanções (veja o quadro).

A pressão sobre os membros rotativos tem se intensificado nos últimos dias, com países a favor e contrários às sanções tentando garantir mais votos. Desde a terça-feira, quando o Conselho se reuniu em Nova York, a pedido de Washington, para apresentar a versão das sanções aprovada pelo grupo 5 1 (composto pelos membros permanentes e a Alemanha), o chanceler Celso Amorim falou, por telefone, com colegas de seis dos outros nove membros não permanentes ; Japão, Áustria, Líbano, Bósnia, Nigéria e Turquia. Hoje, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chega a Tóquio para uma breve visita, na qual também deve tentar trazer Tóquio para seu lado.

;Se a quarta rodada de sanções for aprovada, não continuaremos comprometidos com a declaração de Teerã, e o envio de combustível para fora do Irã será cancelado;, disse o vice-presidente do Parlamento iraniano. Antes, o Irã havia confirmado que enviará à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), até a próxima segunda-feira, um documento no qual reafirma o compromisso assumido com a Turquia e o Brasil. Ontem, o presidente Lula criticou mais uma vez as potências que defendem as sanções. ;Tem gente que não sabe fazer política se não tiver um inimigo, e sou daqueles que só sei fazer política construindo amigos;, afirmou. ;Há quantos anos vocês ouvem essa briga entre Estados Unidos e Irã? Fomos ao Irã e conseguimos, depois de 18 horas de reunião, depois de duas viagens do Celso Amorim, aquilo que o Conselho de Segurança queria que fosse feito há seis meses;, disse, acrescentando que pretende ver os ;outros cumprirem aquilo que queriam que o Irã fizesse;.

Votação
Kouchner prevê que o texto será ;discutido, melhorado e talvez votado; a partir do próximo mês. O rascunho de 10 páginas prevê a vigilância sobre todas as transações com bancos iranianos, inclusive o Banco Central do país, para evitar que não tenham vínculo com os programas nuclear ou de mísseis. Também estabelece um regime de inspeções a embarcações e aviões suspeitos de transportar itens relacionados ao programa nuclear, além de aumentar a lista das pessoas e empresas com bens congelados e viagens proibidas. ;É um texto bastante forte, que inclui sobretudo proibições sobre o armamento;, opinou o chanceler francês.

Sobe tensão entre Coreias

À frente da articulação que poderá culminar com a adoção de novas sanções contra o Irã, os Estados Unidos advertiram ontem a Coreia do Norte que o ataque com torpedo que teria afundado, em março passado, um navio de guerra sul-coreano foi uma ;séria provocação;, que não ficará sem resposta. ;Definitivamente, haverá consequências;, alertou, mais de uma vez, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley.

A advertência foi feita depois que o grupo de investigadores internacionais ; que incluiu especialistas de Estados Unidos, Austrália, Grã-Bretanha e Suécia ; concluiu que um submarino norte-coreano foi efetivamente o responsável pelo disparou contra a corveta Cheonan, em uma região disputada do Mar Amarelo. No naufrágio, morreram 46 marinheiros sul-coreanos. ;Não há outra explicação plausível;, sustenta o relatório final das investigações, divulgado ontem.

Clique para ampliarA Coreia do Norte reagiu qualificando as conclusões de ;invenções;, enquanto a Coreia do Sul e as potências ocidentais afirmaram que os resultados dos estudos são confiáveis. Por sua vez, a China classificou o episódio de ;um infeliz incidente; e pediu diálogo entre aos governos das duas Coreias.

Desafio à paz
Logo após a divulgação do relatório, o governo norte-americano emitiu comunicado qualificando o incidente de ;um ato de agressão;. Para a Casa Branca, o ataque representou ;um desafio à paz e à segurança internacional, assim como uma violação ao acordo de armistício; que colocou fim à guerra de 1950-1953.

De acordo com o secretário de Defesa americano, Robert Gates, o Pentágono está em ;estreita consulta; com Seul para preparar uma resposta. Gates enfatizou, no entanto, que caberá à Coreia do Sul decidir a melhor forma de atuar. As conclusões do relatório de investigação serão um dos temas que a secretária Hillary Clinton vai abordar na viagem iniciada ontem pela Ásia, que inclui visitas ao Japão, à China e àCoreia do Sul.

Apesar das advertências, os 28 mil soldados que os Estados Unidos mantêm na Coreia do Sul não foram colocados em estado de prontidão, depois da acusação à Coreia do Norte, de acordo com o chefe de Estado Maior do Exército americano, Mike Mullen.

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