postado em 01/06/2010 07:00
Os seis barcos carregavam mais de 10 mil toneladas de mantimentos e pelo menos 700 ativistas. O nome da flotilha humanitária era sugestivo: Liberdade. A missão de US$ 3 milhões pretendia testar o bloqueio imposto por Israel e aliviar o sofrimento do povo palestino, ao entregar os donativos na Faixa de Gaza. As bandeiras da Turquia; da Autoridade Palestina (AP) e do movimento Fundação para os Direitos Humanos, Liberdades e Ajuda Humanitária (IHH) não intimidaram as forças israelenses. Foi uma daquelas ações cinematográficas que entram para a história e causam repulsa internacional. Às 4h20 de ontem (hora local), soldados invadiram a embarcação principal, Mavi Marmara. Mataram ao menos nove ativistas e feriram entre 20 e 30.
O governo turco respondeu com indignação, retirou seu embaixador de Telavive e denunciou um ;homicídio cometido por um Estado;. ;Um Estado que cometeu esses crimes perdeu toda a legitimidade ante a comunidade internacional;, afirmou o chanceler Ahmet Davutoglu, durante reunião emergencial do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Casa Branca, por sua vez, anunciou que procuraria conhecer detalhes do incidente.
Os membros do Conselho ;deploraram; o ataque e exigiram o fim do bloqueio contra Gaza. ;Está mais claro do que nunca que as restrições israelenses ao acesso a Gaza têm de ser levantadas, tal como exige a resolução 1.860;, disse o representante do Reino Unido, Mark Lyall Grant. Apesar de não terem pedido o fim do embargo, os Estados Unidos propuseram um ;alívio; da medida. ;Vamos continuar pedindo diariamente aos israelenses que ampliem o espectro de bens e víveres autorizados a entrar em Gaza, para atender toda a gama de necessidades humanitárias da população;, comentou Alejandro Wolff, embaixador adjunto dos EUA na ONU. A reação do governo brasileiro chamou a atenção, pelo imediatismo e pelo teor da nota divulgada pelo Itamaraty (leia nesta página).
Enquanto violentos protestos ocorriam em Washington, Londres, Atenas, Paris e Peshawar (Pasquitão), o governo de Israel se apressava em justificar o que parecia injustificável. Gravações de vídeo apresentadas por Telavive mostravam homens vestidos de preto descendo de rapel para o convés e sendo atacados por passageiros, com bastões e cadeiras. ;Apesar de os meios de comunicação terem apresentado a frota como uma missão humanitária para entregar ajuda a Gaza, ela não tinha nada de humanitária;, disse Daniel Carmon, representante israelense na ONU. ;Não eram ativistas pacíficos nem mensageiros de boa vontade. Utilizaram cinicamente uma plataforma humanitária para enviar uma mensagem de ódio e implementar a violência;, acrescentou. O secretário geral Ban Ki-moon se confessou ;chocado; e condenou a violência. ;É vital que haja uma investigação completa para determinar como esse banho de sangue ocorreu. Israel deve fornecer uma completa explicação, urgentemente.;
Netanyahu
Em visita ao Canadá, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, fez uma veemente defesa da operação militar em águas internacionais. ;Eles estavam cercados, foram espancados e esfaqueados, e houve ainda relato de disparos. Nossos soldados tiveram que se defender;, declarou. ;O que aconteceu nesta manhã (ontem) foi uma violência pré-planejada pelo grupo que atacou as Forças de Defesa de Israel, e não permitiremos qualquer ofensiva por parte de grupos terroristas ou seus apoiadores;, emendou Avigdor Lieberman, ministro das Relações Exteriores de Israel.
Por e-mail, o norte-americano Richard Falk ; relator especial da ONU sobre direitos humanos nos territórios palestinos ; denunciou ;uma flagrante violação da lei marítima, que protege a liberdade de navegação em alto-mar;. ;Como o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, alegou, Israel é culpado de terrorismo de Estado. A operação que produziu ao menos 10 mortes é um crime contra a humanidade;, afirmou. Segundo ele, a presença de ativistas civis desarmados e engajados em uma missão humanitária apenas piora a criminalidade de Israel. ;Houve uso excessivo de força desproporcional;, admitiu.
Falk não vê qualquer mudança nas relações entre Turquia e Israel, enquanto Netanyahu permanecer no poder. ;De fato, pela primeira vez o comando militar turco criticou abertamente Israel, e isto é uma evolução dramática, à medida que os Exércitos dos dois países têm trabalhado em conjunto por muitos anos.;
Terroristas
O francês Jean-Charles Brisard, especialista em terrorismo e advogado das vítimas do 11 de setembro de 2001, pensa diferente. ;A flotilha carregava militantes e ativistas que conclamavam operações de martírio, antes de embarcarem. A IHH é uma entidade extremista conhecida desde 1996 por seus elos com a rede Al-Qaeda;, alertou. De acordo com Brisard, a organização turca têm se engajado na falsificação de identidades e no contrabando de dinheiro para terroristas viajando para Afeganistão, Bósnia, Chechênia ou Iraque. ;Israel tinha razões para acreditar que a flotilha possuía propósitos humanitários falsos.;
Questionado sobre o impacto do incidente nas relações israelo-turcas, Brisard lembra que elas têm se desgastado depois que a Turquia se reaproximou do Irã. ;A complacência de Ancara em relação às organizações extremistas islâmicas é óbvia e contribuirá para danificar ainda mais as relações entre os dois países;, disse o francês.
Arafat Shoukri, diretor do Conselho para Relações Europeias-Palestinas (CEPR), condena o ataque de Israel à flotilha de ajuda humanitária a Gaza
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Entrevista com o turco Izzet Sahin (em inglês)