Mundo

Ativistas de ONGs responsáveis pela flotilha denunciam "mentiras de Israel" e cobram justiça

Entrevistas com Izzet Sahin e Arafat Shoukri

postado em 01/06/2010 07:00
O turco Izzet Sahin coordena as ações internacionais da organização não governamental Insani Yardim Vakfi, a Fundação para os Direitos Humanos, Liberdades e Ajuda Humanitária (IHH). A entidade é a responsável pela flotilha Liberdade, atacada na madrugada de ontem pelas forças israelenses. O palestino Arafat Shoukri, por sua vez, é diretor do Conselho para Relações Europeias-Palestinas (CEPR) e membro do movimento Save Gaza ; também participante da flotilha. Em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, os dois denunciaram um ;crime contra a humanidade;, criticaram a ;propaganda mentirosa; do governo israelense e deram detalhes do ataque aos barcos que entregariam donativos à Faixa de Gaza.

Israel sustenta que os tripulantes da flotilha estavam armados com facas e pistolas. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Izzet Sahin: Isso é uma mentira de Israel. A flotilha tinha a missão de prestar ajuda humanitária a Gaza. Nosso pessoal não carregava qualquer tipo de arma ou qualquer coisa que não fosse comida, roupas e outros materiais. Isso é uma completa mentira de Israel. Eles (israelenses) estão tentando confrontar 40 países, estão tentando impedir as agências de ajuda humanitária de chegarem ao povo de Gaza. Os soldados israelenses atacaram a flotilha a partir de helicópteros e botes.

Arafat Shoukri: Isso é parte da propaganda israelense, que tenta justificar o assassinato de civis desarmados. Eles sabem que estão em apuros por terem matado inocentes. O Exército israelense matou os ativistas turcos para que interrompessem os movimentos de solidariedade ao povo palestino. Sob que circunstâncias o ataque ocorreu? Quantos ativistas morreram nessa operação?
Izzet Sahin: Os soldados israelenses começaram a operação na noite de ontem (domingo), às 22h30 (hora local). Por volta das 4h20 de hoje (ontem), eles começaram a atacar nossos barcos. Ainda não sabemos o número exato de mortos ou feridos. Nosso pessoal ainda tenta obter os números exatos. Israel não nos informa os dados. Nossos ativistas não portavam facas ou espadas. Não autorizamos nenhum deles a reagir a ações de soldados. Eram apenas funcionários humanitários. É uma crise completa. Os soldados ameaçaram os passageiros do barco e, infelizmente, dispararam contra eles.

Arafat Shoukri: Os navios estavam a caminho de Gaza e estavam a cerca de 40 milhas (60km) do destino quando esse ataque horrível ocorreu. Os comandos israelenses invadiram o navio usando helicópteros e botes da Marinha, matando entre 15 e 20 turcos e ferindo cerca de 60 pessoas. Os soldados confiscaram os celulares dos ativistas e não pudemos entrar em contato com ninguém que integrava as flotilhas.

Que medidas a IHH pretende tomar diante desse massacre?
Izzet Sahin: Isso não é um problema da nossa organização ou de nosso país, a Turquia. Trata-se de um crime contra a humanidade, um crime contra 40 ou 50 países que participavam da flotilha. São entidades e assistentes sociais. O mundo está vendo a verdadeira face de Israel, de leste a oeste, de norte a Sul. Os israelenses não querem a paz na Terra Santa e nem mesmo em seu próprio país. Isso é uma prova de que eles não estão comprometidos com a paz. Estamos fazendo o melhor para espalhar esse evento por meio da mídia e de outras associações. Estamos vendo que tipo de ações podem ser tomadas, de acordo com a lei internacional.

Arafat Shoukr: Acreditamos que Israel deve ser processado e culpado por esses crimes. Quem ordenou isso precisa ser enviado à Justiça. Esperamos que a Organização das Nações Unidas (ONU) envie uma comissão internacional independente de investigação para apurar o que aconteceu exatamente.

A IHH conseguiu entregar os donativos aGaza?
Izzet Sahin: Infelizmente, os israelenses apreenderam tudo o que era nosso. Eles apreenderam todos nossos barcos. Eu espero que eles liberem nossos barcos nos próximos dias. De acordo com agências, nove irmãos turcos morreram e cerca de 20 foram feridos. Alguns amigos aceitaram ser deportados por Israel e outros se recusaram, dizendo que não deixariam Israel sob essas condições.

Arafat Shoukri: Não. A flotilha está no porto de Ashdod, em Israel, sob controle das forças israelenses. Cerca de 700 pessoas estavam dentro dos barcos. Acreditamos que Israel deve ser processado. Tenham a certeza de que o movimento para a libertação da Palestina vai continuar, apesar desses crimes cometidos por Israel.

Alguns especialistas acusam sua facção de ter ligações com a Al-Qaeda e o Hamas;
Izzet Sahin: Se você mencionar a Al-Qaeda, é importante dizer que todas as pessoas em nossa organização são contrárias à Al-Qaeda. As pessoas que vivem em Gaza trabalham para o Hamas. Temos boa intenção de ajudar as pessoas de Gaza, os pobres. Como podemos ter ligações com o Hamas? Quando decidimos abrir um escritório em Gaza, temos de negociar a permissão com a administração do Hamas. Não temos nenhum elo com o Hamas.

Ouça entrevistas com Arafat Shoukri e Izzet Sahin (em inglês)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação