Agência France-Presse
postado em 01/06/2010 14:13
Mulheres que compartilham suas vidas com padres italianos decidiram revelar publicamente seus casos e criticar o celibato dos religiosos, já questionado pelos recentes escândalos de pedofilia que abalaram a Igreja Católica.Dez mulheres escreveram uma "carta aberta" ao papa Bento XVI, em que condenam o caráter "sagrado" do celibato.
A carta pode ser consultada na página de internet .
"A ideia da carta surgiu durante esta fase tão agitada para a Igreja, depois de que o Papa reiterou em várias ocasiões o caráter sagrado do celibato. Nós dissemos: temos que reagir", contou Stefania Salomone, de 42 anos, uma das mulheres que conviveu cinco anos com um sacerdote.
Publicada no dia 28 de março, a carta, com a qual as representantes esperam "eliminar" o caráter obrigatório do celibato, era considerada confidencial até a sua divulgação através do site Global Post.
"Só três aceitaram assinar a carta com seu nome real", lamentou Stefania.
"O problema é que se uma mulher fala publicamente de sua história, o companheiro sacerdote rompe com ela imediatamente. Por isso, as que assinaram contam somente as histórias passadas", explica.
É o caso de Luisa, de 38 anos, que se apaixonou por um padre de 35 anos e com quem teve um filho.
Ela o conheceu há seis anos quando ele era sacerdote em um povoado localizado a cerca de quarenta quilômetros de sua casa.
"Ele veio morar comigo. À família, ele dizia que morava na paróquia e, na paróquia, contava que vivia com a família", relatou.
"Na minha cidade, a gente fingia como se nada estivesse acontecendo", admitiu. No entanto, ela confessou que sonhava em se converter para a Igreja Anglicana para que pudessem viver seu amor abertamente.
Entretanto, antes do nascimento de seu filho, que agora tem um pouco mais de um ano, ele decidiu acabar com o relacionamento.
"Foi muito difícil. A família o enviou para um exorcista e eu fui acusada de bruxaria", recordou.
O pai de seu filho viu a criança "por apenas dez minutos" há dois meses e não o reconheceu legalmente.
Luisa está "descontente" com a atitude da Igreja Católica, mas, como tem fé, decidiu batizar seu filho no rito anglicano, religião que aceita que os padres se casem.
Stefania Salomone, que vive e trabalha em Roma, não teve filhos, mas, ainda assim, sua história também é dolorosa.
"Tudo começou como uma relação de confiança, como aquelas que se estabelecem entre os padres e as pessoas que organizam as atividades das paróquias", contou.
O sacerdote "não queria aceitar seus próprios sentimentos. Estava perturbado, não sabia como reagir", destacou.
"Não me sentia bem porque ele se envergonhava de seus sentimentos. Tornei-me um incômodo, alguém que sobrava. No final, negando seus sentimentos, ele disse que não queria mais me ver", relembrou.
"Para mim o celibato é completamente inútil. Foi introduzido por razões econômicas", acredita Stefania.
"As pessoas se esquecem de que havia 39 pontífices casados", destacou. "Nada justifica a proibição desse direito fundamental aos religiosos", acrescentou.
Os argumentos dessas mulheres começam a ser ouvidos pela hierarquia da Igreja. Em maio, os bispos austríacos solicitaram ao Vaticano que fosse aberto um debate sobre o celibato de padres e a ordenação de homens casados.
Ao mesmo tempo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, entregou uma carta ao papa onde solicita "respeitosamente, a abolição do celibato".
"Assim vão existir menos filhas e filhos não reconhecidos por padres", destacou na carta.