postado em 20/06/2010 09:56
Caso os resultados das últimas pesquisas se confirmem, o governista Juan Manuel Santos chegará à Casa de Nariño credenciado para manter a política de combate direto às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Ex-ministro da Defesa do atual presidente Álvaro Uribe, ele goza da preferência de 19,5 milhões dos cerca de 30 milhões de eleitores que deverão hoje retornar às urnas para o segundo turno. Em seus recentes pronunciamentos, deixou claro que prosseguirá com os resgates de sequestrados pela guerrilha esquerdista. Tanto Santos quanto seu rival, o filósofo e matemático Antanas Mockus, descartam negociar com os rebeldes ; ao menos enquanto tiverem reféns em seu poder.O colombiano Vicente Torrijos, professor de ciências políticas e relações internacionais da Universidad del Rosario (em Bogotá), acredita que o novo governo colombiano terá a oportunidade de criar um grande programa nacional de emprego, a fim de que o cidadão se sinta cada vez mais capacitado e fortalecido na defesa da democracia. O conflito(1), que já expulsou 3 milhões de pessoas de seus lares, conseguiu aglutinar o Congresso e a população colombiana em torno de Santos. ;Nunca antes se havia visto um triunfo tão arrebatador em todas as regiões do país. Nunca o Congresso havia demonstrado tanto apoio a um candidato;, afirma, por e-mail, Torrijos, para quem ;esse grande capital não pode ser desperdiçado;.
Com essa concentração de respaldo ao ex-ministro de Uribe, o especialista da Universidad del Rosario espera a continuidade da atual Política de Segurança Democrática, fundada na autoproteção ativa do cidadão e de seu sistema de valores democráticos. De acordo com Torrijos, a paz na Colômbia é ameaçada pela conexão entre as drogas e o ;terrorismo; das Farc e pela ajuda que a guerrilha recebe de governos marxistas vizinhos. ;O melhor que as Farc poderiam fazer frente ao governo é iniciar um processo de submissão à Justiça. E o melhor que poderiam fazer o presidente (venezuelano) Hugo Chávez e seus aliados é deixar de promover o terrorismo como um mecanismo para tratar de expandir sua revolução;, diz o analista.
O costarriquenho Juan Carlos Hidalgo, coordenador de projetos para a América Latina do Cato Institute (em Washington), defende a estratégia de segurança de Uribe no provável governo de Santos. ;Se ela tem funcionado, porque mudá-la, agora que as Farc se encontram no leito de morte?;, questiona o analista, em entrevista por e-mail. ;O segredo é continuar com o resgate de reféns, que tem sido exitoso, e seguir infligindo golpes nos cabeças da guerrilha. Não há espaço para negociação de qualquer tipo;, acrescenta.
Enfraquecimento
Hidalgo lembra que as Farc vêm de um processo marcado e contínuo de enfraquecimento há vários anos. ;Seus principais líderes têm sido assassinados, um número considerável de reféns foi libertado ; incluindo os mais emblemáticos ; e acelerou-se o processo de deserção nas fileiras do grupo, que continua sendo perigoso;, observa. Apesar de reconhecer atentados contra alvos civis e várias cidades colombianas, no início deste ano, Hidalgo acredita que a guerrilha se encontra tão debilitada que chegou a um ;ponto sem retorno;. ;É praticamente impossível que as Farc se reagrupem e representem uma ameaça ao Estado, como eram no início da década passada;, garante.
Torrijos pensa um pouco diferente. Ele crê que a derrota de um adversário armado pode conceber-se de várias maneiras. E aposta que as Farc ainda poderiam negociar sua submissão à Justiça. ;A guerrilha caiu numa espécie de ;reumatismo armado;: ela sobrevive, mas não pode se mover. E é isso o que se entende oficialmente por derrota;, diz. O colombiano salienta que as únicas bases sobre as quais uma ;autêntica democracia; pode contemplar um acordo humanitário envolve três fatores. ;Em primeiro lugar, o fim das hostilidades e dos sequestros; em segundo, a liberdade incondicional para todos os reféns; em terceiro, a deposição imediata das armas.;
1 - Fronteiras fechadas
Para garantir a segurança nacional durante a votação, a Colômbia decidiu fechar as fronteiras com Brasil, Equador, Panamá, Peru e Venezuela, entre 4h e 16h (hora local). As autoridades eleitorais decidiram ainda impor a Lei Seca até após o fechamento das urnas ; a venda de bebidas alcoólicas está proibida. Na região sudoeste do país, 16 mil policiais foram mobilizados para evitar atentados da guerrilha e fraudes. A expectativa é de que os resultados sejam conhecidos no início da noite de hoje.