Agência France-Presse
postado em 31/05/2010 14:12
O presidente alemão, Horst Koehler, renunciou nesta segunda-feira (31/5) depois de ter feito comentários relacionando ações militares do país no exterior a interesses comerciais, dando mais dores de cabeça à chanceler Angela Merkel."Foi uma honra para mim servir a Alemanha como presidente", afirmou Koehler, 67 anos, cujo cargo é simbólico, mas que tem, entre suas funções, assinar projetos antes de tornarem leis. As declações foram feitas em Berlim com um tom emocionado, ao lado de sua mulher.
O pedido de demissão de Koehler foi surpreendente e criou mais problemas para Merkel, 55 anos, cuja popularidade está sob forte pressão.
"Tentei fazer o presidente mudar de ideia, mas, infelizmente, não tive sucesso", afirmou a chanceler aos jornalistas.
"Sempre trabalhei muito bem com Horst Koehler. Ele foi um importante consultor, particularmente durante a crise financeira e econômica, com larga experiência internacional. Vou sentir falta de seus conselhos", completou Merkel.
Ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), o popular Koehler, aliado da conservadora Merkel, foi eleito em 2004 e reeleito no ano passado. Ele foi alvo de críticas este mês, após afirmar que um país dependente das exportações como a Alemanha às vezes precisa defender seus interesses econômicos.
Instabilidades regionais "certamente têm impacto negativo sobre nós por meio das trocas comerciais, empregos e renda", afirmou Koehler a uma rádio alemã em 22 de maio.
Depois da entrevista, Koehler disse que seus comentários tinham sido "mal-interpretados" e que ele não se referia à missão no Afeganistão, onde a Alemanha tem em torno de 4.350 tropas lideradas pela OTAN que combate as forças insurgentes talibãs no país.
"Não é papel do presidente envolver-se em questões políticas, mas ele fez isso. Ele não deveria ter ficado surpreso com as críticas severas" que recebeu, afirma Wichard Woyke, da Universidade de Muenster, à emissora NTV.
De acordo com a Constituição, o presidente do Bundesrat (Conselho Federal), Jens Boehrnsen, da oposição social-democrata, assume o cargo de Koehler provisoriamente. Um sucessor precisará ser nomeado em 30 dias.
Sigmar Gabriel, líder da oposição, que se opôs à reeleição de Koehler, afirmou lamentar a saída, mas disse duvidar que a renúncia esteja ligada exclusivamente aos comentários sobre o Afeganistão.
"Não consigo ver uma boa razão para a saída dele além do fato de que Koehler obviamente teve a impressão que aqueles que o levaram ao cargo não o apoiaram suficientemente", disse Gabriel.
Merkel, como de praxe, rejeitou na semana passada fazer comentários sobre as declarações de Koehler em relação às operações militares, e seu porta-voz afirmou que o governo estava proibido pela Constituição de fazer comentários sobre o presidente.