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Brasil questiona barganha na ONU

Lula diz que Israel fez "o que não podia". Amorim critica "troca de favores" entre potências

postado em 02/06/2010 09:43
O chanceler Celso Amorim em audiência no Senado: fim do bloqueio a Gaza O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim mantiveram ontem a dura postura, expressa desde a véspera em nota do Itamaraty, sobre o ataque israelense contra a flotilha que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Enquanto Lula afirmou que Israel ;não tinha direito de fazer o que fez;, o ministro deixou claro que o governo brasileiro acha ;pouco; que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha apenas ;pedido; o fim do bloqueio ao território palestino. ;Acho que deve ser uma exigência (para acabar com o bloqueio) da comunidade internacional;, defendeu. Amorim também criticou os membros permanentes do conselho, que supostamente ;trocam favores; ao tratar de temas como as sanções contra o Irã.

Para o chanceler brasileiro, a ação de Israel, que resultou na morte de nove ativistas, só ocorreu porque o bloqueio continua. ;Existem preocupações de segurança, e elas podem ser resolvidas como em qualquer outro país do mundo, através de postos internacionais que policiem a fronteira de Gaza;, afirmou. O ataque da última segunda-feira, que ocorreu fora da faixa marítima controlada por Israel, constitui, para Amorim, ;uma violação não apenas do direito humanitário como do direito internacional como um todo;.

Lula também citou o fato de a abordagem das forças israelenses ter sido feita em águas internacionais como um agravante da ação. ;Israel não tinha o direito de ter feito o que fez, mas vamos esperar que haja melhores investigações;, declarou, após encontro com os membros do Comitê Mundial de Trabalhadores do Grupo Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP). ;Eu estou convencido de que não é o uso de armas que vai garantir a paz. Os dirigentes precisam aprender a dialogar mais;, completou.

[SAIBAMAIS]Amorim, no entanto, evitou associar diretamente os efeitos do ataque de Israel nas conversas sobre as sanções no Conselho de Segurança ; já que é notória a pressão israelense sobre os Estados Unidos para reforçar a punição a Teerã. ;Isso partiria do pressuposto de que uma coisa ruim pode trazer uma consequencia boa. Isso à vezes acontece, mas eu prefiro não dar nenhum valor positivo a uma ação negativa;, desconversou. ;Prefiro me ater às consequencias mais imediatas, como o que isso representa de ameaça à paz no próprio Oriente Médio.;

Aspectos estranhos
Ao ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado(1), na tarde de ontem, o ministro sugeriu que Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China têm colocado interesses individuais à frente da questão do programa nuclear do Irã. ;O que diminui a credibilidade do Conselho de Segurança é o fato de ter cinco potências nucleares, que são os cinco membros com direito a veto que negociam entre si, e nós não sabemos o que se passa nessa negociação;, disse. Segundo ele, não se sabe ;se há favores que estão sendo trocados, ou se outros aspectos estranhos à questão estão sendo envolvidos;. O ministro deixou clara sua insatisfação: Nós sabemos do que sai nos jornais, e o que sai é preocupante.;

1 - Salvo pelo pré-sal
Durante a audiência na Comissão de Relações Exteriores, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) revelou que por pouco não embarcou em um dos seis barcos atacados por Israel quando seguiam para Gaza. Suplicy contou que chegou a comentar com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), sobre a possibilidade de viajar, mas o colega lhe pediu que ficasse para a votação do marco regulatório do pré-sal. ;Imagina se ficasse faltando só um voto?;, considerou o petista. Suplicy, contudo, se disse convicto de que não seria um alvo potencial. ;Acho que eles não iriam querer atirar em mim;, brincou.

Críticas aos EUA

Um ;certo silêncio; foi o que o chanceler brasileiro, Celso Amorim, ouviu após confrontar a secretária de Estado Hillary Clinton com o fato de que as críticas dos Estados Unidos ao acordo têm por base pontos que nem sequer foram mencionados na carta enviada a Lula pelo presidente Barack Obama. Ao responder a perguntas de senadores, o ministro disse que, em telefonema recente, Hillary falou de suas preocupações, como a continuidade do enriquecimento de urânio e o estoque mantido por Teerã, temas que não são abordados na declaração assinada por Irã, Brasil e Turquia.

As possíveis ;lacunas; do documento de Teerã têm sido usadas por Washington para questionar a eficiência do acordo. De acordo com Amorim, o governo brasileiro considerou que o que não estava mencionado na carta de Obama, ;ou era secundário, ou poderia ser tratado tão logo fosse fechado um acordo; com as potências ocidentais. Para o ministro, ninguém conseguiu definir melhor o que se sucedeu ao acordo de Teerã do que um articulista americano, ao afirmar que ;os EUA mudaram as traves de lugar;.

Amorim citou uma entrevista dada pelo ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Mohamed El-Baradei ao Jornal do Brasil, para reforçar a confiança do Brasil de que ;não há condição alguma de que o Irã venha a produzir bombas nucleares com a quantidade de urânio que tem;. Segundo o último relatório da AIEA, o Irã teria urânio para dois artefatos. ;A informação que eu tenho é de que são necessários no mínimo 2.000kg para uma bomba rudimentar. O Irã tem agora 2.427kg;, dos quais 1.200kg seriam depositados na Turquia, lembr a Amorim. (IF)

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