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Europa reforça pressão ao Irã

Bloco continental adota sanções mais rigorosas que as aprovadas pelo Conselho de Segurança

postado em 18/06/2010 08:53
Dirigentes europeus anunciam em Bruxelas restrições a investimentos no setor iraniano de petróleo e gásEm uma ação unilateral, a União Europeia (UE) aprovou ontem os termos que China e Rússia conseguiram tirar da resolução pela qual o Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs uma nova rodada de sanções ao Irã. Um dia antes, os Estados Unidos já tinham acrescentado bancos e empresas iranianas à lista de restrições, inclusive empresas do setor petrolífero. No texto passado ontem, dirigentes da UE também aumentaram a relação de setores da economia iraniana que os europeus deverão boicotar, entre eles a extração de gás. As decisões foram criticadas pelo presidente russo, Dmitri Medvedev, mas o governo de Teerã já disse que seu poderio militar não será afetado.

;Nós não concordamos com isso (sanções adicionais) quando discutimos a resolução conjunta na ONU. Nós deveríamos agir coletivamente. Se o fizermos, obteremos os resultados desejados;, afirmou Medvedev. Mais cedo, o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, disse que seu governo estava ;extremamente decepcionado; com os EUA e a UE. ;(Eles) ignoraram nossos pedidos para que medidas desse tipo não fossem tomadas;, afirmou à agência de notícias Interfax.

Medvedev destacou que, ao contrário de seu país e da China, os EUA não teriam nada a perder com as sanções, pois não mantêm relações diretas com a República Islâmica. Na Europa, porém, a situação é diferente. Segundo diplomatas do continente, países como Espanha, Suécia ; que questiona a eficácia de sanções ; e em especial a Alemanha ; que tem fortes interesses econômicos no setor iraniano de gás e petróleo ; apresentaram resistência a alguns termos da versão europeia do embargo.

Reunidos em Bruxelas, os 27 dirigentes da UE decidiram proibir os investimentos estrangeiros e a transferência de tecnologia e equipamentos ao setor de petróleo e gás, em especial ao refino e liquefação de gás. Os europeus também querem incrementar as medidas contra bancos iranianos e a Guarda Revolucionária, unidade militar de elite. Os detalhes dessas restrições, contudo, só serão determinados em julho. ;Lamentamos profundamente que o Irã não tenha aproveitado as muitas oportunidades que lhe foram oferecidas para eliminar as preocupações da comunidade internacional com relação à natureza de seu programa nuclear;, diz uma nota assinada pelos líderes. A ideia, tanto dos europeus quanto dos americanos, é afetar a principal força do país, que possui a segunda maior reserva de gás natural do mundo e é o segundo maior exportador da Opep.

Autossuficiente
O ministro da Defesa do Irã, general Ahmad Vahidi, minimizou o impacto das sanções da ONU e das medidas adicionais. Segundo ele, as rodadas anteriores já tinham falhado ao tentar minar a ;solidez; do país. ;As potências arrogantes proibiram a venda de armas ao Irã, mas não precisamos de suas armas e poderemos até exportar;, disse Vahidi à emissora iraniana Press TV. ;O Irã é autossuficiente na produção em massa de artilharia, tanques, helicópteros e navios de guerra;, acrescentou. Antes de a União Europeia anunciar a decisão de endureder as sanções, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, alertou o bloco a ;não se deixar levar; pelos EUA. ;Se os inimigos se atrevem a atirar pedras em nós, devem ficar atentos, porque o solo do Irã se voltará contra seus olhos;, ameaçou.

As sanções da ONU

O que foi aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas:
# O Irã fica proibido de adquirir diversas categorias de armamentos, incluindo helicópteros, mísseis e sistemas de artilharia

# Os países-membros da ONU deverão bloquear qualquer transação financeira e congelar os ativos de 40 instituições iranianas relacionadas a atividades nucleares. Bancos implicados diretamente no programa devem ter suas ações proibidas

# Os membros deverão fiscalizar ativamente, em portos e aeroportos de seu território, carregamentos com origem ou destino no Irã, para certificar-se de que não contêm mercadorias proibidas pelos quatro pacotes de sanções

O que os EUA aprovaram a mais
# Proibiram o negócio com 20 empresas de petróleo e petroquímica sob controle do governo iraniano

# Incluíram na lista negra das sanções quatro organizações que fazem parte da Guarda Revolucionária do Irã, além do comandante chefe da Guarda, Mohammad Ali Jafari

# Acrescentaram o Post Bank do Irã à lista de instituições que atuam na proliferação de armas de destruição em massa

# Mantiveram o foco sobre a estatal Empresa de Navegação da República Islâmica (Irisl, em inglês), incluindo cinco empresas de fachada que poderiam ser usadas para burlar as sanções, identificaram 27 novos navios bloqueados e atualizaram o registro de 71 outros que tiveram dados alterados

O que a União Europeia acrescentou:
# Companhias europeias estão proibidas de investir no setor petroleiro e de gás iraniano, além de prestar assistência técnica e transferir tecnologia, equipamentos e serviços relacionados a essas áreas, em particular ao refino, liquefação e tecnologia de gás natural liquefeito

# Ampliou a lista de membros do governo e da Guarda Revolucionária cujos bens e contas bancárias na Europa serão congelados

# Proibiu companhias de seguro e instituições financeiras iranianas de operar em território europeu

# Aumentou as restrições aos intercâmbios de produtos de possível uso civil-militar e proibiu a companhia marítima iraniana, Irisil, de operar em águas europeias

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