Agência France-Presse
postado em 04/06/2010 22:01
O cargueiro ;Rachel Corrie; mantinha seu curso, esta sexta-feira, levando uma tonelada de ajuda para Gaza, onde deve chegar no sábado, num momento em que crescia a revolta da comunidade internacional contra a operação de bloqueio de um comando israelense contra uma frota humanitária, que deixou 9 mortos e 20 feridos no início da semana."Não temos medo", disse o ganhador do prêmio Nobel da paz, o irlandês Mairead Maguire, à rádio estatal irlandesa RTE, em entrevista por telefone via satélite a bordo do navio de ajuda.
"Nós seguimos adiante para entregar esta carga para o povo de Gaza e para quebrar o cerco a Gaza; é isso que nós queremos fazer", disse Maguire, de 66 anos, enquanto o navio seguia viagem para o enclave palestino chefiado pelo Hamas.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, afirmou que o ;Rachel Corrie; não terá entrada permitida em Gaza.
"Eu acabo de dizer ao diretor-geral do Ministério irlandês das Relações Exteriores que o navio não poderá seguir para Gaza sem antes ser inspecionado", disse Lieberman pela televisão.
O ministro irlandês das Relações Exteriores, Micheal Martin, instou Israel a demonstrar moderação, ao afirmar que "o ;Rachel Corrie; deveria ter permissão para prosseguir a Gaza e desembarcar sua carga humanitária".
Para piorar as coisas para o lado de Israel, três cidadãos espanhóis que estavam com a frota de ajuda a Gaza anunciaram planos de envio de mais navios de ajuda para o enclave palestino.
"Falamos em Istambul com os demais colegas europeus sobre a possibilidade de enviar navios a Gaza nos próximos meses, alguns deles provavelmente (procedentes) de Barcelona", disse o ativista Manuel Tapial.
Enquanto isso, a indignação era crescente na Turquia, que enviou mais da metade dos 700 ativistas a bordo da frota atacada.
Em um comunicado que certamente enfurecerá Israel, o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, disse nesta sexta-feira que não considera o Hamas uma organização terrorista.
"O Hamas é um grupo de combatentes de resistência que lutam para defender sua terra", disse Erdogan a respeito do movimento islamita, comprometido com a destruição de Israel e considerado pelo Ocidente um grupo terrorista.
Em Istambul, cerca de 10.000 pessoas se manifestaram nesta sexta-feira depois da oração diante da Mesquita de Beyazit, em protesto contra o ataque à frota.
Ancara anunciou que vai reduzir suas relações econômicas e industriais com Israel. Enviou dois aviões ambulância ao Estado hebreu para repatriar cinco de seus cidadãos feridos durante o violento ataque à frota, os últimos militantes do comboio que ainda não haviam sido enviados para casa.
Enquanto o cargueiro irlandês se aproxima de Gaza, em Jerusalém as forças de segurança se encontravam em estado de alerta nesta sexta-feira por temor de episódios violentos depois das tradicionais orações do dia santo dos muçulmanos, proibindo o acesso à esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém, aos muçulmanos menores de 40 anos.
Em Gaza, o chefe do governo do Hamas, Ismail Haniyeh, assinalou durante a oração seu desejo de que estes comboios continuem rompendo o cerco.
"A estratégia do inimigo fracassou e ganhou a estratégia da paciência, hoje Gaza ganhou", afirmou.
Todas as mesquitas realizaram uma oração em memória dos nove "mártires" do ataque contra a frota, oito turcos e um americano de origem turca.
Uma manifestação convocada pelo Hamas perto do campo de refugiados de Nuseirat (centro da Faixa de Gaza) reuniu milhares de pessoas que agitavam bandeiras turcas e palestinas e gritavam slogans em favor da Turquia. Uma manifestação similar aconteceu em Khan Yunes (sul), convocada pelo movimento radical Jihad Islâmica.
Na Cisjordânia, onde estavam previstas concentrações em todo o território, a manifestação em Bilin, um povoado que é palco de mobilizações semanais contra a barreira de segurança, inclui uma réplica do barco de cinco metros desfilando sobre um carro.
Fretado por uma organização irlandesa de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, o ;Rachel Corrie; leva a bordo 15 pessoas - ativistas irlandeses e malaios, quatro tripulantes indonésios e um capitão escocês - entre elas o Prêmio Nobel e um ex-dirigente da ONU. Também transporta uma tonelada de ajuda, segundo os organizadores.
"O ;Rachel Corrie; prossegue rumo a Gaza", afirmou a Campanha de Solidariedade Irlanda-Palestina, acrescentando ter feito contato com seus passageiros horas depois de as comunicações terem sofrido uma interrupção.
"Jenny Graham, uma passageira a bordo, declarou esta manhã por telefone via satélite que estão a 150 milhas de Gaza, avançando a um bom ritmo, e que devem chegar no sábado pela manhã", afirma o comunicado.
Em Chipre, um porta-voz da Free Gaza, Mary Hughes Thompson, indicou que o navio, em sua velocidade atual, poderia alcançar Gaza ainda esta noite, mas que deve concluir a viagem no sábado mesmo, pois seria muito perigoso fazê-lo durante a noite.