Ao anunciar que construirá em breve um reator de pesquisa mais potente que o de Teerã, o governo iraniano mostrou ontem que a aprovação de mais uma rodada de sanções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, há uma semana, não abalou os planos do país de seguir com seu programa nuclear. A implantação do novo reator, que deve ficar pronto em ;não mais que cinco anos;, faz parte de um projeto para enriquecer urânio no teor requerido por reatores de fins medicinais. O material radioativo teria uso também ;em outros países da região;, segundo o chefe do programa nuclear, Ali Akbar Salehi. O Parlamento iraniano, por sua vez, aprovou um projeto de lei pedindo que o governo reduza a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) após a decisão sobre as sanções. No campo oposto, os Estados Unidos e a União Europeia endurecem ainda mais as restrições já em vigor contra Teerã.
;Estamos preparando a construção de um reator mais potente que o de Teerã, onde produziremos radioisótopos para medicamentos;, disse Salehi, segundo a TV estatal Press TV. ;Temos planos para lançar uma série de reatores no norte, sul, oeste e leste do Irã, para desenvolver medicamentos e, portanto, atender às demandas não apenas do nosso país, mas também de outras nações da região e do mundo islâmico;, completou o diretor da agência atômica iraniana.
A construção começaria em março de 2011, segundo a TV, mas o local da futura instalação não foi divulgado. O Irã dispõe atualmente de um reator de pesquisas de 5 megawatts na capital, Teerã ; ele foi construído antes da Revolução Islâmica de 1979. No último sábado, o chefe do programa iraniano já havia anunciado que o país tem a intenção de construir, em 2011, uma nova unidade para enriquecimento de urânio. De acordo com Salehi, após a aprovação das sanções o Irã resolveu responder às potências ocidentais com uma ;dupla estratégia;. ;Ela se baseia, por um lado, na continuidade de um diálogo honesto (com a comunidade internacional), e por outro na continuidade do nosso desenvolvimento nuclear, que é um meio de resistir às pressões dos nossos inimigos;, justificou.
O Parlamento iraniano quer que, além da continuidade do programa nuclear, o governo de Mahmud Ahmadinejad também feche mais o país para inspeções. Segundo a agência de notícias Isna, o Legislativo aprovou um pedido para que o Executivo restrinja a colaboração com a AIEA aos ;limites mínimos; especificados pelo Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares, do qual o Irã é signatário. Quanto às sanções impostas pela ONU, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, foi claro: ;Se vocês estão pensando em inspecionar aviões e navios iranianos, tenham a certeza de que o Irã vai adotar uma resposta à altura em seus navios no Golfo Pérsico e no Mar de Omã;.
Mais punições
Ontem, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, anunciou que seu governo endurecerá ainda mais as restrições contra empresas iranianas, depois da aprovação da quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança. ;Continuaremos a ter o foco na Guarda Revolucionária do Irã. Vamos continuar a expor os esforços (do regime islâmico) em driblar as sanções internacionais;, disse Geithner. Entre as dezenas de empresas sancionadas estão o Banco Postal do Irã, a Sepanir Oil and Gas Engineering e cinco companhias que operam navios da Iran Shipping Lines. ;Nossas ações hoje são desenhadas para impedir que outras instituições financeiras internacionais e governos façam negócios e assim apoiem as atividades ilícitas do Irã;, completou.
Hoje, chefes de Estado europeus se reunirão para aprovar sanções unilaterais mais rigorosas que as votadas pelo Conselho de Segurança no último dia 9. O texto inclui restrições ao setor energético, excluído das sanções da ONU por pressões da Rússia e da China, e ao comércio. Segundo a agência Reuters, seriam proibidos ;investimentos, assistência técnica ou transferência de tecnologia, equipamento ou serviço, particularmente de refino e de liquefação;. Também o setor de transportes estaria sujeito a punições.
Potências arrogantes
O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, disse ontem que seu governo continua disposto a dialogar com as potências mundiais sobre seu programa nuclear, mas ;sob condições; que serão anunciadas em breve. ;(O Irã) vai preservar o direito de tomar fortes medidas contra qualquer governo, de qualquer canto do mundo, que violar um milímetro que seja dos direitos iranianos sob o pretexto da resolução (da ONU);, disse Ahmadinejad. Em discurso durante visita à cidade de Shahr-e-Kord, transmitido ao vivo pela TV estatal, ele criticou mais uma vez as ;potências arrogantes; que votaram favoravelmente às sanções no Conselho de Segurança. ;Vocês mostraram um mau temperamento, renegaram suas promessas e recorreram a maneiras diabólicas;, acusou. ;Imporemos condições (para as negociações) para que, se Deus quiser, vocês sejam punidos um pouco e se sentem à mesa de negociações como crianças bem comportadas;, provocou Ahmadinejad.