postado em 20/06/2010 21:15
O exército do Quirguistão retirou neste domingo sem dificuldades as barricadas que bloqueavam o acesso aos bairros uzbeques devastados de Osh, epicentro das recentes ondas de violências étnicas do sul desse país, onde um avião com ajuda humanitária aterrissou.A comunidade uzbeque, minoritária, não ofereceu resistência aos militares durante esta operação, e as autoridades quirguizes não insistiram em desmantelar as poucas barricadas que restavam em pé na segunda maior cidade deste pequeno país da Ásia Central.
O município de Osh tinha dado prazo para até as 12h00 GMT (09h00 de Brasília) de domingo para retirar as barricadas e ameçou, caso contrário, "recorrer à força".
Essas declarações fizeram crescer os temores sobre a retomada da violência, já que as tensões continuam sendo muito fortes entre quirguizes e as autoridades por uma parte e com os uzbeques por outra.
Expirado o ultimato, a maioria das barricadas foram desmontadas sem que a violência fosse retomada, constatou a AFP.
Pela manhã, os veículos blindados afastavam os caminhões, os blocos de concreto e as árvores com as quais as barricadas foram levantadas nesses distritos, os mais afetados pelos confrontos que deixaram centenas de vítimas e um fluxo de refugiados no Uzbequistão.
Em alguns lugares, os habitantes da minoria uzbeque ajudavam os militares, apesar de os acusarem de ter participado dos confrontos com a comunidade quirguiz.
"Restam apenas algumas barricadas em ruas pequenas", afirmou o serviço de imprensa da polícia de Osh à AFP.
Um primeiro avião do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), carregado com ajuda humanitária, chegou neste domingo a Osh, e uma segunda aeronave deve aterrissar com 80 toneladas de material, segundo a agência da ONU.
Esses dois carregamentos são para ajudar em torno de 15.000 pessoas, segundo a Acnur. Em torno de 240 toneladas de ajuda foram transportadas ao vizinho Uzbequistão, que recebeu centenas de milhares de refugiados provenientes do Quirguistão.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, dividiram neste domingo, durante conversa por telefone, suas "preocupações" com as tensões no Quirguistão, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano.
Apesar da precária tranquilidade, o governo provisório quirguiz decidiu no sábado prolongar para até 25 de junho o estado de emergência e o toque de recolher em vigor em Osh e nos distritos vizinhos, medidas que inicialmente deviam ser suspensas no domingo.
As autoridades também prometeram no sábado a um emissário americano abrir uma investigação sobre os choques entre etnias.
Os confrontos que explodiram em 10 de junho pela noite e se propagaram para a região de Jalalabad, deixaram até 2.000 mortos, segundo a presidente quirguiz interina, Rosa Otunbayeva.
Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as violências afetaram "direta ou indiretamente" 1 milhão de pessoas (em torno de 300.000 refugiados que se viram obrigados a cruzar a fronteira com o Uzbequistão e outros 700.000 deslocados internamente).
O Ministério do Interior anunciou neste domingo que deteve 20 pessoas suspeitas de envolvimento com os atos de violência em Osh e iniciou 90 processos criminais por assassinatos e incêndios criminais.