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"Jirga de Paz" propõe negociações para pôr fim à guerra no Afeganistão

Agência France-Presse
postado em 04/06/2010 13:39
A "Jirga de paz", uma assembleia de notáveis, com papel apenas consultivo, propôs nesta sexta-feira (4/6) criar uma comissão encarregada de negociar com os talibãs para tentar pôr fim à guerra no Afeganistão, após a conclusão de um encontro que reuniu durante três dias em Cabul líderes tribais, dirigentes políticos e representantes da sociedade civil.

"Nós, participantes da jirga de paz, pedimos a todas as partes envolvidas nesta guerra que acabem com o derramamento de sangue", declarou Qiamuddin Kashaf, chefe do Conselho do Ulemás.

O vice-presidente da "jirga" informou que os 1.600 representantes das tribos e da sociedade civil reunidos pedem ao governo a elaboração de "um programa com ampla base", representativa de todas as tendências no país, para conduzir os esforços de paz com os talibãs.

Os participantes da assembleia transmitiram ao presidente Hamid Karzai a lista de suas recomendações. Esta reunião é considerada por alguns observadores como a "última oportunidade" para restaurar a paz.

A "jirga de paz" foi convocada pelo presidente afegão e marca um ponto de partida para as tentativas de negociações com os talibãs.

No entanto, os insurgentes islamitas, que chegaram a realizar um ataque frustrado contra a assembleia logo no primeiro dia, boicotaram a reunião por considerá-la um "instrumento de propaganda das forças de ocupação".

Os talibãs negam-se a dialogar antes da retirada total das tropas internacionais lideradas pelos Estados Unidos, que invadiram o país, no fim de 2001, para derrubá-los.

Nos últimos quatro anos, os islamitas multiplicaram seus ataques e atentados.

A deputada Shukria Barakzai, chefe de um grupo de trabalho, pediu um cessar-fogo entre as forças internacionais e os insurgentes, acrescentando que a corrupção também era "uma das causas da violência".

"As forças estrangeiras não foram capazes de diminuir o ritmo da guerra, pelo contrário, a guerra se intensificou nos último nove anos", destacou Kashaf.

Esta é a terceira jirga desde a queda dos talibãs no fim de 2001. As anteriores tiveram como objetivo eleger um líder provisório para o país e elaborar uma Constituição.

"O papel do governo é conseguir que os talibãs responsáveis pela opressão, que escaparam (...) e pegaram em armas, regressem a seus lares", resumiu Karzai em seu discurso inaugural. "Há milhares de talibãs nesta situação (...); trata- sesimplesmente de gente como nós", acrescentou.

A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, declarou na quinta-feira que os EUA querem estar "plenamente informados" dos esforços do presidente afegão para reintegrar os talibãs à vida civil.

"Apoiamos os esforços (de Karzai), mas queremos estar plenamente informados, queremos poder trabalhar com ele", indicou Clinton, recordando a posição americana favorável a reintegração dos "combatentes talibãs" para que se afastem da rede Al-Qaeda e da violência.

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