postado em 06/06/2010 07:00
A interceptação do cargueiro humanitário MV Rachel Corrie, ontem, mostrou que Israel não cedeu às pressões para suspender o bloqueio à Faixa de Gaza, mas aprendeu com a ação desastrosa da última segunda-feira. Amplamente condenado pela comunidade internacional depois da violência empregada contra a tripulação do navio Mavi Marmara, o governo israelense optou, desta vez, por não usar suas armas. E mais: preocupou-se em registrar tudo em vídeo, a partir de um helicóptero, como prova de sua ação.Por volta das 5h50 (23h50 de sexta-feira, em Brasília), o cargueiro foi cercado e escoltado por duas lanchas israelenses até o porto de Ashdod, de onde as mais de 750t de carga humanitária seguiram para inspeção. Já as 19 pessoas que estavam a bordo ; 11 ativistas e oito tripulantes ; serão deportadas, segundo Israel.
;Nossas forças deixaram o barco e tomaram o controle sem que os membros da tripulação nem os passageiros presentes apresentassem resistência. Tudo ocorreu sem violência;, garantiu a porta-voz militar Avital Leibovitz. Segundo o governo de Israel, a Marinha entrou em contato com o MV Rachel Corrie quatro vezes para ordenar que ele desviasse sua rota para o porto de Ashdod. ;A área de Gaza e o porto de Gaza estão fechados. Solicitamos que vocês mudem de curso;, afirmou um militar israelense em mensagem gravada por rádio. Ele ainda avisou que a entrega de suprimentos é ;possível pelo processo formal entre Israel e a Faixa de Gaza, sob a supervisão das autoridades israelenses;. A gravação já estava disponível, junto com o vídeo da operação, na página principal do site das Forças de Defesa de Israel (IDF) pouco depois da ação.
Desconfiança
Mesmo com a forte propaganda de Israel em torno da ação de ontem, os integrantes do movimento Free Gaza, que organizou também a viagem da sétima embarcação da ;Frota da Liberdade;, ainda temiam pela segurança dos 11 ativistas ; seis malaios e cinco irlandeses; entre eles, a vencedora do prêmio Nobel da Paz Mairead McGuire. Segundo a chancelaria israelense, a tripulação seria recebida pelos serviços da imigração israelense e ;enviados de avião a seus países de origem o quanto antes;.
;Tudo o que sabemos até agora é o que Israel diz. Mas só teremos certeza do que ocorreu quando eles forem libertados por Israel ; ou assim que tiverem uma chance de se comunicar;, disse a coordenadora do movimento Free Gaza na Irlanda, Niamh Moloughney, ao Correio. ;A comunicação com o navio foi cortada por volta das 3h (23h da sexta-feira em Brasília), e os nossos advogados também foram impedidos de ter qualquer contato com quem estava a bordo;, afirmou Audrey Bosni, integrante do Free Gaza em Cyprus.
A ativista lembrou à reportagem que, na última segunda-feira, seus colegas ficaram incomunicáveis por 36 horas. ;Tememos que isso possa acontecer novamente;, disse. De acordo com Moloughney, diplomatas irlandeses tentaram entrar em contato com os ativistas do Rachel Corrie, no porto de Ashdod, sem sucesso. A ONG Free Gaza teme ainda que os suprimentos ; 550t de cimento, 150t de equipamentos médicos, 55t de material escolar e 12t de brinquedos ; não cheguem à Faixa de Gaza, como foi anunciado pelo governo israelense. ;Não confiamos em Israel. Eles mentem sobre tudo, por que agora seria diferente?;, questiona Bosni.
O MV Rachel Corrie foi interceptado ainda em águas internacionais, a cerca de 56km da costa, após cerca de 20 minutos de perseguição marítima. O navio deveria fazer parte da frota internacional de ajuda humanitária com destino a Gaza abordada na segunda-feira, mas teve problemas técnicos e só partiu na última quinta-feira.