O ataque das tropas israelenses contra a frota de ajuda humanitária em Gaza teve um efeito terrível para a imagem de Israel, aumentando seu isolamento diplomático e dificultando o processo de paz, afirmaram analistas nesta terça-feira (1;/6).
"Estamos a ponto de nos tornarmos uma peste para o mundo inteiro com essa operação", lamentou em uma emissora de rádio o escritor Amos Oz.
"Não se trata apenas de uma questão de imagem, é um desastre moral para Israel. Esse bloqueio que foi imposto à Gaza depois do sequestro de Gilad Shalit (soldado israelense capturado pelo Hamas em 2006) não está servindo para nada", opinou o intelectual.
"Não se pode obrigar um local com mais de 1,5 milhão de habitantes a um bloqueio porque um grupo (palestino) sequestrou um soldado israelense", insistiu Amos Oz.
"Do ponto de vista de Israel, na realidade, esta foi a pior de todas as decisões tomadas", considerou, por sua vez, o ex-dirigente de assuntos israelenses em Ancara, Alon Liel.
"O exército caiu na provocação. No entanto, esse desfecho era previsível já que o governo autorizou saques aos barcos", destacou o ex-diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores.
Segundo Liel, a operação israelense "pode ter consequências graves nas relações com todo o mundo muçulmano, e em especial com a Turquia".
O ex-diplomata não exclui "uma ruptura, ou pelo menos uma suspensão, dos diálogos com Ancara, que inclusive, antes dessa operação, já estavam desgastados consideravelmente".
No entanto, "a verdadeira crise", afirmou durante uma entrevista com a AFP, se produz ao nível das relações com os palestinos.
"É difícil conceber, em semelhante contexto, como irão sair da atual estagnação das negociações com as autoridades palestinas", enfatizou Liel.
Ele acredita que o Movimento de Resistência Islâmica (o Hamas), que domina a Faixa de Gaza e "é o grande vitorioso" neste confronto, "aumentará a pressão para deter as negociações" indiretas que foram retomadas com dificuldade no mês passado com o apoio dos Estados Unidos.
"Nenhuma das explicações fornecidas por Israel sobre o comportamento dos passageiros (da frota) justificará, ante aos olhos do mundo inteiro, as mortes de civis em um confronto contra o exército, civis esses que naturalmente resistiram à abordagem", enfatizou o orientalista Moshe Maoz.
O professor da Universidade Hebraica de Jerusalém considera também que "o Hamas saiu fortalecido" da tragédia que deixou nove mortos.
"Afinal de contas, Israel deverá levantar o bloqueio na Faixa de Gaza e negociar com o Hamas, que aceita o início de uma trégua prolongada", destacou.
Já o cientista político palestino Abdul Hadi Mahdi, mais do que um fortalecimento do Hamas, a situação possibilita "uma reconciliação nacional entre os palestinos", que se sentem "cercados por Israel".
Nesse meio tempo, a matança "aumentou a raiva e a frustração dos palestinos", disse Mahdi.
Esses sentimentos se devem não somente, segundo ele, as "atrocidades israelenses", como também à "debilidade das denúncias europeias e americanas".
Por outro lado, o prestígio da Turquia está em seu apogeu. O país recuperou "um papel histórico de liderança regional e se apresenta como um símbolo de solidariedade" entre os habitantes de Gaza, que enfrentam o prolongado embargo israelense.
Esta opinião foi compartilhada pelo editor israelense Nahum Barnea, que previu que "o eixo Turquia-Irã-Síria-Hamas sairá reforçado" da crise que afeta Israel.