postado em 09/06/2010 07:50
Para o presidente Mahmud Ahmadinejad, as oportunidades de um acordo sobre o programa nuclear iraniano podem estar encerradas hoje, quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve votar uma resolução que reforça as sanções contra o país (leia o quadro). Ahmadinejad reiterou que seu governo não voltará a negociar com as potências ocidentais se o projeto, patrocinado pelos Estados Unidos, foi aprovado. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, reiterou que as medidas serão ;duras e significativas; e reafirmou sua confiança em uma vitória folgada. A expectativa é de que apenas três dos 15 membros do conselho votem contra: Líbano, Turquia e Brasil ; os dois últimos, copatrocinadores de um acordo com Teerã envolvendo a troca de urânio enriquecido.;Já disse que a administração americana e seus aliados se equivocam, se acham que podem esgrimir a ameaça de uma resolução e depois sentar-se à mesa para negociar conosco;, desafiou Ahmadinejad. ;Isso não vai acontecer;, garantiu, falando à imprensa em Istambul, na Turquia. Para o governo iraniano, a negociação mediada pela Turquia e o Brasil resultou em uma oferta que não se repetirá. ;Esse acordo é uma oportunidade para o governo americano e seus aliados. Espero que a utilizem bem. As oportunidades não se repetirão;, declarou o chefe de Estado. ;Se tentarem falar conosco de maneira brutal, com um tom de dominação, já conhecem nossa resposta.;
O acordo, firmado em maio, prevê o envio à Turquia de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido, que ficará sob custódia da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) por até um ano. Dentro desse prazo, o Irã deve receber em troca 120kg de urânio enriquecido a 20%, para uso médio em um reator experimental de Teerã. As grandes potências, principalmente os EUA, suspeitam de que o Irã quer apenas ganhar tempo para continuar enriquecendo urânio até ser capaz de produzir a bomba atômica.
[SAIBAMAIS]Para Carlos Eduardo Vidigal, doutor em relações internacionais e professor do Departamento de História da Universidade de Brasília, o acordo negociado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi apenas mais um passo no longo caminho da crise nuclear. ;Ele contribuiu para o posicionamento de diversos países e teve importância no jogo internacional, mas a negociação já estava fadada ao fracasso na ONU. O mesmo aconteceu com o governo norte-americano antes da ocupação do Iraque: a recusa já era prevista;, comentou o especialista.
Consenso
Falando à imprensa em Quito, no Equador, a secretária de Estado americana afirmou que, após a votação de hoje, o governo iraniano deve enfrentar um forte pacote de medidas. ;Penso que é correto dizer que são as sanções mais significativas que o Irã já enfrentou;, disse Hillary Clinton. O Conselho de Segurança deve aprovar restrições comerciais e o bloqueio de transições financeiras. ;É bem provável que as sanções sejam aprovadas. Em especial por causa da posição da Rússia e da China, que não queriam suas relações de comércio com o Irã afetadas. Por isso, as sanções serão um pouco mais brandas do que se esperava;, explicou Vidigal.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que também estava em Istambul para um encontro de segurança, como Ahmadinejad, confirmou que a comunidade internacional tinha discutido e alcançado uma decisão final sobre as novas sanções. ;Trabalhamos muito e acreditamos que praticamente se chegou a um acordo. Nosso ponto de vista é de que essas decisões não devem ser excessivas e não devem colocar o povo iraniano numa posição difícil, que poderia obstruir o caminho para o uso pacífico da energia nuclear;, assegurou o chefe de governo à agência russa Itar-Tass.
Se as sanções forem aprovadas, a expectativa é saber qual será o real impacto delas. ;Nossa meta segue sendo convencer o Irã a suspender seu programa nuclear e negociar de maneira construtiva e de boa-fé com a comunidade internacional;, argumentou a embaixadora americana na ONU, Susan Rice. Uma solução para o impasse parece, no entanto, estar longe. ;As negociações devem se estender por algum tempo. O Irã não vai deixar de fazer o enriquecimento de urânio, e ao mesmo tempo um programa nuclear precisa ter restrições;, pondera Vidigal.