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Bloqueio é suavizado

Israel autorizará a entrada de "bens civis" na Faixa de Gaza, mas manterá a restrição sobre o fluxo de materiais de construção. Estados Unidos, União Europeia e ONU elogiam a medida e pedem atendimento às necessidades mais básicas do povo palestino

postado em 18/06/2010 07:45


Não foi exatamente o presente que ela esperava. Na véspera de completar 26 anos, a ativista Mousheera Abou Shmas, gerente da Rede da Juventude Palestina na Faixa de Gaza, sonhava com o fim do bloqueio imposto por Israel. O Gabinete de Segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu cedeu à pressão internacional e anunciou oficialmente ontem o alívio do embargo, após dois dias de intensas discussões. ;Concordou-se em liberalizar o sistema por meio do qual os bens civis entram em Gaza e em expandir o fluxo de materiais para projetos civis que estão sob supervisão internacional;, afirma a versão em inglês do comunicado do governo israelense. Outra versão, em hebraico, não fazia menção à decisão. Apesar da concessão, o bloqueio naval foi mantido.

;É bom permitir a entrada de mercadorias, mas isso não vai resolver todos os nossos problemas;, lamenta Mousheera, em entrevista ao Correio, pela internet. Moradora da Cidade de Gaza, ela relata que o embargo produz casos de sofrimento extremo na população de 1,6 milhão de palestinos da Faixa de Gaza. ;Sei de casos de pacientes com câncer que morreram sem o tratamento adequado, pessoas feridas que ficaram incapacitadas, recém-nascidos que não resistiram por falta de incubadora;, denuncia.

Segundo Mousheera, o impacto inclui o aumento do desemprego e a divisão entre palestinos. A ativista conta que alguns bens chegam do Egito por meio de túneis. ;Mas são caros e os pobres não podem comprá-los.;

Cumprimento
O Departamento de Estado norte-americano cumprimentou Israel pelos ;princípios gerais; da decisão de flexibilizar o bloqueio a Gaza e afirmou esperar que isso melhore a situação no território palestino. ;Eles (princípios gerais) refletem o tipo de mudanças que temos discutido com nossos amigos israelenses;, declarou o porta-voz Mark Toner. ;Tão logo esses princípios sejam desenvolvidos e implementados, esperamos que a situação em Gaza melhore;, acrescentou. ;Queremos ver uma expansão do escopo e dos tipos de bens permitidos em Gaza para atender às necessidades legítimas dos palestinos por assistência humanitária e acesso regular a materiais de construção;, concluiu.

Catherine Ashton, chefe de política externa da União Europeia, também apladiu a decisão de Israel. ;O que importa são os detalhes (do projeto de Netanyahu);, disse ao jornal israelense Yediot Ahronoth. ;Israel deve se certificar de que muito mais bens possam entrar em Gaza, para permitir ao povo reconstruir suas casas, erguer escolas, criar infraestrutura e possibilitar que o povo siga com suas vidas;, comentou ela. Um porta-voz de Ban Ki-moon afirmou que ;o secretário-geral da ONU está estimulado pelo fato de Israel revisar sua política em relação a Gaza, e espera que a decisão de hoje (ontem) seja um passo real rumo às necessidades de Gaza;.

Por telefone, o cientista político Stephen Zunes ; professor da Universidade de San Francisco e autor de A política dos EUA no Oriente Médio e as raízes do terrorismo ; considerou que a flexibilização do bloqueio a Gaza é uma ;demonstração de força de uma ação direta não violenta;. De acordo com ele, a história de ações pacíficas cria uma crise que coloca pressão e permite a vigilância mundial. ;Foi o que a flotilha humanitária atacada em 31 de maio fez: captou atenção internacional às consequências humanitárias do embargo;, explica. ;Isso forçou Israel a suspender, parcialmente, várias restrições de acesso a alimentos e a outras necessidades.;

O especialista considera o Hamas uma ;organização extremista que tem feito coisas horríveis;, mas discorda da forma do bloqueio. ;Não há razão para que o povo de Gaza sofra. Muitos governos e agências humanitárias gostariam de ajudar a reconstruir milhares de escolas, casas e hospitais. Mas é preciso material de construção básico;, conclui.

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