Agência France-Presse
postado em 27/05/2010 17:58
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quinta-feira (27/5) em Washington que o Irã está usando o Brasil para ganhar tempo e que "é hora de ir ao Conselho de Segurança" das Nações Unidas.Ao responder questões de jornalistas sobre a nova estratégia de segurança da administração Barack Obama, divulgada nesta quinta-feira, Hillary disse que os brasileiros argumentam que a pressão feita pelos Estados Unidos por novas sanções na ONU contra o Irã poderá levar a um conflito.
"Nós discordamos... nós dissemos (aos brasileiros) que não concordamos com isso, que pensamos que os iranianos estão usando o Brasil, nós achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança", disse.
Hillary informou ainda ter dito ao chanceler brasileiro, Celso Amorim, que "nós achamos que dar tempo ao Irã, permitir que o Irã evite a unidade internacional em relação a seu programa nuclear torna o mundo mais perigoso, não menos".
A secretária de Estado completou que seu país e o Brasil têm "sérias divergências" sobre o programa nuclear iraniano, apesar de as relações bilaterais em outros temas serem boas.
"Sem dúvida, temos sérias divergências com a política diplomática do Brasil em relação ao Irã", disse Hillary, nas declarações mais diretas feitas até agora sobre como vê a negociação brasileira e turca com os iranianos sobre seu programa nuclear.
[SAIBAMAIS]"Mas nossa discordância não mina nosso comprometimento de ver o Brasil como um país amigo e parceiro", completou, questionada sobre como Washington enxergava o papel do Brasil na diplomacia global.
"Nós queremos uma relação com o Brasil que resista ao teste do tempo", acrescentou.
Os Estados Unidos acusam o Irã de querer desenvolver armas atômicas, algo que é negado pelos iranianos, que afirmam que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.
O acordo tripartite, firmado no dia 17 de maio em Teerã com Brasil e Turquia, prevê a troca na Turquia de 1.200 kg de urânio iraniano enriquecido a 3,5% por 120 kg de combustível enriquecido a 20% destinado ao reator de pesquisas médicas de Teerã.
Com este acordo, o Irã pretende tranquilizar a comunidade internacional sobre seu programa nuclear.
No entanto, no dia 18 de maio, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas acertaram uma série de sanções contra o país, jogando por terra os esforços realizados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, para resolver a crise.
Um projeto de resolução, elaborado por Estados Unidos e apoiado por França, Rússia, China e Grã-Bretanha, prevê sérias sanções contra o Irã, que ficará proibido de investir no exterior em certas atividades sensíveis, terá seus navios inspecionados em alto mar, e sofrerá embargo sobre a compra de armas pesadas.
Na ocasião, Hillary Clinton agradeceu aos esforços de Brasil e Turquia, mas destacou as diversas reservas de Washington sobre o acordo tripartite, com a intervenção direta de Lula.
O projeto de punições proíbe a venda ao Irã de "oito novas categorias de armas pesadas, como tanques, veículos blindados de combate, sistemas de artilharia de grosso calibre, aviões de combate, helicópteros de ataque, navios de guerra e mísseis ou sistemas de mísseis".
As sanções ampliam ao alto mar as inspeções de navios suspeitos procedentes ou com destino ao Irã, reforçando a resolução 1803, de março de 2008.
O texto envolve ainda a lista de pessoas e entidades ligadas aos programas nuclear e balístico iranianos, que poderão sofrer o congelamento de seus bens no exterior e ter vistos cancelados.
No setor bancário, os Estados impedirão o funcionamento em seu território dos bancos iranianos que têm um potencial papel na proliferação, e a impedir que suas instituições financeiras sob suspeita abram sucursais no Irã.
Nesta quinta-feira, a secretária de Estado declarou que o Brasil teve papel chave no Haiti após o terremoto de janeiro e na promoção de acordos internacionais na luta contra as mudanças climáticas.
Hillary disse também que Estados Unidos e Brasil têm relações comerciais "fortes".