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Coreia do Norte rompe com o Sul

Pyongyang também expulsará funcionários sul-coreanos e abolirá pacto de não agressão

;O Comitê pela Reunificação Pacífica da Coreia formalmente declara que, a partir de agora, colocará em vigor as medidas resolutas para congelar totalmente as relações inter-coreanas, abolir totalmente o pacto de não agressão entre o Norte e o Sul e suspender por completo a cooperação inter-coreana.; O tom do comunicado de Pyongyang, transmitido pela agência de notícias KCNA (da Coreia do Norte), elevou o nível de tensão no sul da Ásia e deixou a região assombrada com a possibilidade de uma guerra, cujas consequências seriam desastrosas.

Os Estados Unidos classificaram a decisão como ;bizarra; e lembraram que o rompimento dos laços com Seul apenas prejudicará a própria população norte-coreana. ;A Coreia do Sul é uma das mais dinâmicas economias do mundo. A Coreia do Norte é uma economia falha e ela mesma admite. É incapaz de cuidar de seus cidadãos, é incapaz de alimentar seus próprios cidadãos;, declarou P. J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

No texto divulgado pela KCNA, a Coreia do Norte avisa que expulsará todos os sul-coreanos que trabalham na Zona Industrial de Kaesong ; área situada ao norte da linha de demarcação que separa os dois países. Todos os navios e aviões sul-coreanos também terão acesso proibido às águas territoriais e ao espaço aéreo norte-coreano. Além das medidas anunciadas por Pyongyang, outro ingrediente colocou mais pólvora em um barril cada vez mais instável. Segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, um oficial de Seul acusou o Sul de invadir águas norte-coreanas no Mar Amarelo, entre 14 e 24 de maio. Por meio de um comunicado, o chefe militar afirmou que ;dezenas de navios de guerra; sul-coreanos teriam cometido a ;intromissão;. ;Essa é uma provocação deliberada, dirigida a espalhar um conflito militar na costa ocidental da Coreia e empurrar para uma etapa bélica as presentes relações norte-sul;, afirma o texto. ;Se as invasões do Sul em nossas águas territoriais continuarem, o Norte será forçado a tomar medidas práticas para defender-se;, acrescenta.

Para o sul-coreano Won K. Paik, cientista político da Universidade Central de Michigan, a represália de Pyongyang como forma de agravar a tensão já era esperada. ;A ameaça da Coreia do Norte de retaliações militares é uma resposta ao anúncio de Seul sobre a mesma política;, afirma. ;Estamos mais próximos agora de um conflito militar? Sim, estamos;, admite. No entanto, ele sustenta que a posse armas nucleares pela Coreia do Norte e a manutenção de arsenal atômico pelos EUA na Península Coreana, desde a Segunda Guerra Mundial, reduzem as possibilidades de conflito.

Culpa
Paik acredita que a situação atingiu um patamar superior à ;demonstração de força;. ;Acredito que o uso de força por Pyongyang deflagraria a retaliação do Sul, o que culminaria no fim do regime de Kim Jong-il e da própria Coreia do Norte;, afirma, ao lembrar que a atual crise envolve seis grandes países ; além das Coreias, os EUA, a China, o Japão e a Rússia ; e mais de 2 bilhões de pessoas. ;A reação dos norte-coreanos indica uma admissão de culpa no naufrágio da corveta Cheonan (veja o quadro). Se eles não tivessem qualquer envolvimento com o ataque marítimo, então a escalada de tensão não teria senso lógico;, comenta.

[SAIBAMAIS]Segundo o diretor do Centro para Política EUA-Coreia do instituto Asia Foundation, Scott Snyder, Pyongyang está respondendo, de modo equivalente, a todas restrições anunciadas por Seul. ;A situação na Península Coreana não atingia esse nível de tensão desde a metade da década de 1990. Os dois países estão restringindo suas interações a condições experimentadas naquela época;, disse à reportagem, também por e-mail.

Dentes à mostra

Entenda a pior crise entre as Coreias em mais de 10 anos

Ataque naval
Em 26 de maio passado, a corveta sul-coreana Cheonan sofreu uma explosão e afundou, em frente à Ilha Baengnyeong ; perto da fronteira intercoreana.

O incidente matou 46 marinheiros

Investigação
Peritos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul concluíram que um torpedo da Coreia do Norte afundou a Cheonan. Peças do armamento teriam sido encontradas com os destroços da embarcação

Reação sul-coreana
O presidente Lee Myung-bak anunciou o corte das relações econômicas e comerciais com Pyongyang e ordenou a proibição do tráfego de embarcações da Coreia do Norte por águas territoriais sul-coreanas. Seul também divulgou a realização de exercícios militares com Washington no Mar Amarelo

Resposta norte-coreana
Após acusar a fabricação de provas por parte de Seul, o regime do ditador Kim Jong-il cortou todas as relações com o vizinho, expulsou funcionários sul-coreanos de uma fábrica no norte da fronteira e ameaçou reagir militarmente a qualquer agressão