postado em 16/06/2010 07:55
Passados 38 anos, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, trouxe de volta à tona um dos episódios mais obscuros do conflito da Irlanda do Norte, o chamado Bloody Sunday (domingo sangrento). O premiê aproveitou a divulgação do Relatório Saville para se dizer ;profundamente sentido; pela morte de 14 manifestantes católicos, em 30 de janeiro de 1972. A matança foi promovida por paraquedistas britânicos que abriram fogo contra os participantes de uma marcha a favor dos direitos civis em Londonderry, a segunda maior cidade da Irlanda do Norte.;As conclusões deste informe são absolutamente claras. Não há dúvida. Não há equívoco. Não há ambiguidades. O que aconteceu no Bloody Sunday foi injustificado e injustificável;, declarou o premiê, em pronunciamento no Parlamento. Em nome do governo e de todo o Reino Unido, ele pediu perdão pela matança. Suas palavras foram transmitidas ao vivo em um telão instalado em Londonderry.
Segundo Cameron, nenhum alerta foi dado aos civis antes de que os soldados atirassem. Ele revelou que os militares não dispararam em resposta a ataques com coquetéis molotov ou pedras. ;Nenhum dos mortos ou feridos estava fugindo. Nenhum dos mortos posava como ameaça ou fazia algo que justificaria serem baleados. Muitos dos soldados mentiram sobre suas ações. Os eventos do Bloody Sunday não foram premeditados;, afirmou o primeiro-ministro, ao resumir as principais conclusões do relatório.
O documento foi o resultado de 12 anos de investigação, a mais longa e cara da história britânica ; um custo estimado em 195 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 295 milhões). São 2,5 mil declarações de testemunhas, 992 depoimentos, 160 volumes de evidências, 121 fitas de áudio e 110 gravações de vídeo.
Além dos 14 mortos no incidente, 14 manifestantes ficaram feridos ; um deles morreu dias depois, no hospital. Cerca de 60 familiares de vítimas desfilaram em silêncio, exibindo fotos em preto e branco de seus parentes. O Bloody Sunday foi um dos episódios-chave no conflito entre católicos separatistas e protestantes unionistas que deixou mais de 3,5 mil mortos ao longo de três décadas e encerrou-se com o acordo de paz da sexta-feira santa de 1998. Também atraiu centenas de voluntários para o Exército Republicano Irlandês (IRA, pela sigla em inglês), uma facção que realizou uma série de atentados para forçar a ruptura da Irlanda do Norte com a Grã-Bretanha e sua adesão à República da Irlanda.