O presidente colombiano, Álvaro Uribe, vai às urnas neste domingo (30/5) preocupado com quem será, nos próximos quatro anos, a ;galinha; encarregada de chocar os ;ovinhos; que ele deixou na Casa de Nariño. Em entrevista à emissora Toca Stereo, de Fusagasugá, do departamento de Cundinamarca, Uribe disse que se preocupa muito com a sensação de que ;alguns (candidatos) têm propostas para matar a galinhazinha da Segurança Democrática; ; sua estratégia de guerra total às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). ;Estão propondo uma política de consentir, acariciar, dialogar com os terroristas, os sequestradores. E enquanto se propõe esse diálogo, os sequestradores aproveitam e sequestram 4 mil colombianos;, atacou. Uribe entende que a ;galinha; protege os ;três ovinhos; de seu governo: a segurança, a confiança para investimentos e a coesão social. E pediu aos eleitores para não ;trocarem a galinhazinha (que cuida) desses ovos;.
[SAIBAMAIS]As últimas pesquisas de opinião mostravam Antanas Mockus, do Partido Verde (PV), tecnicamente empatado com o candidato de Uribe, Juan Manuel Santos, do Partido Social da Unidade Nacional (conhecido como Partido da U). De acordo com o Centro Nacional de Consultoria (CNC), Santos levaria 35% dos votos, e Mockus, 34%. No fim da lista apareceriam a ex-chanceler Noemi Sanín, do Partido Conservador, com 12%; Rafael Pardo, do Partido Liberal, com 5%; Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo, também com 5%; e Germán Vargas Lleras, da Mudança Radical, com 4%. ;Sem querer profetizar, pois a rápida ascensão do candidato verde volatizou todos os prognósticos prévios às eleições, o mais provável é que no segundo turno, previsto para 20 de junho, concorram Santos e Mockus;, avalia o sociólogo Ricardo Angoso.
O cientista político Germán Ayala Osorio, da Universidade Autônoma do Ocidente, em Cali, ressalta que vários fatos têm deixado Uribe e seus seguidores ;nervosos;. ;A ;onda verde;, por exemplo, é considerada uma verdadeira ameaça, que certamente será enfrentada com a argúcia e os estratagemas costumeiros de um governo especialista no vale tudo, em criar atalhos, contanto que se perpetue, seja no corpo de Santos ou mesmo de Vargas Lleras ou Noemí;, afirma.
Para Osorio, a renúncia do general Freddy Padilla ao comando das Forças Militares, na semana passada, e as declarações do general Jorge Enrique Mora Rangel, antecessor de Padilla, alertando sobre o desânimo das tropas, seriam também ameaças para Uribe, que tenta influir na escolha dos cidadãos e empresários que o acompanham desde 2002. ;Somam-se a fatos anteriores o escândalo da espionagem de autoridades pelo DAS (agência de inteligência), os ;falsos positivos;(1) e o relatório ambivalente no qual o relator da ONU assinala que houve um padrão de execuções sumárias de civis, ainda que não possa indicar que os assassinatos obedeçam a uma política oficial, ou tenham sido cometidos nos marcos dela;, enumera o analista.
Santos, que foi ministro da Defesa de Uribe, defendeu-se na sexta-feira das acusações sobre os falsos positivos e disse que no governo Uribe sua gestão acabou com o esquema. ;Doeu meu coração quando se comprovou o que estava acontecendo. (...) No momento próprio foram tomadas ações efetivas, e assim espero atuar na Presidência perante situações similares, isto é, com contundência, transparência e efetividade;, prometeu o favorito de Uribe.
Em guarda
O governo mobilizou 350 mil soldados e policiais, além de mais de 11 mil seguranças privados, para garantir a votação de hoje em todo o país. Um relatório da Defensoria Pública, divulgado na quinta-feira, estimou que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) podem interferir nas eleições de 78 municípios. No mesmo dia, em comunicado publicado na página web da agência de notícias Anncol, a guerrilha convocou os colombianos a se absterem. As Farc consideram que todos os candidatos presidenciais ;prometem mais gastos militares e mais guerra;, deixando o país no ;mais profundo abismo das desigualdades;. ;As propostas, os programas e os compromissos com a nação foram substituídos pelo ataque grotesco e vulgar;, dispara o comunicado. O governo, a polícia e várias organizações civis temem que as Farc cometam atentados e ataques às forças de segurança hoje, especialmente nos departamentos onde estão mais presentes, como Cauca, Tolima, Huila, Caquetá e Putumayo, que descrevem um arco ao sul de Bogotá, projetado do litoral do Pacífico em direção ao leste.
1 - Recompensa macabra
A Colômbia soube estarrecida, no fim de 2008, que militares de variadas patentes assassinavam civis indefesos para depois fazê-los passar por guerrilheiros ;dados de baixa em combate;, o que valia recompensas e contava pontos para ascender na hierarquia. O escândalo, que ganhou o nome de ;falsos positivos;, veio à tona com a descoberta, em uma região de fronteira com a Venezuela, de 19 cadáveres de jovens desaparecidos em Soacha, cidade vizinha a Bogotá. Desde então, apareceram casos semelhantes no noroeste, no centro, no sudoeste e no sul do país. Até outubro de 2009, a Promotoria Pública investigava 946 denúncias de ;falsos positivos;, mas em fevereiro último 40 militares envolvidos foram liberados.