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EUA cobram reação à Coreia do Norte

Secretária de Estado, Hillary Clinton, visita Seul e diz que o mundo tem o "dever" de punir o governo norte-coreano pelo naufrágio de corveta

postado em 27/05/2010 05:02

Ativistas sul-coreanos protestam contra os vizinhos do norte: países em pé-de-guerra;Gangseong Daeguk;. A frase traduz um pilar do regime de Kim Jong-il e uma visão de como a Coreia do Norte sonha ser um dia. Na tradução literal, um ;grande e próspero país;. Mas o projeto nacional de Pyongyang esbarra no risco político representado por seu próprio governo, cujas ações levaram a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, a liderar uma campanha por punições imediatas, em resposta ao naufrágio da corveta sul-coreana Cheonan. ;Essa foi uma provocação inaceitável, por parte da Coreia do Norte, e a comunidade internacional tem a responsabilidade e o dever de responder a ela;, declarou a chefe da diplomacia dos Estados Unidos, em visita a Seul. Hillary defendeu uma ;resposta dura, mas calculada; à agressão marítima ocorrida em 26 de março passado. Mas uma reação à altura dependeria da concessão da China, aliada da Coreia do Norte.

Ao mesmo tempo em que aguarda o apoio de Pequim, a secretária deu carta branca ao governo de Lee Myung-bak, em relação à crise na Península Coreana. ;Estamos muito confiantes na liderança da Coreia do Sul, e a decisão dela sobre como e quando mover adiante é algo que respeitamos e apoiaremos;, destacou Hillary, que voltou a exortar Pyongyang a ;suspender a provocação e sua política de ameaças e de beligerância para com os vizinhos;. ;Nós trabalharemos juntos para traçar um curso de ação no Conselho de Segurança da ONU;, prometeu ela, ao anunciar ter abordado o assunto com a China e o Japão. As declarações foram dadas após encontro com o chanceler sul-coreano, Yu Myung-hwan.

[SAIBAMAIS]A postura firme de Hillary não surpreende o cientista político Won K. Paik, da Universidade Central de Michigan. ;Sua mensagem é uma evidência forte de que os Estados Unidos estão totalmente engajados em lidar com a Coreia do Norte, com um vasto leque de opções. Elas vão desde sanções econômicas, como a restrição de fluxo financeiro para a Pyongang, até escolhas diplomáticas, como uma resolução multilateral e sanções na ONU;, admite o sul-coreano. Paik não descarta, porém, o uso da coerção militar. ;Em caso de guerra, que acredito ser de baixa probabilidade, as consequências seriam óbvias: além dos custos humanos, um altíssimo nível de destruição. Ao menos 20 milhões de pessoas vivem em Seul;, lembra.

Yong Chen, da Universidade da Califórnia-Irvine, alerta que uma ofensiva em larga escala destruiria o regime de Kim Jong-il e provocaria sérios danos à economia da Coreia do Sul. ;Uma guerra significaria mais problemas para os Estados Unidos, que afetariam ainda China e Japão. Não haveria um vencedor ante esse cenário. Por isso, não haverá um embate militar a curto prazo;, aposta. O especialista reconhece que a crise atingiu um grande nível de incerteza e deve até mesmo se agravar.

Cuidado

De acordo com Chen, o tom e a extensão das medidas tomadas pela Coreia do Sul são ditados pelos EUA. ;A Coreia do Sul será cuidadosa e fará o que puder para evitar um conflito bélico ; mesma estratégia defendida por Washington;, acredita. Ele prevê o endurecimento da retórica e gestos simbólicos por parte dos atores da crise. Mas duvida até mesmo de sanções. ;O cenário mais provável é o prosseguimento das conversas entre as seis partes (Coreia do Norte, Coreia do Sul, EUA, Japão, China e Rússia).;[SAIBAMAIS]

Um dia após anunciar o rompimento das relações com a Coreia do Sul, a expulsão de funcionários sul-coreanos de uma zona industrial e a abolição do pacto de não agressão, a Coreia do Norte ameaçou fechar a última estrada que liga o país ao vizinho. Também decidiu cortar as linhas de comunicação. ;Nesta manhã, os dois trocaram documentos para a passagem através da Zona Desmilitarizada até o complexo industrial de Kaesong (norte da Coreia do Norte). Mas Pyongyang baniu investimentos no local e pediu às companhas que reduzam suas equipes;, afirma o americano Daniel Pinkston, do instituto Crisis Group, desde Seul. Ele lembra que os vizinhos renunciaram ao pacto de não agressão por várias vezes no passado. ;Há sempre a possibilidade de escalada acidental. A Coreia está sendo muito belicosa porque é fraca e tem ficado sob intensa pressão;, acrescenta.

As motivações da crise coreana

Por que a Coreia do Norte decidiu atacar a corveta sul-coreana Cheonan? Estrategistas e cientistas políticos têm algumas suposições:

Vingança
Em novembro de 2009, a Coreia do Sul provocou uma derrota humilhante ao país vizinho, em uma disputa naval na fronteira marítima. A Coreia do Norte teria sido obrigada a retirar seus navios da região, após proclamar-se ;invencível;.

Sucessão
Uma hipótese é de que o ditador Kim Jong-il esteja tentando assegurar a sucessão de seu filho caçula na dinastia familiar que dirige o país desde a Segunda Guerra Mundial. Para isso, precisa exibir força para a elite militar, colocada no topo da hierarquia da sociedade.

Extorsão
Os incidentes seriam uma forma de barganhar concessões políticas e econômicas com o Ocidente, em nova rodada de negociações. Kim Jong-il estaria interessado em assinar com a Coreia do Sul um tratado de paz permanente, em substituição ao armistício firmado após a Guerra das Coreias (1950-1953).

Tratado de paz
Kim Jong-il estaria buscando mais uma garantia de segurança regional do que uma ajuda econômica. O ataque à Cheonan seria uma forma de forçar os Estados Unidos a levarem mais a sério as demandas para se obter o tratado de paz com a Coreia do Sul.

Venda de armas
A Coreia do Norte depende das exportações de mísseis e de peças de artilharia. Ao disparar torpedos contra a corveta Cheonan, teria pretendido demonstrar suas capacidades para uma ofensiva naval.

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