postado em 17/06/2010 08:30
Israel será desafiado por duas vias: a jurídica e a marítima. A organização não governamental turca Fundação para os Direitos Humanos, Liberdades e Ajuda Humanitária (IHH) anunciou que, no próximo mês, tentará quebrar o bloqueio à Faixa de Gaza enviando mais seis navios ao território palestino. Por sua vez, o governo da Turquia decidiu criar um painel ministerial para analisar o ataque israelense à flotilha humanitária Liberdade, patrocinada pela IHH, que deixou nove ativistas mortos, em 31 de maio passado. ;Um comitê foi formado pela chancelaria e pelo Ministério da Justiça para preparar uma investigação internacional e avaliar a dimensão legal nacional e internacional do ataque;, explica um comunicado divulgado ontem pelo Ministério das Relações Exteriores turco e reproduzido pela agência de notícias Reuters.;Se a comissão da Turquia for mais representativa, minará a israelense, que tem três metas ; uma delas é ;expor; os pacifistas;, afirma ao Correio, pela internet, o indiano Muqtedar Khan, cientista político da Universidade de Delaware (Estados Unidos) e renomado intelectual muçulmano. ;Com seu painel investigativo, Israel pretende demonizar a vítima;, acrescenta, referindo-se aos ativistas. Khan acredita que Ancara quer focar nas dificuldades enfrentadas por Gaza e na ;brutalidade do Exército israelense;. ;Israel tem muito a perder junto à opinião pública ocidental, ao contrário da Turquia;, alerta o especialista. De acordo com as agências internacionais de notícias, os membros da comissão, que inclui autoridades da Marinha, se reuniram duas vezes desde segunda-feira.
Para os moradores da Faixa de Gaza, toda ajuda é bem-vinda. Diretor do grupo de hip hop Da Arabian Revolutionary Guys, o saudita nacionalizado palestino Fadi Bakheet, 28 anos, admite que a Turquia tem todo o direito de se defender de uma agressão ilegal. ;Os turcos apenas tentavam ajudar o povo da Palestina, acompanhados de ativistas de 40 nacionalidades;, diz, referindo-se aos passageiros da f lotilha.
Em entrevista ao Correio, por e-mail, a cineasta Iara Lee, única brasileira que integrava flotilha Liberdade no dia da invasão israelense, saudou a decisão de Ancara. ;O governo turco tem todo o direito de investigar o assassinato de seus nove civis em águas internacionais. Como Israel demonstrou absolutamente não ter boa fé em sua apuração, esse gesto do governo turco é um esforço para assegurar que o assunto será tratado de forma imparcial e compreensível;, comenta a pacifista. ;Esperamos que isso abra terreno para uma investigação verdadeiramente internacional;, conclui.
Alívio
O alívio do bloqueio a Gaza, a principal causa defendida pelos pacifistas mortos no Mar Mediterrâneo, chegou a ser anunciado anteontem pelo governo israelense como certo, mas a votação da medida foi adiada para hoje. ;Israel sempre adiou e ignorou todas as leis e acordos internacionais. Não é novidade que eles posterguem mais uma vez a votação;, desabafa Fadi, que mora na Cidade de Gaza. ;Temos sido ocupados por 62 anos. O embargo de quatro anos à Faixa de Gaza não é nada diante disso. ;Ele compara a rotina na região à vida em uma jaula. ;Faltam as necessidades mais básicas para meu povo. Mas nossa natureza é tentar, nunca entrar em colapso e jamais desistir;, observa. Segundo Iara Lee, os israelenses trabalham duro para descobrir formas de manter a punição ;injustificável a; Gaza. ;Pretendem dar a aparência de suavização ante a comunidade internacional, que apenas agora responde às terríveis realidades da vida em Gaza;, assegura.
O Shin Bet ; o serviço secreto interno de Israel ; advertiu o gabinete do premiê Benjamin Netanyahu sobre os riscos de o embargo ser totalmente suspenso. ;A possibilidade de Gaza construir um porto seria um vácuo à segurança;, admitiu Yuval Diskin, chefe do Shin Bet, ao jornal The Jerusalem Post. Como retaliação à comissão turca, Israel prometeu concluir logo sua própria investigação. ;Espero que possamos começar os encontros da comissão o mais rápido possível e terminá-los da mesma forma;, declarou o juiz aposentado Jacob Turkel, responsável pela apuração.
Judeus ultraortodoxos contra policiais
Escavações na cidade de Jaffa, ao sul de Telavive, foram a gota d;água para que judeus ultraortodoxos entrassem em confronto com policiais israelenses, aos gritos de ;nazistas; e ;assassinos;. Centenas de religiosos protestavam contra a construção de um complexo hoteleiro de luxo que estaria, segundo eles, profanando tumbas e locais sagrados nas imediações. A polícia montada interveio com bastões e foi agredida com pedras e tijolos. Cinco agentes ficaram feridos e 15 manifestantes acabaram presos. No início da semana, os ultraortodoxos haviam danificado uma série de sítios arqueológicos da região.