Agência France-Presse
postado em 02/06/2010 09:40
Desde seu discurso no Cairo, há um ano, o presidente Barack Obama havia melhorado a imagem dos Estados Unidos no mundo muçulmano, mas suas estreitas relações com Israel, que ficaram mais uma vez em evidência depois do ataque à frota humanitária em Gaza, prejudicam em muito sua mensagem, afirmam os analistas.Com esse discurso de 4 de junho de 2009, "alguns pensaram que ele estava sendo sincero", destaca Imad Gad, do centro Al-Ahram de estudos políticos e estratégicos do Cairo.
A reação americana, indulgente para com Israel, apesar da comoção mundial causada pelo violento ataque das forças israelenses, "inclina a balança a favor daqueles que acham que não fez mais que retórica", acrescentou.
Washington se empenhou na ONU por uma declaração que evita que a responsabilidade do início da violência recaia explicitamente sobre o Estado hebreu.
[SAIBAMAIS]As reações americanas comedidas em relação a Israel também evidenciaram as relações privilegiadas entre os dois países, algo que faz o mundo árabe reprovar Washington.
Dentro desse contexto, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, anunciou nesta quarta-feira que pedirá a Obama decisões corajosas para mudar a face do Oriente Médio.
Segundo Antoine Basbous, do Observatório de Países Árabes de Paris, este assunto pode multiplicar a sensação de que os "Estados Unidos são o padrinho internacional de Israel".
Mas também destaca que Washington soube, depois do discurso de Obama, impulsionar os progressos ansiados no mundo árabe e muçulmano.
Também abandonou a referência à "guerra contra o terrorismo", promovida por seu predecessor George W. Bush e considerada um pretexto para aplicar uma política hostil em relação ao Islã.
Washington apoiou igualmente, apesar da oposição de Tel Aviv, o acordo da Conferência de Acompanhamento do Tratado de Não-Proliferação (TNP), que aponta diretamente as atividades nucleares do Estado hebreu, enfatiza Basbous.
Durante o último ano, acrescenta, os países árabes moderados acreditam que houve uma mudança em vários pontos da política americana, apesar de admitir que não ocorreram milagres.
Desejoso de romper com Bush, Obama pediu na capital egípcia um novo começo entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano, "fundado no interesse e respeito mútuos".
O discurso, dirigido a 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo, foi difundido por mais de 30 televisões do Oriente Médio e causou muitas expectativas.
Paul Salem, do Carnegie Middle East Center de Beirute, opina que "Barack Hussein Obama, com seu nome e seu discurso, acalmou o jogo em grande medidas com os muçulmanos".
Mas a ausência de resultados na questão israelense-palestina evidencia seus limites, apesar dos árabes reconheceram que não é nada fácil fazer frente ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
"A incapacidade, ou falta de vontade, de exercer uma autêntica pressão sobre Israel constitui uma verdadeira decepção para o mundo árabe", afirma Paul Salem.
"Há uma mudança nas declarações e os anúncios americanos desde o discurso de Obama, mas esta diferença não se traduziu em mudanças cruciais sobre o terreno", estima Samir Awad, professor de relações internacionais na Universidade palestina de Bir Zeit.