Agência France-Presse
postado em 26/05/2010 18:01
Execuções de civis por militares, espionagem a opositores, deslocamento em massa de populaçoes e um "pobre" resultado da lei de desmobilização de paramilitares prejudicam a gestão do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, e afetam a campanha do candidato que se apresenta como seu sucessor, Juan Manuel Santos.Portando fotografias, recortes de jornais e pedidos a tribunais internacionais para que cuidem de seus casos, mães e esposas de jovens da localidade de Soacha pedem que os assassinatos extrajudiciais de seus parentes estejam no centro da campanha presidencial.
"Como pode pretender (o ex-ministro da Defesa) Santos tornar-se o próximo presidente, quando foi ele quem, como chefe dos militares, ordenou o assassinato de nossos familiares, apresentando-os como guerrilheiros?", perguntou Kelly Ortiz, viúva de Daniel Andrés Pesca, uma das vítimas.
O candidato governista, que lidera as pesquisas de intenção de voto junto com o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, defende-se argumentando que foi ele quem denunciou esses crimes, ante as insistentes perguntas da imprensa.
A Colômbia apresenta um questionável balanço em matéria de direitos humanos. Com mais de 3 milhões de pessoas expulsas de seus lares pela violência, a um ritmo de 150 mil por ano, este país é, junto com Iraque e Sudão, a nação com o maior número de refugiados no mundo.
Além dos deslocamentos em massa, ocorreram mais de um milhão de mortes por massacres, segundo o Ministério Público, especialmente no fim dos anos 90 e início desta década.
Em outro ponto sensível, defensores dos direitos humanos questionaram o que consideram "pobres" ou "limitados" resultados da Lei de Justiça e Paz, de 2005, que concedeu benefícios a membros de esquadrões de ultradireita em troca de sua desmobilização, confissão de crimes e reparação das vítimas, destacando que até agora não foi dada a primeira sentença.
Além disso, denúncias de espionagem telefônica, ameaças e perseguições a magistrados, políticos de oposição, defensores de direitos humanos e jornalistas por parte do organismo de inteligência subordinado à presidência foram constantes na era Uribe, que nega sua responsabilidade nesses casos.
Analistas, como Lázaro Vivero, consideram que a violação de direitos humanos aumentou nos governos de Uribe (2002-2006 e 2006-2010) como consequência da política de "segurança democrática", bandeira da campanha política do presidente, que realizou um forte combate contra as guerrilhas.
"Uribe prometeu e aplicou durante seus oito anos de governo uma política de mão de ferro contra as guerrilhas. Para mostrar resultados, foi mais fácil assassinar civis para apresentá-los como rebeldes, em uma ação macabra e questionável", disse Vivero.
A ONU denunciou "assédio" e "perseguição" de defensores de direitos humanos, "inclusive por membros do governo de Alvaro Uribe", ao lamentar que, em 2009, 41 sindicalistas tenham sido assassinados na Colômbia e nove em 2010, em seu último informe.
Além disso, um total de 32 defensores de direitos humanos foram assassinados no ano passado na Colômbia, segundo o Programa Não Governamental de Proteção a Defensores de Direitos Humanos.