Agência France-Presse
postado em 31/05/2010 10:20
Pelo menos 19 ativistas pró-palestinos morreram em um ataque das forças navais de Israel na madrugada desta segunda-feira (31/5). A pequena frota de ajuda humanitária seguia para Gaza, território submetido a um bloqueio pelo Estado hebreu desde 2007.O desenlace sangrento desta missão internacional que pretendia levar mantimentos à sitiada Faixa de Gaza levou Israel a uma grave crise diplomática, na véspera de uma reunião entre o presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro israelense Benjamin
Netanyahu.
A ONU reagiu imediatamente se dizendo "chocada" e a União Europeia (UE) pediu uma "investigação completa" sobre o ocorrido. A Turquia advertiu para "consequências irreparáveis" nas relações com o Estado hebreu, com o qual mantinha uma aliança estratégica na região.
O governo dos Estados Unidos lamentou a perda de vidas humanas no ataque e informou que está analisando as circunstâncias em que foi realizado. ;Os Estados Unidos lamentam profundamente a perda de vidas humanas e o saldo de feridos, e atualmente tentam entender as circunstâncias nas quais aconteceu a tragédia", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Bill Burton, em um comunicado.
Israel acusa os passageiros da "Frota da Libertade" de terem iniciado a violência ao abrir fogo, uma versão contestada pelos ativistas. A ação aconteceu em águas internacionais por volta das 5h locais (23h de Brasília, domingo).
As imagens filmadas por um barco turco, e disponibilizadas na internet, mostram oficiais israelenses vestidos com roupas negras descendo de helicópteros e enfrentando os ativistas. Também são vistos vários feridos deitados no navio. "Na escuridão da noite, os militares israelenses desceram de um helicóptero para o barco turco de passageiros ;Mavi Marmara; e começaram a atirar quando pisaram no convés", afirma o site do Movimento Gaza Livre. As imagens tremidas mostram cenas de caos, com sombras de navios com mísseis israelenses ao fundo.
O Exército israelense insiste que suas tropas não abriram fogo até que foram atacadas com facas, pedaços de pau e armas de fogo. "Como consequência desta ameaça vital e das ações violentas, as forças navais empregaram meios para apaziguar os distúrbios, incluindo fogo real", afirma um comunicado do Exército.
O texto completa que os passageiros davam a impressão de querer linchar as forças israelenses. "Israel optou por uma resposta contundente e culpa os ativistas pelo acontecido. Eles iniciaram a violência. Fizemos todo o possível para evitar este incidente ", afirmou à AFP o porta-voz de Netanyahu, Mark Regev. "Lamentavelmente foram atacados pelas pessoas que estavam nos barcos, com barras de ferro, facas e armas de foto", completou.
[SAIBAMAIS]Três dias de luto
O presidente palestino Mahmud Abbas qualificou a ação de massacre e decretou três dias de luto. "Teremos que tomar algumas decisões difíceis esta tarde", disse uma fonte do gabinete palestino, mas sem revelar quais as medidas. A Autoridade Palestina também pediu uma reunião de urgência ao Conselho de Segurança da ONU para "debater a pirataria, o crime e o massacre israelense", nas palavras do principal negociador palestino, Saeb Erakat.
A comunidade árabe de Israel convocou uma greve geral em resposta à operação naval israelense e pediu os protestos dos cidadãos. Em resposta, centenas de pessoas de diversas tendências políticas saíram às ruas na cidade árabe-israelense de Nazaré para protestar contra o ataque.
O movimento radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza, reagiu com um pedido à Autoridade Palestina "para suspender as negociações, diretas ou indiretas, com Israel após este crime".
19 mortos
O Canal 10 da televisão israelense anunciou um balanço de pelo menos 19 passageiros mortos e 36 feridos. Os seis barcos da operação serão escoltados até Israel. O primeiro deles já chegou ao porto de Ashdod, sul do país. A imprensa também informou que o líder islamita árabe-israelense Raed Salah foi ferido nos confrontos.
Os barcos, com mais de 700 passageiros a bordo, pretendiam levar 10.000 toneladas de ajuda a Gaza, submetida a um bloqueio israelense desde 2007. Israel já havia advertido que a tentativa de romper o bloqueio era ilegal e que interceptaria os barcos, que seriam rebocados até o porto de Ashdod. Os ativisitas devem ser deportados.